A RENCA DE MENINOS NAS CASAS DOS BEIRADÕES

A RENCA DE MENINOS NAS CASAS DOS BEIRADÕES

Autor Moyses Laredo

As casinhas isoladas dos beiradões dos rios da Amazônia, ou as casas de palafitas dos igapós, o modelo é único, o que varia são os materiais compostos, umas de palhas de palmeiras, outras de madeira serrada, mas todas tem a seguinte arquitetura: escada de acesso principal à varanda de chegada, uma saleta para colocar nas paredes, molduras ovais com vidro dos familiares falecidos, um corredor sem paredes na lateral, ao lado do único quarto e a ampla cozinha nos fundos. Sempre a cozinha é uma puxada da casa, nunca é construída junta. Essa arrumação simples não condiz com a renca (no bom sentido) de meninos que são feitos nelas, muitas vezes vem a pergunta quando se vê todo aquele pessoal acenando das varandas assim que passa um embarcação, como pode e como são feitos os meninos em meio aquele povaréu todo, porque tem meninos de todas as idades. Às vezes, cada família tem em média dez filhos. Diferentemente de quem mora nas cidades, onde cada um tem seu quarto, ou mesmo, os casais tem a opção de motéis, mas lá não, não tem pra onde correr, os curumins têm que ser feitos ali mesmo, mas como? A criatividade dos pais é posta à prova, uma das alternativas é saírem para pescar, disque! (Interjeição do linguajar amazônico) ou de caniço, ou para botar malhadeira e nessas ocasiões saem cedinho pegam a canoa, a curuminzada ainda dormindo, se embrenham nos igapós, longe da vista de todos, até mesmo dos vizinhos, amarram a canoa no primeiro pau que der firmeza e lá tudo acontece. Tem uma música do Raízes Caboclas, chamado “Banzeiro” que retrata muito bem as artimanhas do caboco, diz assim:

“Hãm, hãm, hãm é o gemido da caboca no banzeiro, e o caboco banzeirando, vai fazendo chap-chap e o corpo fica molhado, no gostoso galopar.

hãm, hãm, hãm, revira os olhos no momento mais gostoso e o balanço do caboco vai ficando remansoso é o momento do banzeiro no prazer se derramar.

chap chap chap, chap chap chap devagar, chap chap chap bem ligeiro é o som do meu banzeiro na canoa a balançar...”

Agora, os que moram em terras firme, sempre tem a desculpa do pai sair mais sua véia, para arrancar umas macaxeiras com o favônio (brisa fraca) no rosto, também cedinho, levam tudo o que precisam, das enxadas, terçados, o pau do arranque das raízes ao jamaxim, mas, na verdade depois de colhidas as macaxeiras, o verdadeiro pau vai cantar mesmo. A véia, se agarra num pau mais grosso do macaxeiral, bota a rodilha (rosca de pano para pôr sobre a cabeça) na testa, a mesma que vai ajeitar na cabeça para carregar o cesto (jamaxim) levanta a saia e dá a ordem ao seu véi. - “Estou pronta meu véi” e assim, a curuminzada vem se amontoando devagar, um por um. É claro que o método sempre pode variar um pouco, mas uma coisa pode ter certeza, em casa é que não é feito quase ninguém.

Um amigo dum casal me contou que certa vez, a pressa foi tanta que não deu tempo pra sair de casa, o homem tinha pegado uma derrubada longe de casa, passou três meses na mata. Quando chegou tinha os olhos esbugalhados, não via ninguém, os meninos a bom gritar, papai, papai ele nem deu a mínima, fez foi tocar a meninada para fora fazer farinha num vizinho próximo, com as veias da testa latejando, tratou de “ajeitar” sua véia, ela estava na lida toda desarrumada, cuidando dum cateto, que tinham pegado na noite passada, o bicho ainda estava sendo escaldado num panelão de ferro, direto no fogo de lenha de paracuúba misturada com cumaru ferro, para soltar o ranço e amolecer o pelo, de cheiro muito forte, empestava a casa toda, imagine os cabelos da véia, mas, mesmo assim, ele não perdoou, segurou-a pela cintura ou o que restava da lembrança onde um dia foi a cintura dela, arrastou para o quarto, o único que havia, sentou-se na cama, acomodou-a no colo de saia e tudo, e tudo aconteceu tão rápido quanto começou, sem antes, quase serem flagrado pela menorzinha que voltou para tomar água. A coisa é mais rápido do que a troca de pneus da fórmula 1.

Molar
Enviado por Molar em 21/05/2022
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