Acabou grande em um castelo pequeno demais
As folhas caiam lá fora, o vento do inverno se aproximava, querendo se sobrepor ao outono. Ironia ela nascer em um outono, hoje é tão primaveril que parece que ela própria criou essa estação. Sua mãe caminhava pelo quarto olhando as folhas caírem, estava tão nervosa, ia ter uma menina! Uma menina! Como criaria uma menina?
Quem olhava para ela caminhar de um lado ao outro, mal sabia que estava tão nervosa. Num cair de folhas, estava pronta para ter sua menina, sua princesa.
Desde o primeiro instante era como a chamavam, princesa. Princesa do pai, princesa da mãe, princesa da vó e do vô. Na medida que crescia ia mostrando para o mundo que era tão princesa quanto Valente ou Tiana. Mas sempre carregava consigo uma doçura, leveza e delicadeza que lhe atribuía esse ar de realeza. Aos poucos foi tendo mais irmãos, cresceu rodeada por quatro. Corria, brincava, caia e se sujava, as vezes até conseguiam confundir ela com um deles, mas ela não era tratada assim.
Sua voz começou a se fazer cada vez mais baixa, quase inaudível perto da voz de seus irmãos, eles eram inteligentes, mereciam ser escutados, quando um falava, os outros se colocavam em silêncio. Não havia espaço naquele castelo para uma menina se sobressair, para uma menina se fazer ouvir. Sua voz se perdia pelos cantos do castelo. E para grande ironia e clichê dessa história, ela adorava ficar na torre. Quanto mais baixa sua voz ia ficando, mas tempo ela passava olhando o mundo lá do alto, com seus livros de aventura e seu caderno de poesias.
Os livros a davam poder, quanto mais lia, maior ia ficando, crescia e crescia, sua voz começou a ecoar pelo castelo, se fez escutada, se deu conta da sua voz e de sua grandeza e acabou grande, em um castelo pequeno demais para tudo que podia fazer, para tudo que havia se tornado.