A mesa posta
Encabeçado por Johen Tiploft, o grupo de aventureiros desceu cautelosamente as escadarias que levavam ao andar térreo. Tudo continuava silencioso dentro da mansão, mas o odor apetitoso que vinha do salão principal lhes assegurava que a voz misteriosa não mentira: o desjejum estava mesmo servido, numa mesa longa coberta de iguarias.
- Vamos mesmo comer isso? - Questionou desconfiado Androw Portyngton, mão no queixo. - Sabemos quem preparou esses pratos, e com qual intenção?
Ao seu lado, Myles Bosby esfregou as mãos.
- Se quisessem nos matar, não teriam se dado a esse trabalho todo. Eu vou comer; quem me acompanha?
Oswyn Benthey hesitou por um instante; depois, apanhou um prato vazio na cabeceira da mesa e começou a enchê-lo com bacon, ovos, pão, bolo e queijo. Foi seguido por Tiploft e Bosby. Finalmente, Portyngton deu-se por vencido e, resmungando, também começou a montar seu prato.
- Se vocês vão se envenenar, tenho a obrigação moral de lhes fazer companhia - justificou-se ele.
- Bobagem - retrucou Bosby, de boca cheia.
Os quatro comeram e beberam (chá e leite) até fartar. Ao fim da refeição, Tiploft tirou o barrete da cabeça, e fez uma vênia em direção à cabeceira da mesa, vazia.
- Em nome dos meus companheiros, quero agradecer pela acolhida e pela refeição - declarou.
Como não havia mais ninguém ali além deles, a última coisa que esperavam era uma resposta.
- Ficamos felizes que tenham apreciado nossa hospitalidade. Antes que voltem aos seus quartos no Bagre-Pintado, temos um favor para lhes pedir - soou a mesma voz feminina incorpórea que os chamara para o desjejum, pouco tempo antes.
- Se estiver ao nosso alcance - replicou Tiploft, sem perder o sangue-frio.
- Esta casa, o Solar dos Blodwell, foi enfeitiçado, - prosseguiu a voz - e todos os que o habitam ficaram invisíveis. A única moradora que pode se comunicar com as pessoas de carne e osso, sou eu, Bethsabe Blodwell.
- Vocês ficaram invisíveis... mas ainda cozinham muito bem - avaliou Bosby.
- Apreciamos que tenham gostado - disse Bethsabe. - Mas voltando ao favor que iremos lhes pedir: se o realizarem, lhes será dada a localização de um grande tesouro na floresta próxima.
- E o que querem de nós, afinal? - Indagou Tiploft.
- É bem simples: há um sigilo que foi colocado na porta principal do solar. Se ele for quebrado, o feitiço também o será. E quando vocês saírem para o exterior, encontrarão o mapa para o tesouro no batente da porta. Quando o desenterrarem, basta que o tragam para cá e poderão levá-lo para os seus quartos; nós então os mandaremos de volta ao Bagre-Pintado.
Tiploft coçou a cabeça.
- É só isso? Não vão querer ficar com uma parte do tesouro?
- Podem dividir entre vocês - assegurou Bethsabe.
Portyngton, que acompanhava o diálogo remexendo-se no assento, abriu a boca para fazer um comentário mas Tiploft o fuzilou com o olhar.
- Está bem, amável anfitriã. Faremos o que nos pede - prometeu o líder dos aventureiros. E erguendo-se da mesa, dirigiu-se aos demais:
- Chega de comer, temos trabalho a fazer!
- [Continua]
- [13-01-2022]