O Sucessor
Seus pés tremiam e sua face suava. Próximo a ele, se postava a mais reluzente estátua já vista. Estava deslumbrado, mas temia. “E se eu derrubar tamanha estátua?”. Os olhos ao redor fulgiam em reprovação.
-Tsc, por que escolheram esse fedelho para suceder o Grande Espadachim?
-Veja as mãos dele! Parece que vai deixar a rapieira cair.
Muitos gargalhavam. Mas sua atenção voltada, unicamente, à pequena estátua que postada estava à sua frente.
Em um instante, as vozes de outrora se calaram. O menino dobrou seus joelhos e seus olhos se fecharam. Ele deu início à sua oração. Mesmo os mais escarnecedores, fizeram o mesmo.
Um silêncio estridente ressoou pela capela. Não demorou muito até que um pequeno cintilar o interrompesse, chegando apenas aos ouvidos do pequeno menino. Ele abriu os olhos atemorizado: de seu rosto um líquido vermelho pingava. Seu corpo paralisou ao ver sua rapieira nas mãos da estátua da qual ele venerava.
Pouco a pouco, as pessoas, ali presentes, despertaram de sua longa oração. Se espantaram ao ver tal cena: o menino petrificado, e a estátua empunhando a rapieira, pronta para fincar em seu peito.
Em um rápido impulso, um homem se dirigiu até a estátua e a agarrou pelos braços. Nisso, o menino despertou de seu torpor e correu dali, assustado. O homem, seu querido salvador, foi apunhalado pela estátua.
Enquanto o menino corria e tentava se esconder, a estátua continuava sua chacina; matando todos que surgiam em seu campo de visão.
Todos ali presente morreram, e muitos, antes de sua morte inelutável, proferiam xingamentos ao menino que se escondia. Sem nenhum outro lugar para ir, decidiu enfrentar a estátua. Sua lâmina estava repleta de sangue, e em seus pés, jaziam quase cinquenta corpos.
O menino chorava e se agonizava; seu corpo estava trêmulo. Mas em um breve acesso de raiva, se direcionou até a estátua. Ao ver os movimentos anteriores dela, ele já sabia: existia um padrão. Decidiu, então, roubar sua espada de volta para si. Como um raio, pegou a espada da estátua e, sem que ela percebesse, a fincou em sua garganta. Para sua surpresa, entrou tão fundo como se fosse carne. “Não seria tal estátua feita de mármore?”
A estátua agonizou, e junto com suas vítimas, desfaleceu no chão daquela bela capela.
Estarrecido, o menino se retirou dali. Suas vestes ensanguentadas chamaram a atenção de toda a cidade. Muitos veem a tragédia na capela, e nomeiam o pequeno menino como um herói por “ter vingado todas aquelas almas”. Aumentaram o feito em proporções inimagináveis, enquanto, apenas um luto nefasto fazia-se presente em seu coração.
Sua vida não era mais a mesma. Cada vez mais que o adoravam e idolatravam, mais a escuridão em seu ínterim crescia. A culpa e o remorso... o real assassino era ele mesmo.