A mulher por trás da parede de vidro

Pontas. Sobre o plano. Afundam. Grãos. Areia. Frio. Líquido. Água. Espuma. Mar. Levantar. Elevar. Um pé. Dois pé. Dois joelhos. Duas pernas. Um corpo. Dois olhos. Olhos estes que se abrem e olham em volta. Uma praia. Rochedos. Vivo. Respirando. Olhos ardendo graças ao sal. Mãos que hospedavam os grãos. Membros que tremiam com a baixa temperatura da água.

Pele íntegra. Límpida e pura. Cabelos. Músculos. Um cérebro pensante e emocionalmente funcional. As peças para fazer um humano funcional e capacitado para viver. Andar enquanto outros temem o resultado do mover das pernas. Ver enquanto outros estão imersos em trevas. Sentir o gosto enquanto os outros denominam tudo o que é estrangeiro de "veneno". Ter coragem enquanto outros se agasalham no conforto do medo.

Tinha valentia. Tinha ousadia em viver. Tinha coragem de mostrar as imperfeitas arestas da sua alma. Não havia receio em suas palavras. Não havia segundas intenções nos seus movimentos. Seus passos não tinham qualquer traço traiçoeiro. Sua mente estava voltada para os atos e ações, e não para as suas possíveis consequências, sejam elas boas ou ruins. Vivia no presente, e não no passado, nem mesmo no futuro. Toda a sua constituição interna se encontrava íntegra. Sem peças faltantes, sem carências, sem rachaduras, sem vazios. Estava completo.

Andava sobre os rochedos. Seus virgens pés esbranquiçados tocavam as ásperas e planas rochas localizadas atrás da areia da praia responsável pelo seu nascimento. Era um recém nascido dando os seus primeiros passos. O frio das rochas era diferente do frio da água da praia. Não era um frio gelado. Era um frio de ausência. Um frio compartilhado pelos inanimados. A antítese do calor recebido e compartilhado pelo coração de carne. Era um frio que o assustava, porém podia manter a compostura graças à vida fornecida a todo momento pelo líquido viscoso e vermelho dentro de seus vasos sanguíneos.

Após passar pelas rochas, o Homem chegou ao mar verde sobre o chão. Vários filetes esverdeados, finos e pequenos receberam a sua chegada em terra firme. Uma fina camada de folhagem verde acobertava o chão de densa terra. Sua pele entrou em sintonia com a celulose por trás das da coloração daquele manto. Seus olhos foram agraciados com a luz fornecida a ele feito um cálice cheio de vida. O cheiro da natureza preencheu as suas recém-nascidas narinas e despertou uma descarga intensa, rápida e sutil de serotonina em seu cérebro. Presenciava o ambiente mais próximo de um paraíso. Tinha dúvidas se podia sentir mais do que os seus sentidos pudessem sentir. Sentia várias coisas dançando sobre sua pele. Ouvia a simplicidade no cantar dos pássaros. Afastava seus olhos das trevas com os raios de luz que se deitavam sobre sua retina. Conseguia sentir o gosto da umidade da floresta dentro da sua boca. O tocar das folhas em seus pés era prova concreta da existência da sua humanidade.

Estava vivo.

Andou pela floresta. Visualizou o máximo que podia com o alcance que seus olhos lhe permitiam ter. Antes, uma mancha horizontal em sua direção, contida sobre as bordas praianas e circulada pela salgada água do mar, era agora o ambiente que o encapsulava. Encontrava-se contido pela natureza. Como se tivesse sido capturado pela boca de uma imensa fera, e caminhava por dentro de suas entranhas, vísceras e camadas de carne. Era parte integrante daquela floresta tropical. Uma floresta que o alimentava, servia-lhe como berço, abrigava-o, o encantava e o seduzia. Seu local de nascimento, crescimento e, num futuro muito distante, executora de seu tão temido, porém não relembrado, ponto final. Onde surgiu, seria onde terminaria. Um ciclo tão imutável quanto ferro. Desafiar aquela ordem, aquele destino, era um afronta contra a ordem natural de sua realidade. Não tinha forças para aquilo. Não tinha forças para desafiar a natureza. Não era capaz de alterar as cordas responsáveis pelo regimento da melodia de sua jornada. Era refém, mas ao mesmo tempo autor. Autor dos seus dizeres, dos seus pensamentos, das suas ações e das suas próprias consequências. Preso, porém livre.

