Dragão contra dragão
A notícia de que o dragão que aprisionara a princesa Adhelin estava se aproximando do palácio real, pegou a todos de surpresa. A surpresa só aumentou quando o dragão, após ter pousado numa torre da fortificação, declarou que suas intenções eram pacíficas e que não havia sido ele o autor do malfeito.
- Desculpe, mas para mim todos os dragões parecem iguais - opinou Erengisle, chefe da guarda, enviado para parlamentar com o visitante. - Como vamos saber se não foi você quem sequestrou a princesa?
- Estou lhe dando a minha palavra, e isso deveria ser suficiente - replicou o dragão com azedume. - A mim, soa extremamente ofensivo que vocês, humanos, não saibam diferenciar um dragão de bronze, que sou eu, de um dragão verde, do tipo do Myrnath.
- Para ser franco, tudo o que sabemos é que um dragão aprisionou a princesa Adhelin, e você é um dragão - ponderou Erengisle. - Mas afinal, que negócios o trazem ao nosso reino?
- Soube que estão oferecendo uma recompensa pela libertação da filha do rei, - discorreu o dragão - e que nenhum dos humanos habilitados para a tarefa conseguiu cumpri-la. Pois então: creio que posso ter sucesso onde os demais falharam. Afinal, eu entendo muito mais de dragões do que qualquer um de vocês.
- E por que deveríamos acreditar que não vai se aliar ao outro dragão, ou pior, tomar o lugar dele e manter a princesa prisioneira? - Questionou Erengisle, mãos nas cadeiras.
- Digamos que tenho mais interesse no ouro da recompensa do que no cativeiro da princesa - afirmou o dragão.
E com desdém:
- E não, não sou amigo de nenhum dragão verde.
Erengisle foi ter com o rei e este avaliou que pior do que estava, a situação não poderia ficar.
- Diga ao tal dragão que se trouxer Adhelin de volta, sã e salva, terá direito à recompensa - conformou-se.
Satisfeito com a promessa real, o dragão voou para o covil de Myrnath, pronto para fazer justiça.
* * *
Quando o dragão chegou ao destino, deparou-se com a princesa tomando chá com um desconhecido - e nenhum sinal de Myrnath.
- Você é a princesa Adhelin, suponho - disse ao pousar diante da caverna.
- Exato. E você, quem é?
- Zaygham, o Magnífico. Vim resgatá-la, princesa.
Adhelin franziu os lábios.
- Resgatar do quê, exatamente? Pareço estar numa prisão?
Zaygham teve que admitir para si mesmo que não, mas não havia vindo de tão longe para nada.
- Onde está Myrnath? Vim destruí-lo!
O rapaz sentado à mesa com Adhelin, deu uma gargalhada.
- Chegou tarde, companheiro! Já cuidei disso.
Zaygham soltou uma baforada de fumaça.
- Você matou Myrnath?
O rapaz lançou-lhe um olhar irônico.
- Acha que eu estaria calmamente tomando chá com a princesa se o dragão ainda estivesse por aqui? - Inquiriu.
Zaygham concluiu que a resposta era negativa e que havia perdido seu tempo.
- Melhor sorte da próxima vez - desejou-lhe a princesa antes que partisse.
Quando Zaygham desapareceu no céu, o rapaz virou-se para Adhelin e comentou:
- Essa foi por pouco. Acho que já posso reassumir a forma de dragão...
A princesa tocou no braço do rapaz, por sobre a mesa.
- Calma, Vensel. Podemos terminar o nosso chá sossegados...
E tornou a encher a xícara dele, antes de fazer o mesmo com a dela.
- [07-04-2022]