O Sapo
Era uma vez um sapo. Gozava das amenidades do jardim, frequentava as margens do pequeno tanque dos nenúfares e via, sempre defendido do sol, a luz avivar folha a folha, antes de dormir. Todos sabiam da sua existência e era tolerado só porque a mais nova das crianças o amava, se condoía da sua solidão e, frequentemente, o chamava para o ver. Olhavam-se à distância e, certa da sua comodidade, a menina corria para dentro da mansão. Nenhum dos dois se apercebeu da importância deste afecto, até o casarão ser vendido a uma gente que nada sabia de jardins e que detestava sapos. Chorou a menina por não poder levar o sapo e o animal não percebeu que as begónias perderam o viço, o alecrim secou, a água dos nenúfares apodreceu. Quando todo o verde acastanhou de secura e a terra sem ser molhada se revoltou em pedras e poeira, os novos donos decidiram colocar mosaicos em todo o espaço e acabar de vez com o jardim. Ainda pensou em mudar de lugar mas a esperança reteve o sapo à espera da rega diária. Um dia chegaram os homens, as cordas, pás e a betoneira. E o sapo, sitiado no lugar menos seco, ainda cheio de esperança, aguardava. Quando por fim os trabalhos começaram nenhum dos homens o defendeu. Mataram-no à pedrada!