A estranha manhã de Edward
Edward abriu os olhos mas não quis se levantar. Ficou deitado e tentou ver que horas eram, mas não conseguiu: os números no despertador pareciam embaralhados.
“Estranho”, pensou. Olhando a luz que entrava pela veneziana, deduziu que estivesse mesmo na hora de levantar. Olhou pro lado e não viu sua esposa Monica.
“Estranho”, pensou novamente.
Levantou-se, meio grogue, e saiu do quarto. No corredor, parou na frente do quarto dos gêmeos e abriu a porta devagar para ver como dormiam. James e Phillipa dormiam como anjos. Como sempre.
Na sala de estar, tudo estava bem claro. A luz da manhã entrava pelas persianas totalmente abertas. Monica estava no sofá, olhando para a tela da TV.
“Bom dia”, disse ele. Ela não respondeu.
Foi até a cozinha e serviu-se de um café. Voltou e se sentou ao lado da esposa.
“Levantou cedo, hein?”, perguntou ele.
“Sim”, respondeu Monica, sem desviar os olhos da tela. Edward bebericou o café: não tinha gosto.
“O que te fez acordar?”, perguntou.
“Não estou acordada”, respondeu ela.
Edward achou estranho e melhor não comentar. Olhou para a TV. O programa que passava não tinha nenhuma lógica.
“Sempre analisando a lógica das coisas, não é, Ed?”, disse Monica, olhando pra ele com um sorriso no canto da boca.
“Bem”, disse Edward, sem reparar que a esposa havia acabado de ler seus pensamentos, “pela lógica, se estamos conversando, significa que você está acordada. Mesmo que você fosse sonâmbula, o que você não é, não daria para termos uma conversa coerente”.
Monica mantinha o sorriso de Mona Lisa.
“Acha que as coisas estão coerentes, Ed?”
A pergunta o desconcertou. Baixou os olhos e olhou para o interior da sua caneca, que agora continha o que parecia ser suco de laranja. Tomou um gole: ainda sem gosto.
Subitamente, se sentiu cansado e oprimido pela conversa. Levantou-se do sofá e abriu um pouco a persiana. Olhou para fora, ainda estava bem escuro.