Um dia de Lord

  
Um dia especial é o que, às vezes, muita gente precisa, mas para que isso ocorra é preciso que haja um motivo. Um bom motivo. E isso eu tinha. Ah, como eu tinha. Vou contar.
 
Ainda tem por aqui na cidade um restaurante muito chic, bem legal mesmo... não vou citar o nome por questões óbvias, e há muito tempo, toda vez que eu passava por ele, eu me prometia: -  um dia eu venho comer aqui, não quero nem saber se é caro ou não, vou dá uma de bacana e só entregar o cartão p’ro garçom, “pode cobrar”. Mas me faltava o tal bom motivo. – Certo dia isso ocorreu, parecia que eu tinha jogado pedra na cruz e todo mundo estava me evitando, voltei p’ra casa e não encontrei ninguém, todos saíram e sequer um bilhetinho havia p’ra mim. Foi então que pensei n’uma frase: “Eu sou p’ra mim, a minha melhor diversão e a mais bela companhia”.
 
Sem querer me lembrei do tal restaurante, talvez pela fome que já se aproximava. Quando entrei no quarto vi meu terno mais bonito exposto n’uma cadeira, sim é um “Armani” cor de chumbo com colete e tudo mais, só uso em ocasiões p’ra lá de especiais. Alguém arrumou meu closet e parece tê-lo esquecido ali; a princípio não gostei, mas olhando novamente me pareceu ter piscado p’ra mim e novamente pensei no tal restaurante, aí não tinha mais como fugir da ideia. Peguei o telefone e liguei pedindo uma reserva para às 12:30h a pessoa me perguntou o nome e instintivamente respondi “Sir Antony Soza”, senti uma respiração profunda e me foi prudente pensar por ela: - é bem estrangeiro, com esse nome! Em seguida nova pergunta: acompanhantes?! Eu me embaracei, posto que não minto, mas invoquei o princípio da dúvida e falei: - provavelmente três pessoas e novamente no outro lado um suspiro, pressenti: - gorjeta boa!...
 
Arrumei-me a caráter, gel no cabelo, My Burberry Black levemente no corpo, mas pensei: - posso fazer melhor e liguei p’ro Damião, motorista “free lancer”, ele prontamente aceitou, também veio a caráter, terno preto camisa branca e quepe de motorista, usamos o meu carro preto, às 12:27h, Damião estava abrindo a porta de trás p’ra mim descer, bem à frente do restaurante; nesse instante alguém veio me receber. Com duas notas de cem reais, apertei-lhe à mão, em seguida falei baixinho: - “trate-nos como príncipes e verás a graça da corte”. O ainda jovem senhor abriu um sorriso e me acompanhou até a mesa já reservada, nela havia um arranjo de flores, “rosas vermelhas, lírios e girassóis”, estava um encanto, fiquei contente. Três pessoas estavam apostas para me servir, um deles puxou a cadeira eu sentei, descansei na mesa meus óculos escuros “Giorgio Armani” e esbocei um leve sorriso de agradecimento. – Já festivos os três falaram ao mesmo tempo: - podemos lhe servir um vinho?! ... - com a cabeça, em gesto brando, acenei que sim, mas ressaltei, suavemente: - o melhor que tiver na adega, por gentileza. Um deles, alargou um sorriso e quase rasga o rosto. Em segundos estava sobre a mesa o famosíssimo “Quinta do Crasto” acompanhado com frios raros n’uma delicada porcelana. Então eu pensei: - a brincadeira começou. E um espírito alegre e vaidoso foi aos poucos tomando conta de mim.
 
Alguns minutos depois, um dos que me atendia, indagou-me: - My Lord, seus acompanhantes, nos parece que não vem mais, podemos começar a servir seu almoço, ou prefere mais uma garrafa de vinho?! – Nesse momento, percebi um cochicho à poucas mesas à frente da minha; eram duas mulheres lindas de meia idade, num determinado instante as surpreendi me olhando bem amistosamente. Voltei minha atenção p’ro garçom Ele se mostrou alcoviteiro, coloquei em sua mão mais uma nota de cem reais, enquanto lhe dizia: - pergunte delas, o que elas preferem: - vir p’ra minha mesa ou eu p’ra delas; em poucos segundos estávamos os três a sorrir, degustando outra garrafa de vinho, enquanto nos serviam um assado especial de javali e cordeiro grego. – Mas tudo de bom e alegre estava apenas começando, Laura Riley como se disse chamar era a mais sorridente, já Luiza Delaney, também sorria, porém com certa timidez o que a tornava mais graciosa, ambas já me pareciam bem conhecidas, e tudo começou quando Laura fez uma observação sobre as flores que estavam à mesa.
 
