Pele preciosa
- Você é mesmo uma beleza - declarei inopinadamente, quando a garota ruiva entrou na loja.
- Devo me preocupar com o seu comentário? - Indagou ela, receosa.
- Estou apenas sendo sincero - afirmei convicto. - Não, não precisa ter medo; apenas constatei um fato.
- Grata pela gentileza - redarguiu ela, retirando uma pele de foca da bolsa que trazia pendurada no ombro esquerdo. - Preciso que me guarde... isso.
- Cobro dez xelins para o depósito e dez para a retirada - informei, voltando à minha cerebral atitude de negócios.
- É caro - ela ergueu as sobrancelhas ruivas.
- A sua pele vale muito mais do que isso - repliquei.
- Verdade - admitiu. - Está bem, você foi muito bem recomendado; e de qualquer forma, pretendo passar um bom tempo antes de voltar aqui.
Ela depositou a pele sobre o balcão da loja e depois catou dez xelins de prata na bolsa, daqueles com a efígie da rainha Vitória.
- Você vai me fornecer um recibo - ordenou, mais do que pediu.
- Naturalmente - redargui, pegando papel e pena. - Em nome de quem, por favor?
- Séimh.
- Séimh - repeti, escrevendo o nome e o valor pago no recibo. - Aqui está, confira para ver se está tudo certo.
Ela leu cautelosamente e balançou a cabeça, afirmativamente.
- Sim, está certo.
E apontando para a pele que acabara de deixar:
- Onde vai guardar?
- Num cofre, naturalmente; não queremos que algum intrujão ponha as mãos na sua pele, não é?
- Não mesmo - replicou com uma careta.
- Mas, sem querer me intrometer nos seus assuntos, você pretende passar um pouco mais de tempo entre nós, humanos?
- Sim - respondeu simplesmente.
- Encontrou alguém interessante? - Atrevi-me a perguntar.
- Não - ela fez um ar de riso.
E fazendo um gesto em direção à pele:
- Se eu tivesse conhecido, será que deixaria a minha pele com você?
- Realmente, não faria muito sentido - tive que admitir.
Ela apoiou as mãos no balcão e me encarou, bem de perto:
- O que vocês têm que entender, é que não estamos mais aqui somente para passar algumas horas divertidas na cama de algum amante humano... eu, particularmente, vim para estudar numa de suas escolas, e ir tão longe quanto achar que possa ir.
- Por isso vai demorar a voltar - deduzi, sentindo-me ligeiramente intimidado com aquela proximidade.
- Talvez você deva começar a pensar num novo modelo de negócios - sugeriu Séimh, voltando à posição anterior. - Um que não envolva alta rotatividade, por exemplo...
E guardando o recibo na bolsa, acenou-me em despedida antes de sair da loja.
- [12-10-2022]