NAU WINDSOR

A madrugada escura e especialmente fria daquele 22 de dezembro no porto de Liverpool, causava apreensão aos experientes marinheiros que entre beijos lascivos e abraços prolongados se despediam das jovens residentes no bordel White Ship Chandler para embarcar na Nau Windsor, do capitão Berrycloth, filho de tradicional família de navegantes de Yorkshire, ácido como as pimentas cujo sobrenome sugere ser ele falso comerciante,

Como fantasma difuso, a silhueta do antigo veleiro contrastava com a bruma que expandia a luz mortiça das lamparinas das embarcações ligeiramente embaladas pelo vai e vem das ondas que, em golfadas suaves e regulares, anunciavam a maré alta para antes do nascer do sol.

Todos a bordo, prancha recolhida, velame desfraldado esperando a brisa para enfuná-las. Soltaram-se as amarras e os barcos a remo deslocaram a nau para o largo. A partir daquele momento toda responsabilidade da carga destinada ao porto de Nova York estava sobre os ombros do comandante que, de pé na proa, perscrutava o horizonte em busca dos primeiros raios do sol.

Finalmente a brisa suave enfunou as velas e a Nau Windsor, apontada para Oeste, deixou para trás o rastro de espuma branca e a silhueta do porto que lentamente mergulhava na linha do horizonte.

Os cinco primeiros dias da viagem transcorreram na maior tranquilidade, mas no amanhecer do sexto dia, o vigia no cesto da gávea informou que grossas nuvens de tempestade se aproximavam rapidamente e que pequenos icebergs estavam em rota de colisão. Durante horas ou dias, não se sabe com certeza, toda a tripulação esteve envolvida nas manobras para salvaguardar a integridade da nau e as próprias vidas, vez que, se caíssem naquele mar de águas próximas ao ponto de congelamento seriam fatalmente eliminados pela hipotermia sem quaisquer possibilidades de salvamento.

A chegada ao porto de destino estava prevista para 15 de janeiro, mas isso não aconteceu até hoje...

Porém em noites brumosas dos primeiros dias de janeiro, perto do porto de Nova York, há quem jure ter visto a Nau Windsor com as suas lanternas de popa e proa bruxuleando embaladas por ondas mansas.

Este conto foi inspirado no quadro:

Título: Nau Windsor

Ano: 1984

Técnica: óleo sobre tela

Dimensões: 80X60

Autor: O.Heinze

Proprietário: George Heinze