Bar do Viranoite e os viajantes de Erion (Trecho de uma Sessão de RPG)
O Bar do Viranoite, a única diversão no Porto Leste.
Chegaram ao pequeno vilarejo do porto ao principiar da longa noite gelada, os viajantes logo se dirigiram aos únicos dois estabelecimentos do local, a hospedaria e o bar. Lotado dos que desembarcaram nos últimos dias, o bar abriga a todos com seu confortável calor alimentado por bebidas e muita diversão. Jogos e desafios, boas histórias e gente de todas as partes do mundo, dispostas a se aventurar neste pedaço abandonado do planeta. As gargalhadas, conversas, bater de copos e barulhos mistos fazem uma pausa ao ouvir da porta um auto anunciar;
“-Atenção!” — abrindo a porta com forte presença “-York, o destemido e imbatível exército de um homem só está aqui”. Com passos firmes vai atravessando o bar, a armadura e o grande escudo com a lança do exército da região de Erion chamam a atenção, mas logo é ignorado pela maioria. Cheio de segurança e pose de herói, senta-se ao balcão e pede a melhor bebida e enquanto aprecia o licor de ervas com forte destilado começa a contar histórias sobre seus feitos no mundo afora.
O jovem estudante de alquimia que conhecera na viagem entra logo em seguida e pede algo barato para beber, mostra um pouco de interesse no extasiante discursar do guerreiro enquanto aprecia sua cerveja de cereais mistos. Procura pelas mesas de jogos e apostas para se divertir um pouco e logo deixa o entusiasmado narrador a exprimir suas façanhas ao balconista. Uma mesa de dados chama sua atenção e logo o convidam para apostar:
“-Tenho tempo e dinheiro, também tenho uma sede para aliviar e preciso me divertir um pouco”. Dados rolam e o jovem encorajado pelos demais vai perdendo a cada aposta e bebendo a cada derrota.
“—Creio que não seja minha noite de azar, mas estou com pouca sorte”. Dizia enquanto balançava os dados para jogá-los e perder mais alguns trocados.
“Azar?” — Manifestou-se o capitão Zerp. “—Azar dos dois que estão no barco terminando de enrolar as cordas, lá fora está um frio de matar!”.
Enquanto isso no balcão, um astuto e pequenino cidadão se aproxima de York manejando com destreza uma moeda de ouro entre os dedos, demonstra interesse no discursar do desinibido guerreiro viajante que logo recebe todo sua atenção:
“-Você já deve ter ouvido a meu respeito, sou York, o incrível exército de um homem só!”.
“—Provavelmente, e gostaria de propor-lhe um pouco de diversão em um desafio”.
Desafio é a palavra que o Lanceiro adora escutar, e logo ambos se dirigem a uma mesa de queda-de-braço. Ávido por um belo duelar, York se enfurece ao ver seu oponente magrelo e desajeitado:
“-Eu me recuso a disputar com tamanha injustiça para com o meu desafiante, isso é vergonhoso! Que venha o mais forte entre vós!”
Ao bradar por um novo oponente, eis que por de trás de umas costas largas que se viram devagar, um braço enorme se estende até ele seguido de um olhar a menosprezá-lo. Um homem, se é que aquilo era só um homem, propõe-se ao desafio sugerindo o pagamento de dez moedas de ouro para o vencedor. A proposta é instantaneamente aceita e uma multidão se aglomera em volta para apostar no possível vencedor. Vendo a falta de proporção entre os competidores, o jovem alquimista decide recuperar parte de que perdera apostando dez moedas de prata no brutamontes.
Os dois começam a disputa e o grandalhão dá um gemido e se contorce enquanto tem seu braço estendido numa vergonhosa derrota:
“-Eu falei!!!” — grita eufórico o guerreiro falador “-Sou invencível, minha força é incomparável”. E todos à volta comentam encantados com a cena presenciada.
“—Não mesmo!” — manifesta-se desconfortável o derrotado. “—Precisamos repetir o desafio!”. Os espectadores falam todos ao mesmo tempo, e comentam e riem, enquanto York tenta consolar seu adversário;
“-Você terá a sua chance outro dia”.
Engolindo amargamente sua derrota, o brutamontes pede para que seus acompanhantes busquem as moedas prometidas enquanto oferece uma rodada para a mesa. Junto a York, o jovem apostador frustrado passa a alimentar o ego de seu colega enquanto desfruta das bebidas na mesa.
Com dentes tortos e cabeça pontuda, um homem esguio e muito embriagado se propõe ao jogo de queda-de-braço, e quem aceita é o jovem estudante;
“-Meu nome é Azoth, e serei seu adversário!”
Ambos se posicionam à mesa, o jovem já sorridente sabendo que iria derrubar o bebum da mesa vai cantando vitória:
“-Duzentas moedas de prata!” Propõe o valor, que é aceito sem hesitar pelo ébrio dentuço.
O terceiro do grupo chega à porta com os ombros cheios de gelo, o Bruxo acompanha a cena enquanto se aproxima para sentar-se com seus companheiros e servir-se de uma bebida grátis. As luvas-alquímicas de Zoth estalam contra a mesa quebrando o seu braço numa derrota violenta trazendo espanto a todos que subestimavam o bebum, que vibra jubiloso sua tremenda vitória e toma um rumo desconhecido com seus bolsos cheios. O pobre derrotado passa a analisar os acontecimentos da noite e começa a acreditar que aquela sim é sua noite de azar, mas decide tomar mais uma antes de ir para a hospedaria tratar do braço.
O brutamontes paga mais uma rodada para a mesa e logo seus capangas retornam com as moedas de ouro, estas são entregues ao grande campeão da noite que continua a narrar seus atos memoráveis de aventuras e batalhas. Neste momento o último do grupo adentra o bar, com uma garrafa de aguardente na mão e um rosto abatido ele se aproxima dos demais e se joga numa cadeira, seu espírito apático e aparência vampiresca contrasta com a euforia do local, mas ninguém chega a se importar.
De repente alguém grita da porta;
“-Há um navio em chamas no cais!”
Muitos curiosos se levantam e vão dar uma olhada enquanto o Capitão Zerp atravessa a aglomeração, desesperado, pois aquele em chamas é seu navio, alguns até saem para tentar ajudá-lo a deter o incêndio.
O grande York se levanta satisfeito, paga uma rodada a todos na mesa e retira-se para o alojamento, seguido mais tarde por Azoth em busca de algum remédio para dor.
Entediado, o apático Toguro resolve apostar uma queda-de-braço para se divertir, mas tem suas moedas furtadas enquanto competia, para aumentar sua indignação com a noite pouco promissora até então. O Bruxo Jim resolve pagar a aposta com seus únicos trocados para evitar uma confusão e os dois deixam o bar então.