Após alguns minutos desbravando o mundo ao seu redor, o Homem percebeu um ponto incomum. Um instante fora da curva. Uma cor estrangeira. Uma cor estranha. Uma cor que não estava em consonância.

Um pequeno porém denso vermelho.

Vermelho que gritava, diferente do verde que sussurrava e cantava. Vermelho que acelerava o seu coração, diferente do verde que o acalmava. Vermelho cujo olhar lhe prendia, diferente do verde que o libertava. Vermelho que lhe despertava o desejo, diferente do verde que o livrava da cobiça. Vermelho que lhe despertava ferocidade, diferente do verde que o tornava são e racional.

O vermelho entrava pelas suas pupilas e era carregado pelo sangue visitante de suas artérias retinianas até o seu cérebro. O centro da sua visão se convergia para o artefato endurecido que emanava aquela quente luz. Uma luz que reluz e reduz seu raciocínio. Um raio luminoso, alisando seu rosto e chamando-o pelo nome. Clamava pela sua atenção de um jeito silencioso, mas ao mesmo tempo gritante e ameaçador.

O Homem prosseguiu até aquele ponto vermelho. Seu andar, antes coordenado e civilizado, se tornou cambaleante, desajeitado e arrastado. Seu enxergar afunilou-se, visando apenas a visão voraz do vermelho vibrante. Sua boca, antes umidificada pela umidade da floresta, encontrava-se densamente seca e pálida, como se nunca tivesse conhecido líquido algum durante toda a sua existẽncia. Seu nariz era seduzido pelo doce aroma de cereja proveniente do ponto avermelhado. Seus ouvidos, afogados pelo zumbido, tornaram-se alheios ao canto dos pássaros e do balançar das folhas. As mãos, antes obedientes aos comandos vindos do seu cérebro, rebelaram-se. Eram independentes, e buscavam apenas o toque do artefato vermelho na floresta, nada mais.

Era escravo daquele ponto vermelho. Vivia com o propósito de tocá-lo, conquistá-lo, amá-lo, armazená-lo, tomá-lo como tesouro. Esquecera de sua identidade, da sua constituição, da sua humanidade. Era atrelado ao ponto vermelho. Sua vida pertencia ao ponto vermelho. Submisso ao ponto vermelho. Havia um buraco em sua alma, pronto para ser preenchido por ele. Um buraco surgido de forma espontânea. O Homem não tinha noção da existência dele até ver aquele ponto.

Quando finalmente se aproximou, viu o autor daquela quente luz: Um rubi. Um pequeno rubi, do tamanho de uma falange distal de um polegar. Uma jóia de perfeito desenho. Simétrica, íntegra, plana e perfeita. Uma gota de perfeição. Exalava uma aura simpática, enrolando-se em volta do seu pescoço, roubando-lhe o ar e a capacidade de respirar. Beijava-lhe a bochecha, suspirava em seu ouvido. Alisava seu rosto, o pescoço, o braço e o antebraço, o punho, a mão, os dedos, as pontas… Puxava-lhe em direção ao rubi. Mesmo puxando-o pela ponta e conduzindo-o de forma lenta, era um intenso puxar do qual não poderia escapar ou resistir. Chamava-o. Implorava pelo seu toque. A jóia queria ser sua. Queria ser sua posse.

As pupilas do Homem foram preenchidas pelo vermelho sedutor. Estava pronto para capturá-la. Coroava-se o rei daquele artefato.

Enquanto o Homem presenteava a jóia com carne, esta presenteou o Homem com ferro.

Abaixo de sua posição, emergiram linhas. Fios. Finos fios acinzentados. Quando as pontas capturaram seu ser, sentiu um frio. Um frio mais profundo e gelado que o frio que sentiu ao pisar sobre as rochas na praia.

Metal.

