A Bruxa Viajante
Nas planícies ao norte caminha uma garota um tanto estranha, usa um chapéu pontudo gigantesco e um vestido preto, seus sapatos são tão estranhos quanto, pontudos e curvados pra cima, e em suas mãos um grande cajado, tão grande quanto ela própria, mas sua principal característica é sua inigualável beleza, seus cabelos pretos pareciam fios de seda e seu rosto era comparável com a mais linda das bonecas, essa garota é uma Bruxa e seu nome é Clara, porém ela é mais conhecida como A Bruxa Viajante.
O que ela procura? Por quê ela viaja? Essas são perguntas cujas respostas todos sabem, "Porque sim, oras!", diz a bruxa, movida apenas pelo desejo de ver o mundo ela continua caminhando, para onde a Bruxa Viajante irá hoje?
Hoje Clara se encontra em um pequeno e pobre vilarejo, todas as cabanas em vista eram de madeira com um teto de palha improvisado, exceto por uma grande taverna bem no centro da vila, ao perguntar para alguns moradores Clara aprendeu que o vilarejo foi construído ao redor da taverna que já estava lá, ninguém sabe a quanto tempo ela existe nem quem a construiu e os funcionários nunca disseram uma palavra nem nunca foram substituídos em centenas de anos, isso foi o bastante para instigar a curiosidade de Clara que correu até a taverna, quando chegou lá foi recebida por uma garçonete que aparentava ter uns 30 anos, era bem alta e tinha cabelo curto e castanho, porém Clara não fez cerimônia e começou a fazer perguntas mas ficou decepcionada ao saber que os funcionários estavam tão confusos quanto ela, tudo o que eles sabiam era trabalhar e tem sido assim por centenas de anos, não se lembram de nada além de trabalhar na taverna e se sentiam perfeitamente bem com isso, estavam felizes apenas de ver o sorriso dos clientes que serviam. Clara que viveu toda a sua vida viajando livremente não entendia o sentimento dos funcionários e quanto mais observava mais confusa ficava, tudo o que faziam era trabalhar sem descansar e não podiam nem sair da taverna pra gastar o dinheiro que ganhavam, mas ainda assim o faziam com um sorriso no rosto, ela decidiu sair da taverna pois julgou não ter nada para ela ali. Enquanto andava pelo vilarejo Carla observava os camponeses trabalharem em seus campos, mercadores cuidando de suas carroças e crianças correndo por aí, porém, ao contrário das crianças todos tinham expressões sérias, raivosas e alguns até entristecidas, bem diferente do que ela via das pessoas na taverna, "É óbvio", ela pensou, "Essa é a expressão que aqueles que trabalham sem parar deviam fazer", sussurrava pra sí mesma, enquanto andava por aí, Carla nem percebeu que estava anoitecendo e os camponeses começaram a se reunir com suas famílias e a taverna enchia cada vez mais, Carla decidiu entrar na taverna uma última vez na esperança de entender aquelas pessoas, a taverna estava cheia, porém quieta, os clientes com expressões aflitas, mas os funcionários estavam radiantes como sempre, conversavam com os clientes enquanto os serviam, faziam brincadeiras entre sí e, para a surpresa de Carla, aos poucos a atmosfera da taverna mudava, os clientes pouco a pouco se animavam e riam com suas famílias e amigos, mesmo com todas as dificuldades lá eles se sentiam queridos e eram bem tratados, os homens e mulheres cansados se levantavam e brindavam uns com os outros, conhecidos ou não, não importava, eram todos companheiros naquele dia e os funcionários pareciam satisfeitos ao ver aquilo, Carla só conseguia chamar aquilo de mágica, não conseguia acreditar na diferença que atitudes fazem no dia de uma pessoa, um trabalho simples como uma taverna estava transformando vidas na sua frente e as pessoas ganhavam forças para aguentar o amanhã mesmo com dificuldades. Carla estava satisfeita, saiu da taverna e voltou a caminhar pela noite, deixando a misteriosa taverna para trás e com isso, as risadas daquelas pessoas que acima de tudo, eram felizes.