Contra o vento

A tarde caminhava para o fim quando avistamos o moinho, emergindo dentre um grupo de árvores.

- Podemos passar a noite ali - sugeriu Jaric.

- Estranho. Não vimos nenhuma outra construção nas últimas horas, - ponderou Shantel - e agora... um moinho?

- Parece perfeitamente normal - avaliei, vendo que as pás haviam começado a girar lentamente ao vento.

- O que estamos esperando? - Indagou Jaric.

- Calma - replicou Shantel sem se mover, braços cruzados. - Ainda não perceberam? As pás do moinho?

- Estão girando - redargui. - O que tem de mais?

- Contra o vento; - murmurou Shantel - contra o vento.

Só então nos veio à cabeça que o moinho era, na verdade, um mímico. O maior mímico que qualquer um de nós já havia encontrado.

- O que vamos fazer? - Sussurrei para Shantel. - A coisa já deve ter nos visto, e daqui a pouco vai escurecer...

- Mímicos não costumam seguir presas em potencial - disse Shantel. - É só manter distância suficiente para que não possa nos prender com seus tentáculos. Ele ainda não sabe que nós já sabemos que ele é um mímico...

E assim fizemos, contornando cuidadosamente o pseudo-moinho, até que este ficou para trás no poente.

- Nos livramos de boa - suspirou Jaric.

- Eu deixaria para comemorar depois - comentou Shantel, olhando por sobre o ombro.

Nos viramos - e o moinho havia desaparecido.

- [Continua]

- [14-10-2021]