Aquele frio amedrontou seu coração. Encontrava-se preso, sob as linhas metálicas vindas daquele rubi. As afiadas pontas perfuraram sua pele tal qual agulhas. Invadiram sua epiderme. Derme. Tecido conjuntivo. Músculos. Ossos… Até chegarem na alma. Seu espírito foi atormentado pela presença daqueles assustadores fios. Ao mesmo tempo que roubavam-lhe todos os elementos vitais para a manutenção da sua existência, ele trocava-os por coisas ruins. Palavras desagradáveis sobre sua existência. Tortuosas e mal concebidas concepções sobre o mundo à sua volta. Uma esmagadora aversão à esperança Um paralisante e incapacitante medo generalizado. Uma tristeza constante, capaz de azedar as doçuras instiladas pelo prazer. Um denso vácuo, ocupante eterno do espaço reservado aos sonhos e propósitos.

Aqueles fios roubavam a sua humanidade. Tiravam o seu status de ser humano. Não podia se sentir mais igual a um homem. A força de seus braços diminuía de forma rápida e progressiva, como se seus músculos fossem drenados de seu corpo. Suas pernas encolhiam e atrofiavam. Desaprendeu a andar, e esqueceu de como era a sensação de andar. A pele tornara-se viscosa e esverdeada, com bolsas de gordura acumulando-se sob ela. Seu corpo perdia as linhas próprias de sua constituição, tornando-se um mero resquício grotesco do que antes era.

Materializou-se em um verme.

Graças à viscosidade de sua pele, conseguiu deslizar para escapar dos fios frios de metal que podavam a sua liberdade. Foi condenado a rastejar na terra, juntamente com outros seres tão insignificantes quanto ele. Desprovido de todo o amor. Todo o amor direcionado à ele mesmo e dele direcionado aos outros.

No decorrer do seu rastejar sobre a terra, vários pensamentos invadiram sua calota craniana. Pensamentos de tristeza. Angústia. Ódio. Desesperança. Desolação. Desânimo. Pensava ser um verme não merecedor de amor. Não tinha amor para entregar aos outros. Via-se como um ser vazio, raso, horripilante, amedrontador, hostil e assustador. Uma monstruosidade como era incapaz de sentir amor.

O rastejar sobre a terra não lhe conferia o mesmo calor ao pisar seus pés sobre ela. O canto dos pássaros era como um ranger de dentes, uma tortura para sua aurículas. O verde da floresta era azedo e cinzento. A força lhe conferida no nascimento foi substituída por um tônus quase inexistente. O sabor da umidade da floresta tinha gosto de ferro enferrujado sobre a sua língua. O cheiro do frescor entrava em suas narinas e lhe concedia um sentimento de nojo fornecido apenas pela mais podre das carnes abandonadas.

Era apenas uma barata imitação do ser que havia sido. Sua vida recém criada era apenas uma vaga lembrança distante. Quanto mais tentava se lembrar, mais embaçada as imagens se tornavam. Todos os sentimentos escapavam de sua mente feito fumaça. Um olhar sobre uma poça de água o assustava com a assombração que se materializava na forma do seu rosto

Permanentemente amaldiçoado. Sentenciado ao viver tal qual um verme.

***

Um murmúrio. Um suave murmúrio. Um murmúrio não muito grave. Quase que totalmente agudo em sua composição. Calmo, tranquilo e delicado. Um som reverberando por sua alma. Aquecendo seu coração. Iluminando seus ossos. Dando-lhe energia. O único som incapaz de despertar ojeriza em seu ser ao adentrar seus canais auditivos. Delicioso som, capaz de deliciar seu depreciado dom de ser deliciado por tudo denominado como doce.

Era alto. Era nítido. Era intenso. Sabia onde poderia achá-lo. Tentou rastejar até ele. Um murmúrio fortalecedor de toda a carne enfraquecida de sua miserável existência. Uma simples tarefa vista como um efêmero, porém motivador propósito.

À medida que rastejava, conseguia sentir explosões de força muscular surgirem em seu corpo. Cada rastejar era mais fácil que o anterior. Cada progresso em sua locomoção ocorria de forma mais natural que o anterior.

