Cliente oculto

Quando Lucilla entrou no apartamento, o telefone tocou; três vezes, exatamente. Era o sinal que indicava que o encantamento de gravação havia registrado uma chamada. Sem pressa, Lucilla descalçou os sapatos antes de sentar-se no sofá e colocar o aparelho no colo.

- Quem ligou? - Indagou, fone no ouvido.

- Elspeth - informou uma voz feminina. - Às 16:34 h.

Isso havia sido uma hora atrás.

- Reproduza - ordenou Lucilla.

A voz de Elspeth surgiu em seguida.

- Luci? Quando chegar, me ligue; temos trabalho a fazer...

A ligação foi encerrada e Lucilla perguntou-se se deveria ligar imediatamente ou se teria tempo para tomar um banho primeiro. Afinal, o tom da mensagem não era de urgência e Elspeth parecia tranquila.

- Mais alguma ligação? - Indagou Lucilla.

- Teve uma de telemarketing, mas você não ia querer atender - afirmou a voz.

Lucilla foi tomar o banho.

* * *

- Oi Elspeth.

De volta ao sofá, envolta por um roupão felpudo e telefone novamente no colo, Lucilla retornou a ligação da amiga.

- Oi Luci. Teria interesse em conhecer uma padaria que abriu aqui no bairro?

- Você disse que era trabalho... arranjou um bico de crítica de gastronomia? - Divertiu-se Lucilla.

A resposta foi surpreendente.

- Mais ou menos. Bom, precisamos checar os produtos da "Pão Nosso", na rua dos Tanoeiros, próximo ao Parque dos Ciprestes, e o seu 1/8 de sangue de licantropo pode ser útil.

- Ah, o meu paladar aguçado - Lucilla não parecia estar muito feliz com a alusão. - Pelo menos, é boca livre?

- Vamos ter que pagar, - anunciou Elspeth - mas com dinheiro da contratante. A ideia é nos fazermos de clientes comuns, nada de chamar a atenção.

- Quem vai nos pagar para lanchar na padaria, Elspeth?

- Edna DaCosta. Lembra dela?

Lucilla lembrava. Dacosta havia retornado ao conselho distrital depois dos últimos acontecimentos no Outro Lado, e se ela estava envolvida, a missão se revestia de um caráter oficial.

- Estou aqui me perguntando o que essa padaria tem de diferente, para a administração querer que você vá lá investigar - ponderou Lucilla. - Estão colocando algum encantamento na massa? Isso nem é exatamente proibido, você sabe...

- Eu sei - admitiu Elspeth. - Não, a desconfiança deles é com outra coisa... a fonte de energia da "Pão Nosso".

- Fonte de energia? - Lucilla franziu a testa. - E não podem mandar um fiscal ir lá averiguar?

- Eles não querem chamar a atenção - argumentou Elspeth. - Por isso, vamos nós.

- Espero que esse lanche não acabe saindo caro - replicou Lucilla.

Mas acabou concordando em se encontrar com a amiga no estabelecimento, na manhã seguinte...

- [Continua]

- [11-05-2022]