O pretendente
O poderoso clã Gajda era conhecido na região de Vélika Livadá por suas belas mulheres; e também pelo fato de que qualquer homem que resolvesse entrar para ele e desposar uma das Gajda, deveria assumir o nome do clã e abdicar do seu de origem. Os Gajda formavam uma comunidade matrilinear. Outra peculiaridade é que as Gajda davam à luz somente a mulheres, fenômeno que ocorria há várias gerações e cujo surgimento era envolto em mistério.
- É suficiente saber que foi uma promessa feita por uma de nossas antepassadas à deusa Punótcha - explicou laconicamente a matriarca Vidna Gajda ao pretendente Ilko Bjelica, de Zelena Dolina. O rapaz havia apresentado oficialmente seu pedido à mão de Petra Gajda, após esta ter manifestado interesse por ele.
- Não sei como abordar este assunto, - enunciou Ilko cautelosamente - mas lá em Zelena Dolina correm boatos sobre o que acontece se um bebê do sexo masculino nascer no seu clã...
Vidna Gajda ergueu os sobrolhos, mas não pareceu surpresa pela observação.
- Deixe-me ver se adivinho: que os varões são sacrificados à Punótcha? - Inquiriu em tom gélido.
Ilko balançou a cabeça, nervosamente.
- Nós, Gajda, não somos gente bárbara - replicou a matriarca. - Isso nunca aconteceu simplesmente pelo fato de que, desde que o pacto foi firmado com a deusa, nenhum menino nasceu do ventre de uma Gajda. Por isso, sempre estamos trazendo homens de fora para se juntar ao nosso clã e perpetuar nosso nome.
Ilko ainda não parecia totalmente convencido.
- Sim, compreendo que a grande Punótcha tenha o poder de impedir uma gestação indesejada, mas, vamos supor que, ainda assim, por uma falha qualquer, a gravidez de um menino vá até o fim. O que aconteceria?
A matriarca entrelaçou os dedos magros das mãos e encarou o pretendente antes de falar.
- Há uma resposta para a sua pergunta, mas para saber qual é, você precisa antes se tornar um Gajda - declarou.
- Ou seja, se eu me casar com Petra, saberei dos segredos do clã Gajda - avaliou Ilko.
- Saberá todos os segredos cuja revelação é permitida aos homens Gajda - corrigiu a matriarca. - Há outros que somente às mulheres é permitido conhecer.
- Parece justo - acatou o pretendente. - Peço que me permita fazer parte dos Gajda como marido de Petra.
- Essa entrevista é só a parte inicial do processo - redarguiu Vidna Gajda. - Você será submetido à uma avaliação física para saber se possui as qualidades que buscamos num homem Gajda.
- Qualidades... numa avaliação física? - Questionou Ilko.
- Nós estabelecemos os parâmetros e não cabe a você questionar - retrucou a matriarca com um meio-sorriso. - Exceto se quiser desistir do processo.
Ilko ergueu as mãos num gesto defensivo.
- Não, de forma alguma; Petra é muito importante para mim. Desculpe se faço tantas perguntas, mas é que tudo o que cerca o clã Gajda é tão... misterioso.
A matriarca pareceu relaxar ligeiramente ao ouvir a justificativa. Inclinou-se na direção do pretendente, sentado à frente dela num escabelo que o colocava abaixo da linha de visão dela.
- Não posso dizer que estou ouvindo estas perguntas pela primeira vez; ou que não tenham sido proferidas por outros candidatos ao longo de gerações. O que importa é que todos eles aderiram de corpo e alma ao nosso jeito de ser e de viver, se tornando tão Gajda quanto nossas mulheres o são por direito.
E estendendo a mão, ornada de anéis, para que Ilko a beijasse, deu por encerrada a entrevista.
- [Continua]
- [31-07-2022]