Não sentia uma volta real do seu devido andar próprio de homem humano, porém aquilo lhe dava uma certa esperança.

Ele chegou mais perto da fonte. Sentia perfume. Doce perfume. Um calor aconchegante. Sentia luz. E ele a achou…

Uma mulher.

Ela se banhava com a cristalina água proveniente de uma jarra de barro. Não era muito grande. Podia levantá-la sem dificuldades. A água encharcava seu rosto fino, de beleza contida, sem exageros ou traços protuberantes. Podia desfrutar do observar da beleza daquele rosto, sentindo todas as emoções doces em sua cabeça e todo o ardor da paixão em seu coração. Seu corpo branco refletia toda a luz do sol que incidia sobre ele, como se estivesse pintado por um manto de ouro. A única coisa usada por seu corpo para cobrí-lo era um vestido rosa claro. Seu carvão tinha uma coloração tão preta quanto carvão, e tão denso em volume, tal qual uma cachoeira.

Sem nenhum sinal de alarde, a moça virou seu molhado rosto para o verme, e sorriu para ele. O verme, antes um homem, sentiu aquele olhar servir de faísca para a chama do amor que despertou por aquela moça.

Sentir aquele amor foi, de início, estranho. Como poderia uma criatura vil e horrenda como ele sentir aquilo? No entanto, não demorou para aquele sentimento cair sobre suas vias nervosas como tentáculos de uma assombração do mar. Estava dominado, e não tinha forças para resistir. Além disso, não queria resistir. Queria deixar o controle. Queria esquecer da sua constituição. Queria viver em função daquele sentimento.

E foi o que fez. Ele rastejou rapidamente e intensamente em direção à mulher de rosa. Não tinha mais atenção para sua visão periférica. Só o ser em seu centro interessava. Era seu objetivo. Sua esperança. Seu norte.

O encontro tão cobiçado, porém, foi repentinamente interrompido. O progresso do rastejar do verme foi brutalmente interrompido por algum tipo de barreira. Uma barreira invisível. Ele pousou suas mãos sobre a parede entre ele e a moça de rosa. Era dura, porém transparente.

Vidro. Tinha a resistência e a superfície características daquele material. Questionava a existência daquela barreira entre eles, e a justificativa para esta. Tentou quebrar a barreira. Fechou suas mãos e jogou-as sobre a parede transparente. A moça colocou a jarra de barro sobre o chão e pousou as mãos sobre a parede, mais precisamente sobre a região que recebia os golpes do verme. Seu rosto abandonou o tom sereno de quando o viu pela primeira vez e o substituiu pelo desespero. Ansiava pelo encontro com aquele verme. Queria tocá-lo. Queria ouvir a sua voz. Queria abraçá-lo.

Aquela expressão, apesar de encorajadora, não foi um incentivo forte o bastante para lhe dar forças. A cada golpe desferido, a força do verme diminuía. O golpe seguinte era mais fraco que o anterior. Sentia-se cansado, fraco, desesperançoso. Suas pálpebras estavam pesadas. Se esforçava para poder levantar seus braços. No final, não conseguia aguentar mais. Sucumbiu à fraqueza. Caiu sobre a terra abaixo do seu corpo. Sua visão se afunilava. Era o seu ponto final.

Ao mesmo tempo do fechamento absoluto da sua visão, viu uma fumaça emanar do rosto da moça. Uma densa fumaça, sendo capaz de replicar o rosto daquela beldade. Aquela imitação entrou no túnel formado pelo degradar da sua visão. Ela ficou à frente do seu rosto. Acariciou ele. Deu-lhe um momento de tranquilidade antes do último partir. Ela sorriu um sorriso doce e inocente. Por fim, calmamente ela se aproximou de seu ouvido, e com todo e carinho e amor que aquela cópia poderia entregar, ela sussurrou:

"Quebre-a. Quebre-a por mim"

As trevas foram afastadas. O túnel foi aberto e quebrado. Antes de qualquer pensamento ser costurado em sua mente, os braços do verme se levantaram e suas mãos fechadas voltaram a golpear a parede de vidro. A cada golpe, no entanto, sua força aumentava. Aumentava em consonância com o aumento da sua massa muscular. Seus braços recuperaram a cor antes vestida por sua antiga casca de homem. Recuperaram os pêlos, as unhas, as linhas das palmas das mãos. O fundo cego do seu corpo de verme crescia, formando dois inchaços. Estes cresciam rapidamente, endurecendo ao mesmo tempo do crescimento e consolidação de seus ossos. Sentia um alívio sentir novamente suas pernas e poder andar novamente como um homem.

