A janela
Certas músicas marcam nossas vidas e nos remetem a um passado distante.
E esta música certamente tocou inúmeras vezes na minha mente.
Talvez um milhão de vezes e até hoje consigo ouvi-la.
Para mim ela marcou a minha vida naquele exato momento.
Eu lembro bem eram tempos difíceis e eu, um jovem adolescente sem experiência nenhuma do mundo lá fora, precisava sair de casa e não tinha outro jeito.
Era preciso frente as situações desafiadoras que a vida estava colocando naquele momento.
Naquela época, já sem o pai pra dar um melhor direcionamento aos filhos, cada um teve que decidir de seu modo o que iria fazer e não foi nada fácil pra todos.
Da janela o horizonte a liberdade de uma estrada eu posso ver.
Difícil pensar em um melhor caminho a seguir em meio a tantas dificuldades vivenciadas.
Mesmo assim, eu tinha que pensar até onde esse caminho iria me levar.
Só mais tarde pude entender que era um caminho sem volta.
Era preciso seguir em frente cada vez mais e o caminho iria aumentando as distâncias cada vez mais.
A música vai dizer que eu às vezes penso até onde essa estrada pode levar alguém.
Ela leva para bem longe e por lugares e situações nunca vividos.
Não tive tempo de pensar em arrepender e nem voltar pois foram várias as vezes eu pensei sair de casa e em muitas delas eu desisti.
Talvez por medo, falta de experiência, falta de estudos, falta de condições de se manter lá fora.
E foi exatamente neste contexto que nos anos setenta eu iria conhecer a cidade grande.
Naquele dia depois de doze horas de viagem dentro de um trem de segunda classe da FEPASA eu chegava na Estação da Luz em São Paulo.
Aquela noite passada foi longa, tenebrosa, tensa e quem disse que eu conseguira dormir.
Um turbilhão na mente não deu trégua nem um momento sequer.
Agora era a hora de pegar um ônibus rumo ao Itaim Paulista onde teria uma nova morada....