Astral (Capítulo 2)

— Ahhhh, eu já vou!

Tétia já estava enrolando sua mãe por quase vinte minutos, mas finalmente não teve mais como seguir com isso. Foi ao supermercado fazer o que a mãe tinha pedido.

Andava cantarolando, a menina, enquanto seguia até o mercado, comprar algumas coisas para sua casa.

No meio do caminho, Tétia sentiu uma sensação que nunca tinha sentido antes.

Ela olhou pra um lado, buscando algo que nem sabia o que era. Olhou pro outro, mas nada. Até que olhou bem pra frente, e a sensação que sentia palpitou tão forte que fez sua mão esquerda vibrar. Começou a buscar, com os olhos, bem concentrada, algo que fizesse sentido... até que achou...

Na sua frente, Ada.

— O que... essa menina tem? — Perguntou Tétia a si, enquanto fazia caras e bocas, parecendo uma investigadora.

Decidiu ir atrás...

Enquanto Tétia andava por meio de algumas pessoas e alguns postes, Ada parecia meio perdida nos pensamentos, tão relaxada...

Ada pensava em tantas coisas, perdida, nos pensamentos profundos de sua cabeça (e quão profundos eram).

Então, uma mão em seu ombro.

— AHHHHHHHHHHHH! — Ada.

— AHHHHHHH! — Tétia.

Parece que, com o toque de Tétia no ombro de Ada, além do susto, Ada sentiu uma sensação parecida com a sensação que Tétia tinha sentido ao vê-la, mas muito mais forte, que entrou pelo tornozelo e correu vibrando até a ponta dos cabelos.

— MEU DEUS DO CÉU, QUEM É VOCÊ?! — Interrogou e exclamou Ada.

— Calma, calma!

— Que susto, menina!

— Hahahahah! Calma... — Apaziguou Tétia.

— Nossa...

— Então... É... — Pausava Tétia — Eu te conheço?

— Ah... não? Eu acho que não... — Dizia Ada.

— É que... eu sei que vai parecer estranho, mas eu senti uma sensação estranha quando olhei pra você...

— Olha, moça, se isso for uma cantada, é que na verdade eu não tô buscando conhecer ninguém assim atualmente...

— Não! Não é isso, sério! Se fosse, eu não usaria cantada, eu seria mais direta. — Exclamou Tétia sem vergonha alguma na fala.

— Ah...

— É que... foi uma sensação que nunca senti antes, e que não sei explicar. Sei lá, vai que a gente se conheceu há muito tempo e eu não lembro. De qualquer forma, desculpa. Haha. — Disse Tétia, pondo a mão no ombro de Ada enquanto se despedia.

No momento em que a mão de Tétia pousou no ombro de Ada, a sutil capricorniana sentiu algo...

— O que... — Vagou nos pensamentos.

— Moça, espera...

— Hum? — Disse Tétia, enquanto virava para trás.

— Eu... — Ada parecia querer encontrar algo enquanto olhava para o corpo de Tétia.

Em silêncio, Ada ergueu a mão, e tocou no braço de Tétia.

E mais uma vez, a sensação. Dessa vez, nas duas.

— Uoou! — Exclamou Tétia — O que foi isso?

— Exatamente! Foi o que senti quando tocou no meu ombro...

— Ah... — Sussurrou Tétia, levemente boquiaberta enquanto olhava pra baixo...

— Eu acho que...

— Sim! Só pode ser!

Interrompeu Tétia.

— Nós somos irmãs gêmeas separadas na infância!

— Ahh... — Suspirou Ada, num ar de "sério?" — Não somos gêmeas, moça...

— Claro que somos! Olha, adivinha no que eu tô pensando!

— Eu...

— Vai!

— Eu não sei...

— Viu?! — Exclamou Tétia — Exatamente! Eu ainda não tinha pensado em nada!

— Moça, nós não somos gêmeas porque não temos nada a ver... fisicamente. — Dizia Ada olhando pra os lados...

— Ah... — Disse Tétia com ar de decepção.

— Eu não sei quem é você, mas...

— Tétia! Pode me chamar de Tet!

— Tá... Eu não sei quem é você, Tet, mas parece ter algo aqui. Talvez alguma coisa biológica. Alguma coisa sobre os seu genes, e os meus.

— Não, não, não... — Dizia Tétia balançando o dedo, de olhos fechados, e com um leve sorriso, num jeito de sabe-tudo.

Ada olhava atentamente, confusa.

— Isso aqui tem tudo a ver com magia.

— Ahh... — Suspirava Ada, impacientemente.

— Wix. Já assistiu?

— Quê?

— Wix! — Exclamava Tétia — Aquele desenho das meninas, que parecem fadas.

— Winx.

— Isso!

— Nós não somos as Winx, Tétia.

— Não, nós somos as novas Winx!

— Hmm... — Bufou Ada.

— Olha, você não tá acreditando. Parece ser uma pessoa cética. Mas acredita em mim...

Tétia olhava pra os lados...

— Pega, coloca seu número aqui, eu tenho que ir. — Fala Tétia, enquanto entrega seu celular a Ada.

Ada anota seu número, e Tétia sai, num piscar de olhos, sem deixar vestígios...

Flynn está andando na calçada, depois de comer um pedaço de pão que ficou na mesa de uma padaria.

Alegre, ele pula entre uma pedra e outra, sorrindo sempre que consegue aterrissar sem encostar os pés nas bordas.

