A PROMESSA

A PROMESSA

No Japão feudal o Imperador andava triste, embora tudo no reino seguisse a contento: a produção de arroz era suficiente para alimentar toda a população, havia peixes em abundância, as cerejeiras floriam, as gueixas cantavam como nunca antes e seu Reino estava feliz... derrotara e expulsara os galegos incômodos, que estavam a "embranquecer" uma de suas ilhas. Mas, então, o que o incomodava ?! Estava ficando velho, a Imperatriz também e nada de ter um filho... tivera duas belas meninas, lindas princesas, porém mulher "não serve para governar" !

Foi ao templo maior consultar os monges budistas... cumpriu os rituais, fez promessa de uma semana de festas para o povo, tudo de graça, se os Deuses ouvissem sua prece e lhe dessem um filho, másculo, guerreiro, exemplo para suas tropas, corajoso e bom. Tirou um papelzinho da vasilha que lhe apresentou o monge. Leu no bilhetinho, apreensivo, a predição inscrita nele:

"A esperança é como o sol, renasce a cada dia... seu desejo se cumprirá muito em breve. Uma FLOR surgirá na casa imperial: KODOMÔ"! (*1)

Sua Majestade exultou... tratou a esposa real com mais carinho ainda. cercou-a de cuidados extras, contratou mais damas de companhia e malabaristas e músicos para alegrar-lhe os dias. A rainha percebeu... confabulou com sua amiga de confiança, mio cigana, que lia mãos e "tirava cartas" onde se podia antever o Destino de cada um, o Futuro !

A mulher, que era também parteira, pediu tempo para lhe apontar o sexo do futuro bebê, queria definir sem erros nem dúvidas, para não desiludir a Rainha. O imperador a afastara do Palácio, sempre cheio, estressante... enviara a esposa para castelo no interior. Dias antes do parto a "cigana" apalpou o barrigão real e vaticinou, trêmula de medo e emoção: "OTOKONOKÔ" !

A Imperatriz agradeceu aos céus, o Reino estava salvo... logo depois um arauto entrou no palácio, onde o Imperador aguardava ansioso pela notícia do parto, cercado por seus melhores soldados. Ajoelhou-se aos pés de Sua Majestade, baixou a cabeça até o chão e levantou braços e tronco em seguida, berrando a novidade, para que todos ouvissem:

-- "OTOKONOKÔ, meu Imperador... é um OTOKONOKÔ" !!!

Seus samurais bateram as espadas nas armaduras, se abraçaram dando "VIVAS" ao menino, futuro Rei dos japoneses, o esperado substituto do clã dos Hokaido.

O garoto (otokonokô) foi criado entre irmãs mais velhas, sob o olhar carinhoso da mãe-Imperatriz, "brincando de casinha e comidinha", fazendo origami e adorava ter flores nos cabelos, em vez da mini-coroa, tudo longe dos olhos do severo pai, o Imperador. A mãe está preocupada... o menino "é uma FLOR de pessoa", como predisse o bilhetinho no templo, embora deteste espada e lutas e morra de medo de cavalos. Prefere bonecas a guerreiros de terracota, gosta de dançar e cantar e tem trejeitos femininos... não era bem "isso" que o Imperador pediu aos deuses ! BANZAI !

"NATO" AZEVEDO (em 16/dez. 2022, 5hs)

OBS: (*1) KODOMO - filho. O acento final é por minha conta, é como se pronuncia, em Japonês.