É pau, é pedra - BVIW

Tema: Escolher uma canção e criar um conto embalado por ela.

 

Acontece que Clarinha e Linda foram diminuindo, diminuindo, diminuindo… Elas não sabiam ao certo se diminuíam ou se foi o mundo inteiro que crescia, agigantando-se. A culpa foi do bichano da Clarinha, o Sisudo. Ele levou as amigas até o parque e lhes mostrou aquela flor, com o pólen alaranjado,  que a tudo coloria. Era um lírio cheiroso e matizante. Foi ter contato com o pólen e a magia começou. Começaram a espirrar, por causa da coceira no nariz e na garganta. A cada espirro, alguns centímetros a menos. As amigas se abraçaram por causa do medo que sentiam, depois cada uma pegou uma grande folha de plátano e as fizeram de skate, descendo a rua com toda a velocidade. Mas não contavam com um quebra-molas… esse as arremessou longe. Por sorte, foram parar na grama do jardim que havia mais embaixo. Levantaram-se zonzas e cambaleantes, e continuaram a descer a rua, desengonçadas como dois palhaços. De repente, na rua de baixo o maldito de um hidrante vazava litros e litros de água. Elas foram pegas pela correnteza e arrastadas para o fim da rua, quando conseguiram se agarrar no pneu de um carro abandonado. Estava batido e nele crescia até mato… ele também foi parar ali por causa de um acidente. E foi por isso que nasceu a canção Águas de Março, de Elis Regina. Linda escalou um pequeno cipó até o rádio do fusca e o ligou, apertando os dois braços no dial. "É pau, é pedra, é o fim do caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho. É um caco de vidro, é a vida, é o sol. É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol…" Pois não é que o sol, convidado pela canção, brincou no rosto das meninas, que começaram a espirrar de novo. E a cada espirro iam ganhando tamanho até voltarem ao normal. Bateram muitas palminhas e saíram correndo pela rua, que não era tão íngreme como parecia ser, minutos antes. Já era hora do almoço e claro que iam levar uma bronca dos pais. Mas teriam uma história fantástica para contar a eles. Talvez por causa disso, a bronca ficasse pra próxima travessura.

 

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 26/07/2022
Reeditado em 26/07/2022
Código do texto: T7568202
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