A natureza das profundezas
Quase nada tem o poder de levantar um homem caído e fazer com que ele engula o orgulho e se reencontre consigo mesmo, mas, a natureza é definitivamente a primeira marcha quando se trata de oposição ao ódio penetrado na alma.
Na cidade em que eu moro os poucos dias de sol são insuficientes para secar as lagrimas das nuvens, e o padre Eliot nos diz que tal clima provém da decepção de Deus para com a humanidade, nada mais do que sua descomunal tristeza. Nos dias quentes em contrapartida, apenas os desfiladeiros podem proteger-nos do calor e tal extremidade de ambos os aspectos climáticos me fizeram pensar numa possibilidade palerma, num local, ao qual o Sol fosse apenas miragem e as chuvas apenas viessem encharcar os campos, um sonho pacato e bocó.
Em certa noite chuvosa, como as de sempre hão de ser, desarrazoado por umas doses no bar me propôs a me entreter numa breve caminhada, ignorando as buzinas dos Taxis e embarcando aos poucos num manso resfriado. É claro, não demorou muito até que a ideia estupefata parecesse bastante parva e me despejei na primeira escada com cobertura que encontrei pela frente. Ali, encontrei-me pela primeira vez com o paraíso, me fundi, com o mais puro semblante da minha imaginação. Numa viagem estática, direto para os confins de Copacabana:
‘’ na margem da praia onde se debruçam os resquícios do mar, a água clara trouxe aos meus pés uma concha acumuladora de mistérios, e em seu interior, não só repercutiam o denso oceano marítimo, outrossim, toda a natureza das profundezas. Daí, vindes mais delas, cada uma unicamente representando o seu ínfimo interior: as vezes estrondos das criaturas mais temíveis, em outras soavam as ondas e ruídos, o assoviar de um lirista outorgando um espetáculo, ou, apenas o silêncio ecoando na imensidão do lacônico casco. Nos confins da vista do oceano, penduravam nas nuvens como em um carrossel os albatrozes, remando as asas ao vento e cedendo num pouso infamante os bicos afiados nos indefensos peixes distraídos. Na costeira, as ondas vinham com seus lábios salgados selar a praia com teu carente beijo molhado, depositando na areia quente um vislumbre de sua frieza terrificante. E os céus, formulavam onde as águas parecem desaguar ao longe as grisalhas nuvens trovoadas, manifestando uma titânica tristeza infindável. De súbito, desceu cambaleando da torrente de escuridão um raio que se dispersou nas águas, fazendo prosperar as enguias do mar. Em tais dias em que a natureza predomina todo e qualquer ser, as reuniões são das mais sofisticadas: quando os golfinhos saltam tuas cambalhotas nas águas agitadas pela forte ventania e as baleias se ressaltam para respirar o odor da vida terrestre... ‘’