Litefartura

Literafartura

A moça estava vomitando quando desceu do ônibus, tinha se embriagado com suas amigas na noite anterior bebendo os contos de Bukowski. Estava a caminho do trabalho tomando alguns poemas leves da Cecília Meireles para tentar curar a ressaca, mas parece que a mistura estava lhe fazendo mal.

Um rapaz que passava na rua, ao ver a moça vomitando lhe ofereceu uma cartela de pílulas de contos de Philip K Dick, ele disse que eram bons, e a levariam a uma outra dimensão, curando assim sua ressaca. Depois de alguns segundos ela resolveu aceitar, e quando pegou, tornou a vomitar, os contos não estavam traduzidos e a moça não falava inglês. Ficou com medo da ressaca piorar se tomassem, por isso, os guardou em sua bolsa. Deu alguns passos pela rua e sentiu o cheiro dos contos do Machado de Assis, não pensou duas vezes, sabia que era isso que precisava, começou a seguir seu instinto freneticamente e encontrou de onde vinha o cheiro.

Entrou, e em questão de minutos devorou dois contos que estavam em promoção na estufa, algumas pessoas que tomavam uma poesia suave de Mário Quintana olharam assustados, o vendedor lhe ofereceu Guimarães Rosa para acompanhar ou talvez Clarice Lispector, aceitou a segunda opção. De bebida pediu Jorge Amado, mas teve que tomar Graciliano Ramos, pois, segundo o garçon, era mais aconselhável para combater sua dor de cabeça.

Sentada, e na fartura que a rodeava, seu chefe ligou perguntando onde ela estava e quando chegaria ao trabalho, explicou o que havia lhe acontecido, e o chefe, amigo de longa data, lhe aconselhou tomar Vinicius de Moraes com 2 pedras de gelo e pediu para lhe trazer algumas crônicas de Carlos Drummond de Andrade para comer no almoço, pois disse que estava faminto. Ele lhe explicou que os poemas de Fernando Pessoa que costumava comer no café da manhã tinham acabado. A moça, já satisfeita, pediu a conta ao garçom e disse para embrulhar as crônicas com leves pitadas de sarcasmo e canela, sabia do gosto de seu chefe. Pagou com moeda estrangeira (contos em alemão do Franz Kafka), o garçom pediu-lhe desculpa e perguntou se poderia voltar o troca em moeda nacional, a moça disse que sim e o garçom lhe devolveu em poesias do Leminski.