A chegada dos Duginokti
Eu e Mladen, exaustos, sujos e famintos, emergimos da floresta e começamos a caminhar pelos campos rumo a um vilarejo que ele sabia existir por ali.
- Isso, se não tiver sido destruído pelos Duginokti - comentou, em tom lúgubre.
Os Duginokti haviam destroçado nosso regimento com facilidade; nossas espadas e flechas pouco ou nada valiam diante da força, da resistência e da agilidade daquelas criaturas medonhas. Somente armamento pesado conseguia deter o avanço deles, mas o reino era pacífico e nunca havíamos tido necessidade de investir em máquinas de guerra que nos pareciam desnecessárias; isso até a chegada dos Duginokti.
- A colheita ainda não parece ter começado - observou Mladen, enquanto seguíamos por uma estrada margeada por campos de cevada.
- Talvez os camponeses tenham fugido com a aproximação dos Duginokti - ponderei.
- Não sei... algo aqui não me parece certo - redarguiu ele, olhando ao redor com suspeição.
Mais adiante, vimos um campo onde havia sinais de atividade humana recente: grandes molhos de cevada cortada haviam sido empilhados para serem recolhidos. E, passando entre eles, vimos uma mulher e uma menina pequena. Acenei. A mulher pareceu assustada com nossa presença, pegou a menina nos braços e saiu correndo para dentro da plantação.
- Por que ela fugiu? - Questionei surpreso.
- Acho que não era de nós que ela estava se escondendo - replicou Mladen, me puxando pelo braço para trás de uma pilha de talos de cevada.
Olhei cautelosamente por trás da pilha na direção indicada po ele, e vi um grande Duginokti, negro e solitário, talvez três metros de altura, as mãos ossudas com garras afiadas apoiadas no chão. Sua cabeça pontuda girou vagarosamente de um lado para o outro, como se estivesse nos farejando. Finalmente, depois de um tempo que nos pareceu uma eternidade, começou a se deslocar paralelamente no sentido contrário em que estávamos indo. Já ia distante pelo menos uns 100 metros, quando a mulher com a criança emergiu da plantação e parou, no descampado.
- O que aquela idiota está fazendo ali? - Resmungou Mladen. - Se o monstro a vir, a engole em segundos!
A mulher olhou diretamente para nós e depois, virou-se para o Duginokti que se afastava.
- Mas que diabos... - murmurou Mladen, mão no cabo da espada.
E foi então que ela gritou, apontando com o braço em riste na nossa direção. Ao ouvir o barulho, o Duginokti virou-se, e veio célere em nossa direção. A última coisa de que me lembro, foi uma grande sombra negra passando sobre mim. Depois, tudo ficou escuro.
- [23-09-2022]