– Estávamos observando você sentado aqui junto a essas flores lindas e prosseguiu; suponho que goste mesmo de flores, mas duvido que saiba bem o significado de cada uma, pelo menos dessas que estão nesse lindo vaso. Eu não opus resistência, mas contracenei com um sorriso e não disse nem que sim, nem que não. Logo Laura começou a falar: – as flores são símbolos da natureza, da vida, de pureza, de paz, de riqueza, de sucesso, de bem-estar, de alimento, de energia, de cura, de amor, de qualidade de vida, além de serem a demonstração máxima de beleza da natureza, em exuberância de formas, cores e perfumes sem iguais. Meu queixo caiu e pensei: - é a garota do Google, no mínimo. Então argumentei: - muito legal, individualmente, imagino que também saiba definir, Luiza sorriu e avançou: - sabe sim, ela sabe tudo. – Então Laura falou das Rosas vermelhas: - As clássicas rosas vermelhas significam amor, romance e a mais profunda afeição por alguém. Para o amor da sua vida ou para aquela “pessoa amiga” que ainda não percebeu o seu interesse. Essas flores transmitem inocência, por isso, o tom é a escolha de muitas noivas para o buquê usado no dia do casamento. Prosseguiu falando dos lírios brancos: - simboliza a pureza de corpo e alma, a inocência, a lealdade e o amor incondicional; ... lírio lilás ou roxo: representa o matrimônio, a maternidade, a pureza e os sentimentos positivos; lírio laranja: traduz sentimentos de atração, admiração e amor renovado. Continuou... agora falando da minha flor favorita, os girassóis: - significa felicidade. Sua cor amarela ou os tons cor de laranja das pétalas podem simbolizar calor, lealdade, entusiasmo e vitalidade, refletindo a energia positiva que emana do sol. O girassol, também pode representar altivez.
 
Depois dessa aula eu a parabenizei e falei: Muito bem, Laura Riley e Luiza Delaney, estou adorando conhecer vocês, duas mulheres lindas como estas flores; brasileiras com sobrenome de estrangeiros, não é mesmo!? Nomes bonitos e fortes. – Elas me dispensavam uma notável atenção. Continuei falando, qual um mestre em sala de aula; - realmente vocês fazem jus a seus sobrenomes, Riley é vindo da Irlanda e significa otimista, corajosa e bem amigável e Delaney também da Irlanda é alguém sem medo das trevas, dinâmica e entusiasta e conclui: - estou certo?! Elas se entreolharam e apenas sorriram se sabiam disso, não me falaram, mas me pareceram contentes. – Entre risos e vinhos nosso almoço estava terminando, então me veio a vontade de convidá-las a passear pela cidade e visitar alguns pontos turísticos, elas aceitaram. E assim, fizemos um tour espetacular pela cidade, visitamos o Teatro Amazonas, a Igreja de São Sebastião, o Mercado Adolfo Lisboa, o Palácio Rio Negro, o Centro Cultural dos Povos da Amazônia, o CIGS e chegamos à Ponta Negra já no arrebol da tarde. Damião dirigia como expert e a cada ponto que chegávamos fazia a cortesia de nos abrir a porta, eu sentado no meio de duas garotas fantásticas me achava nas nuvens de tão contente.
 
Mas não parou por ali, a Lua linda já despontava clareando à noite; foi então que Damião me fez lembrar d’uma outra vontade que há tempos acalentava; jantar ao som de músicas caribenhas cantadas por mexicanos ao violão, sim com aqueles chapelões tradicionais. Ele olhou p’ra mim e me disse: - sim Doutor eu já combinei tudo, enquanto o Senhor almoçava com as garotas, senti o clima e achei que o Senhor iria gostar. Eu fiquei super feliz e disse a ele, fizestes muito bem, não vou me esquecer disso, Ele sorriu, sabia do que eu estava falando. Luiza achou a ideia ótima e empolgada falou “a noite é uma criança” e assim fomos ao local, um tanto fora da cidade, mas perfeito. Já havia uma mesa com flores e o meu nome sobre ela; as meninas saltaram no meu ombro de alegria. Bebemos cerveja, dançamos ao luar e realmente a noite foi criança. O mais você pode imaginar.
 
 
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Antônio Souza
(Contos)
 
Música:

https://youtu.be/KO3O8eyJbiw
Chris De Burgh - Lady In Red 
 

www.antoniosouzaescritor.com