Hóspedes inesperados

Oswyn Benthey acordou na manhã seguinte com a cabeça doendo e a boca seca; o vinho servido naquela hospedaria certamente não havia sido misturado com água, e ele se excedera um pouquinho... demais. Afastou as cobertas e sentou-se na cama, espreguiçando-se. Como será que os outros do grupo estavam? Calçou as chinelas, ajeitou a camisa de dormir e entreabriu a porta do quarto, para ver se havia movimento no corredor. Piscou os olhos, estupefato.

Aquele corredor não era o mesmo da hospedaria onde haviam se registrado na noite anterior. Parecia mais apropriado para uma casa senhorial, com piso de pranchas de madeira escura e quadros com cavalheiros de expressão severa e damas com sorrisos enigmáticos pendurados na parede. Como o ambiente estivesse calmo e silencioso, Oswyn foi na ponta dos pés até a porta à esquerda da dele, onde vira Johen Tiploft, o líder do grupo de aventureiros, entrar durante a madrugada. Bateu duas vezes, e não havendo resposta, girou a maçaneta.

Para seu alívio, Tiploft ainda dormia, num quarto austero mas distinto, que condizia com a decoração do corredor lá fora. Oswyn o sacudiu, sem cerimônia.

- Johen, acorde! - Comandou.

Tiploft abriu um olho para encarar quem o incomodava, e grunhiu.

- O que raios pensa que está fazendo, Oswyn?

- Acho que bebemos demais ontem à noite... fomos sequestrados e levados para outro lugar!

Tiploft abriu os dois olhos, aparentando estar completamente desperto. Olhou em torno.

- Diacho... - murmurou. - Algum de nós desafiou um nobre para um duelo ou coisa parecida?

- Não que eu me lembre - admitiu Oswyn.

- E os outros?

- Ainda não fui ver - replicou o interpelado. - Mas vou fazer isso agora, se acha prudente.

- Claro que acho prudente - rosnou Tiploft. - Vá logo e os traga para cá.

Oswyn voltou minutos depois, empurrando os dois outros membros do grupo, Myles Bosby e Androw Portyngton, para dentro do quarto.

- Que história é essa, de que nos embebedaram e fomos sequestrados? - Questionou Portyngton, que ao contrário dos demais, exigira vestir as calças antes de sair do quarto.

- Se ainda não percebeu, não estamos mais na hospedaria do Bagre-Pintado - replicou Tiploft, sentado na única cadeira do quarto. - Precisamos descobrir que lugar é esse, e como viemos parar aqui. E também, quais são as intenções de quem nos trouxe para cá.

- Não cortaram nossos pescoços - ponderou Bosby. - Ainda.

- Os quartos são bastante decentes - comentou Oswyn. - Eu diria que são para hóspedes, de algum nobre local.

- Por que um nobre dessa terra esquecida pelos deuses e pelos cobradores de impostos teria interesse no nosso grupo? - Questionou Portyngton. - E se fosse esse o caso, não seria mais simples mandar um emissário e nos convidar para sua mansão?

Tiploft fez um aceno de concordância.

- Temos que nos preparar para dar o fora daqui rápido, se algo der errado.

- Johen... - interrompeu-o Oswyn. - Se isso for uma demonstração das intenções do nosso anfitrião misterioso, ele teve o cuidado de recolher as nossas armas.

- Melhor nos vestirmos - determinou Tiploft.

Duas batidas secas na porta atraíram a atenção do grupo. Em seguida, uma voz feminina avisou:

- O café da manhã está servido no salão principal, em frente à escadaria.

Passada a surpresa inicial, Oswyn foi até a porta e a abriu, olhando para ambos os lados do corredor.

Não havia ninguém lá.

- [12-01-2022]