“Cor de burro fugido”
Que cor é o seu cabelo poeta? O meu cabelo é... Pois é, o meu cabelo é cor de burro fugido, - que diabo de cor é esta Poeta? - Bem... Cor de burro fugido é uma cor difícil de explicar como é exatamente... Vou tentar: seu burro fugiu de casa, e você sai a sua procura, encontra-se com um cavaleiro andante e pergunta: - por acaso não viu por estes caminhos um burro amarelo meio queimado? O inquirido responde todo solícito, antes fazendo outra pergunta: - amarelo queimado? - Não, mas o senhor foi para o sul? Responde você com outra pergunta: - para o sul? Fui não. - Então, eu estou indo para o sul e vou perguntar pelo caminho se alguém viu um burro queimado de amarelo.
Tá certo muito obrigado e você continua ainda caminhando para o norte, mas sem encontrar o paradeiro do animal, resolve retornar e ir para o sul.
Ao segundo homem que encontra pergunta: - Você por acaso não viu um burro perdido passar por aqui? - Sim senhor, já até respondi para um passante que também esta procurando um burro amarelo com as canelas marrom com as orelhas queimadas. - Não deve ser o meu, pois o meu burro é amarelo queimado, e escuta do inquirido: - Há bom, então o outro que perguntou, estava procurando outro burro, está explicado, são dois os burros fugidos, um é amarelo queimado e outro é amarelo de canela marrom e orelhas queimada. Você contesta categórico: - deve ser o meu burro mesmo, eu é que nunca reparei muito nos detalhes, despede-se e continua a caminhar.
Numa choupana de sapê esbranquiçada cercada de pés de milho com espigas secas e amarelas tem um indivíduo sentado num banco de madeira escura, você o cumprimenta e pergunta: - O senhor por um acaso não viu passar um burro fugido, amarelo com patas pretas e orelhas brancas passar por aqui? Vi não senhor, mas o burro tinha um cabresto cor abobora? – O cabresto dele é desta cor, mas não tenho certeza se ele fugiu com o cabresto, deve ser este mesmo, eu é que me esqueci de tirar o cabresto, quer dizer que o senhor o viu? – Ele fugiu de madrugada? Por que este passou aqui era seis horas da manhã, - Fugiu sim, quero dizer, deve ter fugido de madrugada, então o senhor o viu? – Vi não senhor, quem viu foi a Genoveva mulher do Chico Ambrósio que mora naquela casa ali da frente. Pergunte a ela, pois ela é que me contou que viu um burro amarelo meio marrom com patas brancas e uma cruz preta na testa. – Esta bem, eu vou perguntar a ela.
Você chega a próxima casa e vê uma mulher mulata de canelas finas e vestida com saia de chitão bege enfeitada com flores de cor rosa, você a cumprimenta e pergunta se ela viu o burro fugido com cabresto cor de abobora queimado com patas brancas e uma cruz roxa na testa e ela prontamente responde que viu sim este burro passar as seis horas da manhã. Ele diz é o meu burro com certeza e volta a perguntar, a senhora viu em que direção ele foi? - Não, mas eu sei pra onde ele foi, porque o preto que estava montado nele sempre vai ao arraial dos Peida a Toa beber cachaça e prosear com o português dono da venda. - Espere aí, tinha um preto montado no burro de cara cinza? – Tinha, ele é até um preto bem vistoso que fica me olhando com a cara de que tá precisando de mulher. – Então o meu burro foi é roubado, desgraçado deste preto roubou o meu burro de orelha marrom e a barriga branca. Você se despede e se vai pensativo.
Vai direto ao arraial dos Peida a Toa e ao chegar entra logo numa casa com uma placa escrita: “Delegacia Regional de Peida a Toa”, O delegado está sentado num banco cor azul e após os cumprimentos você não pergunta, acusa logo que seu burro branco com patas cor de abobora e cabresto de corda de bacalhau foi roubado por um negro que estava bebendo cachaça na venda do português louro.
O delegado fica pensativo e demora a lhe responder, quando o faz diz: - O senhor está fazendo uma acusação muito séria, o moreno que está na venda do Manuel português que não é louro e sim sarará, é o filho do Antônio e Sá aninha e eu o conheço desde criança, ele é muito valente e se souber que o senhor o está chamando de ladrão, pode mandar abrir um buraco e entrar dentro por que já vai estar morto. Ele é um rapaz direito mas ele é até famoso por ter matado uma porção de bandidos e a policia nem o prende, pois já o conhecemos e sabemos que quando o Saco Roxo mata, é porque o defunto preto, branco ou amarelo mereceu morrer.
Delegado o senhor está me dizendo que ele é o Saco Roxo? Que isto, eu até conheço ele de vista, fiquei sabendo que ele matou quatro arruaceiros que o desafiou no pagode na casa de dona Aninha. - É ele mesmo! Ainda bem que eu vim aqui primeiro, imagine a dona Genoveva falar que ele é que roubou o meu burro cor de rosa. – Um burro cor de rosa? Perguntou o delegado, emendando a seguir, eu nunca vi burro desta cor. – Eu explico, eu o pintei cor de rosa para brincar na festa de ramos e carregar dona Mercedes que fez o papel de Maria, e o seu Marido o preto Sebastião puxou o burro fazendo o papel do Zé Carpinteiro. - Há me lembro, eu estava lá na festa, até me lembro do burro pintado de rosa.
- Pois é senhor delegado vou indo, aqui me faz favor, nem incomoda o moço Saco Roxo com esta besteira não viu? – Pode ficar tranquilo, aquela tal de Genoveva é uma mulher faladeira, fala mais do que lavadeira na beira do rio. Você se despede e sai quase correndo do arraial e se encontra com o homem a quem primeiro você perguntou pelo burro e ele vai logo dizendo: - Estava voltando para lhe contar que achei o seu burro amarelo meio queimado, ele está pastando na beira do caminho. - Porque você não o pegou para mim sô? Por que ele tem as orelhas pretas e o senhor não me falou, vai que não é o seu burro e alguém cisma que eu estou roubando o animal? Esta certo agora eu estou na dúvida, ele tem uma cruz branca na testa?
Então meu amigo, esta é a cor do meu cabelo, um dia está mais claro, outro mais escuro ainda outra vez ficam quase brancos e hoje como pode ver está louro, depende do tanto de tinta que passo nele. Vou indo, - vai com Deus poeta... Gente ele chamou o caipira rimador de poeta, pode? Deixa pra lá uai.