O Encantado do Rio

Ainda lembro de minha vó com seus setenta e poucos anos, contando para mim, meus irmãos e primos, a história do encantado do rio...

Em uma noite chuvosa, as margem de um rio, uma mulher gemia em dores de parto. Na casa apenas ela e seu marido.

O rapaz arruma as coisas, embarca sua esposa em uma canoa e parte pelo rio em direção à casa da parteira mais próxima.

Na metade do caminho, a moça diz que não aguentará chegar até o destino e que terá o filho ali mesmo.

Relâmpagos e trovões compunham aquele cenário tenebroso de tempestade. A embarcação era muito pequena e com o balançar da maré, agitada pelo vento, ela aos poucos afundava.

De repente, ouve-se um grito muito alto da mulher e em seguida escuta-se o choro da criança que acabara de nascer!

O marido rapidamente larga o remo e corre para socorrer a mulher. Em uma bolsa que carregava consigo, havia uma tesoura, a qual usa pra romper o cordão umbilical.

Depois de socorrê-la, o marido volta a remar, ainda em destino a casa da parteira.

Uma maresia muito forte acaba por atingir a proa da canoa, que já estava um pouco cheia de água, fazendo-a virar no rio.

A mãe ainda fraca por ter dado a luz, não consegue segurar seu bebê que é arremessado no rio. O marido ainda tenta se jogar atrás da criança, mas a canoa que ainda afundava, o atingiu, fazendo com que ele não conseguisse salvar a criança.

Nesse momento, um raio parte o céu, com um barulho ensurdecedor em direção ao rio, mas não chega a tocar a água, porém, o clarão iluminou todo o lugar.

A mãe desolada consegue nadar até a beira do rio, e seu marido também.

Os dois estavam exaustos.

Chorando, e sem qualquer condições de procurar ajuda, o casal fica as margens daquele rio sem acreditar no que acabara de acontecer.

A tempestade vai acalmando e os dois ainda ali, olhando o rio, como que se por um milagre eles esperassem a criança emergir do rio...

O dia amanhece e o casal vê uma embarcação passando, pedem socorro, conseguindo voltar a sua casa...

Um mês se passa e em uma noite de lua cheia o marido saiu para caçar e pescar.

Adentrando um igarapé que ficava ali próximo ele percebe uma movimentação na mata. Achando que pode ser alguma presa, o rapaz preparasse para atirar, repentinamente, um clarão ofusca-o. Ele imediatamente põe uma de suas mãos no rosto, tentando obstruir aquele brilho intenso. Por entre os dedos ele consegue avistar um silhueta na forma de um corpo feminino que caminhava em sua direção. O homem não consegue se mover, apenas observar aquilo se aproximando.

Ao chegar próximo a ele, aquela luz vai perdendo a intensidade até que o corpo fique apenas iluminado pelo brilho da lua.

- Vim lhe devolver seu filho, Raimundo! Diz uma mulher toda vestida branco e com uma coroa feita de algas douradas.

Raimundo consegue se mover e levanta os braços com muita cautela em direção aquela mulher, pegando a criança que estava em seus braços.

De fato era seu filho , ele percebeu por uma marca no pescoço da criança que lembra muito uma lua minguante, o mesmo que ele possuía.

A mulher então explica o que houve:

- O que aconteceu com seu filho naquela noite não foi um acidente, fomos nós que o fizemos. Seu Raimundo, uma batalha se aproxima de nosso reino e seu filho é a criança de nossa profecia, o primogênito de uma geração de filhos únicos, o guerreiro que tanto esperamos para liderar e salvar nosso povo da guerra contra as sombras.

A mulher continuou:

- Fomos nós que fizemos sua mulher sentir dor para ter o bebê naquela noite, pois ainda faltavam algumas luas para o nascimento dele. Nosso povo anseia por paz, e essa, só virá com a guerra final, e seu filho é o escolhido para liderar-nos.

A mulher ainda explica que foi preciso levar a criança nos primeiros momentos de vida pois assim ela ainda era pura e o ritual só teria efeito se fosse feito assim. A mulher segue dizendo que, que quando o rapaz completar vinte anos eles irão buscá-lo para lutar a guerra final.

Depois de dizer tudo isso o clarão novamente se forma a frente de Raimundo e a mulher desaparece com o fim daquela luz.

Um sentimento de preocupação toma Raimundo, mas a alegria é maior, ele junta todas as suas coisas e vai o mais rápido possível encontrar sua esposa em casa.

- Mulher! Mulher! Vem ver o que encontrei na mata! Grita Raimundo.

A esposa vem da cozinha, apressada.

Ao chegar na sala, ela arregala os olhos e logo percebe que aquela criança só poderia ser seu filho.

Sua respiração acelera e olhos começam a encher de lágrimas, o sentimento de mãe dava certeza de que, sem entender ao certo o porque, aquele era sim seu filho.

Ela corre em direção à criança e abraça-o muito forte, como se um mês de sentimento de perda acabasse ali, naquele momento, com aquele único abraço. Ela não sabia fazer nada, além além chorar , abraçar e beijar aquela criança.

(A VIDA DESSA FAMÍLIA, NUNCA MAIS SERÁ A MESMA).

Continua...

Maxwell Albuquerque
Enviado por Maxwell Albuquerque em 11/11/2021
Reeditado em 12/08/2022
Código do texto: T7383558
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