Ele não sabia que aquele dia seria difícil de tirar da mente...

— Ei! — Grita um homem.

Flynn olha pro lado.

— É você!

Flynn desesperadamente corre. Era o homem da noite anterior, o dono do churrasco.

O garoto sabia se esconder muito bem, mas era péssimo em correr. Não demorou muito pra o homem o pegar.

— Vem aqui seu... — Grunhiu o homem, dando um chute na barriga de Flynn — merdinha!

Flynn caiu no chão, pondo a mão na barriga.

— Você tá feliz agora? Não? Mas você devia tá ontem, quando roubou aquele espeto de churrasco, né?

O homem deu um chute na costela de Flynn, que gemeu de dor.

— Agora vem aqui... — Disse o homem enquanto pegava Flynn pela gola da camisa — Você vai aprender a não pegar mais o que não é seu.

O homem ergueu sua mão fechada, bem apertada, que dava até pra ver as veias, e socou.

Mas no caminho do soco, uma outra mão apareceu e segurou o braço do homem.

Era Zock.

— Que porra é essa? Batendo em criança?

Flynn olhava pra os olhos de Zock, como quem olha pra um anjo.

— Quem porra é você? Vaza daqui! — Dizia o homem selvagem.

Mal deu pra soltar sua última frase, pois Zock chutou sua perna, o derrubando no chão.

Zock chutou a cabeça do homem.

— EI, pera, caralho!

— Qual é a sua idade? — Interrogou Zock — Esse roxo no menino, foi você?

— Não, pera aí, eu..

Foi interrompido por outro chute que Zock deu.

— Sai.

O homem se levanta, e corre rapidamente, já percebido que sua força não comparava suficiente à força de Zock.

— Presta atenção, toma cuidado. — Fala Zock, enquanto vai saindo, andando tranquilamente, sem mesmo mudar sua feição.

— Qual...

Zock olha pra trás.

— Qual o seu nome? — Perguntava Flynn, que quase nunca falava.

— Zock. — Respondeu o aquariano, que depois voltou a andar.

Alguns minutos depois, Zock estava andando numa calçada ao lado de um prédio alto, de parede vermelha, enquanto fumava um cigarro. Até que sentiu uma sensação estranha, de quem estava sendo seguido. Quando olhou pra trás, viu Flynn tentando se esconder atrás de um poste.

— Isso é você tentando se esconder?

Flynn permaneceu calado.

— Não me segue.

Zock continuou andando.

Mas não durou mais de vinte segundos pra olhar pra trás de novo, e ver Flynn.

— O que você quer?

Flynn foi chegando perto de Zock, e disse.

— Eu não tenho medo...

— Hum? — Estranhou Zock.

— Eu... — Continuou Flynn — Eu não tenho medo quando eu tô perto de você.

O que Flynn tentava dizer, mas não conseguia, é que, além de obviamente se sentir protegido perto de Zock pelo aquariano saber lutar, ele sentiu uma sensação boa, de tranquilidade. Até mesmo segundos após o homem escroto ter o espancado, parece que ele sentia menos as dores do corpo.

— Olha, eu não vou ser seu guarda-costas.

— Você não precisa... — Falou Flynn, baixinho.

— E nem vou arranjar comida pra você. Você não é meu filho, e eu já não tenho tudo isso de comida pra mim.

— Não precisa. Isso eu mesmo arranjo... eu só quero... sentir que você tá por perto...

Quando Flynn falou isso, Zock sentiu algo estranho, seus olhos brilharam, mas não demais, só o suficiente. Ele continuou sério, mas, enquanto olhava para Flynn, sentiu certo elo, que o fez querer pôr a mão direita em cima da cabeça de Flynn.

— Hum... — Murmurou Zock, e quando tocou nos cabelos de Flynn, sentiu um choque em seu corpo, fazendo-o tirar a mão rapidamente.

— Só não fica muito perto, — Falou Zock num ar de esquiva — a gente não é amigo.

Zock virou pra trás, e continuou andando, sério.

Flynn, por outro lado, deu um leve sorriso, mas muito rápido o fechou, a fim de que ninguém visse a expressão.

Ano: 2022.

Cidade: Murr Ley, próxima a Serkel.

Hora: 12:01

Numa rua estranha e fedida, cheia de água pelo chão, um homem de camisa laranja permanece sentado numa grande pedra.

— Ei. — Fala em alto e bom som um outro rapaz que entra na rua. — Por quanto tempo você acha que pode sair ileso?

— Hum... — Murmurou o homem de camisa vermelha.

— Eu não tenho mais paciência com você. Seu caminho se encerra aqui.

O homem que chegou depois saca uma arma, e aponta pra o homem de camisa laranja.

Antes que possa atirar, o homem de camisa laranja se levanta rapidamente e faz alguns movimentos abruptos com a mão, criando uma bola de fogo do tamanho de uma cabeça, e jogando no homem com a arma.

No susto, o homem atira, sem mira nenhuma, e a bola de fogo o atinge. A camisa do homem da arma começa a pegar fogo, queimando todo o seu peitoral e o fazendo correr pra trás, gritando, e se batendo, tentando se apagar.

O homem de camisa laranja vira para o lado, e vai embora, até entra em outra rua e desaparecer.

Luggos. Sagitariano. 32 anos. Cabelos escuros e médios, na altura do ombro. Olhos escuros. Personalidade desconhecida.

BrunoCosta
Enviado por BrunoCosta em 10/09/2022
Código do texto: T7602375
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