A vida quer coragem
As vezes observamos que o caminhar tende a se misturar.
Tal qual no deserto passamos a ter miragens.
O que é irreal passa a ser real naquela necessidade.
O caminhar é assim também.
Hora cansa demais.
Hora cansa de menos.
Uma hora surgem bolhas.
Outra hora surgem calos .
Outra hora é a botina que pesa.
Ou ainda perdemos o equilíbrio com o cajado.
Eu naquela idade estava passando por um caminho bem assim.
Eu resolvi que iria trabalhar.
Iria montar o meu primeiro negócio.
A necessidade de sobrevivência falava mais alto.
Eu precisava ganhar algum dinheiro para ajudar na manutenção da casa.
Resolvi pedir ao meu irmão mais velho que me ajudasse a fazer uma caixa de engraxate.
Eu pretendia ganhar muito dinheiro engraxando sapatos.
Muito dinheiro.
Pensando assim quem sabe lá com muita sorte ganharia alguns trocados. Assim, foi feito uma caixa triangular de madeira.
Tinha um suporte para apoiar o pé e uma abertura para guardar os materiais de trabalho.
O local de trabalho era normalmente em frente ao "Bar do Pinguim" e do "Bar do Mauro".
Minha mãe me deu um dinheirinho e fui correndo na "Casa Hamaji" comprar as graxas preta e marrom e as escovas.
Ela me deu uns pedaços de panos branquinhos de saco de açúcar para lustrar os sapatos.
E foi assim que pela primeira vez comecei a ganhar os meus primeiros trocados trabalhando.
O caminhar, muitas vezes quer da gente coragem...