A CHEGADA DA GRANDE GELADEIRA BRANCA

A Grande Geladeira Branca posou em frente à praça movimentada… E as bailarinas que vestiam trajes azuis, pararam de dançar e se entreolharam preocupadas com o que poderia acontecer com as inocentes crianças que brincavam em volta.

 

As crianças brincavam em volta… Escorregando pelas telhas dos casarões, caindo de bunda no chão de algodão recém-moldado. Elas tinham asas também… que algum arcanjo certa vez… lhes deixou de presente, e que o Poeta – único adulto responsável presente – assinou recebimento.

 

O Poeta assinara o recebimento e agora tentava criar uma espécie de “Ode ao Amor Definitivo”… quando escutou o barulho alto que “A Grande Geladeira Branca” emitiu ao atingir o chão. Levantando poeira, encaixando-se na vaga de um estacionamento de minivans.

 

As mocinhas e rapazes e aqueles que se definiam da alma pra fora, cantavam sons de Bossa Nova e ainda que impressionados diante da aparição, continuaram a berrar aquelas tais “Canções do Amor Demais” em vã tentativa de conter a ansiedade da mudança inevitável que vinha. Tomando grandes goladas de caipirinhas, misturadas com medicações e frutas… Frutas que existem apenas no inferno… ou no núcleo de vulcões adormecidos… Cantavam canções de amor.

 

Jovens casais apaixonados patinavam em azulejos e em cima deles (APENAS em cima deles) caía uma neve… Que no entanto era morna e feita de água de coco; enquanto o sol brilhava aos restantes. As bailarinas flutuavam a poucos metros do chão, fazendo movimentos graciosos ao som do canto dos pássaros e uma valsa de Strauss que somente elas podiam ouvir.

 

A verdade é que talvez… A Grande Geladeira Branca nem mesmo exista. E ao mesmo tempo que um engasgue de horror brotou dos peitos ansiosos daquelas seres dali…O mesmo engasgue era também seguido de um suspiro e morrido num muxoxo. Junto talvez com uma deseducada cuspidela de tédio no chão. Um desprezo dessa coisa… que podia ser uma nave, mas podia ser… apenas uma geladeira comum.

 

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 01/01/2023
Código do texto: T7684607
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.