Usou seus recém-recuperados membros inferiores para se levantar, para assim golpear melhor a parede de vidro entre ele e a mulher de vestido rosa. Após 03 golpes em pé, ele olhou ao redor, e observou cicatrizes em seus braços. Cicatrizes condizentes com os locais abraçados e arranhados pelos fios de metal do rubi. Linhas claras sobre pele. Alguns segmentos ainda ardiam em dor, feito carvão reluzente e quente sobre carne viva. Olhou para o seu corpo humanóide, e antes de sentir uma jato de felicidade ao vê-lo novamente, deparou-se com a continuidade daquelas linhas pelo seu tronco e membros inferiores.

Por fim, voltou seu rosto para a parede em sua frente. Via com nitidez o seu rosto humano novamente. Sentiu-se demasiadamente feliz ao ver seu rosto. Sentia-se acalmado ao se ver como um homem novamente… E entristecido por ver aquelas marcas poluírem o seu rosto. Marcas cravadas em sua pele, e carregadas até o final de sua vida. Lembrou-se de todas as sensações e emoções ruins vividas enquanto transformado em verme. Paralisou-se ao se afogar nelas novamente. Teve a grandiosidade do seu ser inferiorizada novamente, mesmo acontecendo internamente…Isso até o foco dos seus olhos vencer o seu reflexo e observar a expressão facial da mulher rosada.

Ele viu a sua expressão mudar lentamente de um desespero para uma felicidade quase ansiosa. Ansiava por aquele encontro. Estava feliz em ver a verdadeira essência do verme. Suas mãos repousavam sobre a parede, estabilizando a sua posição de atenção. Não esperava por outra coisa além daquela. Viu o verme morrer e dar lugar ao verdadeiro ser daquele corpo. O homem foi impactado por aquele olhar. Um esvoaçar surgiu no seu abdome. Movimento intenso, alastrando-se para seu coração. A sua bomba de carne acelerou o ritmo, a fim de transferir o esvoaçar para os braços. O fenômeno fortaleceu os músculos do homem. Ele retirou as mãos fechadas da superfície de vidro. Lançou os braços para trás e, em seguida, catapultou-os para a parede.

Em um único impacto, a parede se quebrou e foi convertida em milhares de pequenos e finos pedaços. O som da sua quebra ressoou nele tal qual um trovão recém-nascido. O homem não poderia acreditar na quebra daquele obstáculo, muito menos no fato da mulher rosada estar, finalmente, alcançável. Estava encantado pela sua beleza e toda a aura emanada dela. Decidiu se curvar à ela. Achou adequado mostrar reverência à mulher responsável pela sua liberdade.

A mulher rosada ficou lisonjeada com tal gesto. Optou por premiar o homem. Ela pegou a jarra de barro, com um pouco de água limpa em seu interior e derramou delicadamente aquele líquido sobre o humano. O Homem surpreendeu-se com tal ato. Ele observou o surgimento de uma poça sobre a terra vista por seu rosto. Nela, seu rosto apareceu livre de quaisquer cicatrizes, marcas e lembranças cutâneas de traumas passados. Aquele conjunto de emoções e sensações ruins se converteu numa lembrança à beira do esquecimento. Ele levantou o rosto, e a mulher rosada pousou sua mão sobre ele. O acariciar do seu rosto molhado foi suave, sem descontinuidades, pontadas de dor ou depressões cutâneas.

Ela esboçou um sorriso. Havia testemunhado o nascimento de um novo homem.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 27/09/2022
Código do texto: T7615144
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.