O mapa do tesouro

- Um mapa no batente - comentou Myles Bosby em tom retórico, agachando-se diante da placa de metal gravada, ao lado dos degraus que conduziam à porta principal do Solar dos Blodwell. - São as mesmas runas desconhecidas do sigilo, mas eu suponho que essa linha pontilhada levando ao "X", deve mostrar o caminho até o tesouro...

- Por que alguém colocaria um mapa de tesouro ao lado da porta principal? - Questionou Androw Portyngton, cenho franzido.

- Exceto se isso não for um mapa do tesouro - sugeriu Oswyn Benthey.

Johen Tiploft o encarou com ar de expectativa.

- Vocês não acham mesmo que os Blodwell são bonzinhos e só estão querendo nos dar uma ajuda desinteressada, não é? - Prosseguiu Oswyn.

- Isso nem passou pela minha cabeça - admitiu Tiploft. - Agora que estamos do lado de fora da casa, é menos provável que estejam nos ouvindo... podemos falar com franqueza.

E fez um gesto de cabeça para Portyngton, que demonstrou alívio.

- Finalmente! Tive que me segurar lá dentro para não dizer umas verdades...

- Desembuche - ordenou Tiploft.

- Fomos trazidos para cá porque somos forasteiros e não conhecemos a história dessa terra - explanou Portyngton. - Alguém no Bagre-Pintado deve estar a serviço dos Blodwell, e imaginou que teríamos a qualificação necessária para fazer qualquer serviço sujo que os locais não podem ou não querem executar.

- A primeira fase foi concluída, - recordou Tiploft - com a quebra do sigilo.

- Sim, e agora querem que vamos atrás do tesouro... que duvido muito seja o que a tal Bethsabe nos disse - redargiu Portyngton.

- Para cavar, precisamos de ferramentas - disse Bosby.

- Tem um telheiro na lateral da casa - replicou Oswyn, olhando para a esquerda da construção. - Devem usar para guardar utensílios.

De fato, encontraram pás e até uma picareta dentro do depósito. Tiploft fez a distribuição das ferramentas, e Portyngton pegou a picareta.

- Agora, é só entrar na floresta e seguir a linha pontilhada - Bosby bateu com o indicador na cabeça. - Já gravei o mapa!

- Vocês ouviram a parte em que eu disse que o tesouro não deve ser tesouro? - Indagou Portyngton, apoiando-se na picareta como se ela fosse uma bengala.

- Ouvimos, e não temos outra opção que não ir lá e olhar - retrucou Tiploft, apoiando a pá no ombro. - Em frente, rapazes.

Resignado, Portyngton seguiu o grupo, que com Bosby à frente adentrou uma trilha coberta de neve na floresta.

- Não viemos preparados para esse clima - comentou Oswyn, tiritando.

- Se tudo correr bem, não vamos ficar aqui muito tempo - minimizou Tiploft. - Ademais, todos tomamos café da manhã reforçado, não foi mesmo?

Ninguém ousou redarguiu e o grupo seguiu em silêncio, até que a trilha abriu-se numa clareira entre as árvores desfolhadas. Bosby fez sinal de alto.

- É aqui, bem no centro - advertiu.

- Que conveniente... bem perto do solar - ironizou Portyngton.

- Vamos começar - comandou Tiploft, dando a primeira pazada na camada de neve. Com a ajuda de Bosby e Oswyn, pouco depois descobriram uma grande placa quadrangular de granito cinzento, coberta com runas entalhadas semelhantes às do sigilo.

- Agora Portyngton, use essa picareta para levantar a quina da laje, enquanto nós a puxamos - disse Tiploft.

A placa foi removida com algum esforço, e revelou sob si uma cavidade, também revestida de granito, a qual continha um grande baú metálico, fechado com um cadeado negro.

- Ajudem aqui; vamos içar esse baú - solicitou Tiploft.

Para surpresa de todos, a caixa estava relativamente leve e fez um ruído chacoalhante ao ser depositada ao lado da laje de granito.

- Fácil demais - avaliou Portyngton desconfiado. - Vamos abrir isso?

- Vamos - assentiu Tiploft. - Mas antes, quero que façam uma pilha de galhos secos ao lado do buraco; vamos acender uma bela fogueira e espantar o frio.

Os outros três entreolharam-se, mas cumpriram a ordem recebida. Finalmente, o líder deu-se por satisfeito e puxando uma pederneira do bolso, acendeu os galhos. Pouco depois, as chamas crepitavam enquanto uma coluna de fumaça erguia-se para o céu cinzento.

- Agora, Portyngton! Quebre o cadeado - ordenou Tiploft.

Bosby e Oswyn recuaram, enquanto Portyngton desfechava alguns golpes potentes de picareta contra o cadeado. Este não resistiu muito e partiu-se.

- Então, era isso o tesouro? - Questionou Bosby ao contemplar o conteúdo do baú, mão no queixo.

- Nem posso dizer que estou surpreso - retrucou Portyngton.

- [Continua]

- [15-01-2021]