A Flauta Mágica
- Deixa eu ver se entendi - falei para Pawel, de pé à minha frente, do outro lado do balcão da loja de penhores. - Você quer me vender essa flauta de prata, supostamente mágica, que foi deixada como herança pelos seus pais? Por quê?
- Essa flauta foi a única coisa de valor que eles deixaram - explicou o rapaz. - Minha mãe sempre me disse que, quando se toca uma canção nela, caem moedas de ouro; isso viria bem a calhar, pois estou sem um tostão. O problema é que, para poder usar a flauta, vou ter que esperar completar 21 anos... ou seja, daqui a quatro anos.
- E o que o impede de começar logo a usar e ficar rico... fora o que disse a sua mãe? - Questionei.
- Minha mãe não teria feito essa observação se não fosse para ser seguida - afirmou ele, muito sério. - Se eu quebrar a promessa, pode ser que a flauta não funcione.
- Compreendo... mas se vender, quem garante que a flauta vai mesmo me dar moedas de ouro? E se ela só funcionar com você... aos 21 anos?
Pawel foi categórico.
- Eu preciso comer agora, não quando fizer 21 anos. Tem interesse em comprar?
- Preciso testar primeiro - repliquei. - Qualquer música? Não sou exatamente um especialista em flauta...
- Qualquer música - assegurou.
Toquei o refrão de "Drach, o Pescador" por talvez dez segundos. Duas moedas de ouro caíram sobre o balcão.
- E não é que funciona? - Comentei admirado.
- Quanto vai me pagar? - Indagou prontamente Pawel.
Estendi-lhe as duas moedas de ouro.
- Como não sei se isso vai se repetir, pode ficar com estas.
Pawel embolsou as moedas.
- Fez uma boa compra - assegurou.
Depois que o rapaz saiu, decidi tocar "Drach, o Pescador" por inteiro, e fazer um bom dinheiro. Só então percebi que, sem Pawel ali, a flauta não funcionava; ou melhor: funcionava apenas como flauta mesmo. Nada de moedas.
Consolei-me lembrando que, ao menos, eu não tivera que desembolsar um centavo pela compra.
- [19-02-2022]