MIL E UMA NOITE
Era uma noite silente de inverno.
O irradiar das chamas da lareira iluminava o ambiente.
O café quente sob a mesa acompanhado de um bom livro poético me mantinham entretido serenamente. Mas o piscar constante de meus olhos denunciava o domínio do sono sobre mim.
Parei de lutar insistentemente e me rendi ao mundo dos sonhos, mas um clarão brilhante despertou-me do estado de repouso. Minhas pupilas quase se dilataram com tamanha onda de luz. Seria um crédito especial da CEPISA ou abertura das portas do céu?
De repente, observei nitidamente uma figura misteriosa se formar diante mim. As longas vestes brancas... os cabelos mais negros que a asa da graúna... os lábios vermelhos como a pétala de uma rosa... a suavidade do rosto de um anjo.
Questionei-me silenciosamente quem seria tal figura quando a mesma aproximou-se vagarosamente. Numa mistura de espanto e admiração, resolvi tentar desvendar aquele enigma em formato de mulher:
- Quem é você ?
- Eu sou a poesia!
Após responder unicamente, logo em seguida apontou-me o livro poético que estava aberto sob a mesma. Sim, o mesmo livro que alguns instantes atrás estava em minha posse de leitura.
Percebi que ela apontava especificamente para a página em branco que o livro possuía. Peguei cuidadosamente o objeto, ainda estranhando o interesse constante, e estendi perante a si.
Num gesto suave, levantou uma de suas mãos como se fosse pegá-lo, porém apenas encostou lentamente. Em questão de segundos, novamente o brilho tomou conta do ambiente. Fechei os olhos rapidamente devido a intensidade que ele se propagava. O que estava acontecendo?
Quando tudo se acalmou, notei que a figura da mulher havia desaparecido misticamente sem deixar rastros. Intrigado, procurei atentamente em cada direção como se pudesse encontrá-la, mas não havia nem sinal que denunciasse a sua presença ali. Lembrei-me do livro que ela havia apontado e quando olhei, um detalhe curioso chamou atenção.
A página que estava em branco havia adquirido um novo formato. Em seu centro, os seguintes versos foram trançados:
A poesia liberta a alma em exílio
Ser poeta é extravasar a alma no papel
É deixar os sentimentos escorrerem em formato de palavras
É ser capaz de enxergar além delas
É ver além do que os olhos podem ver
É transmitir para o papel o que está escrito no coração
É externar pensamentos e ideias
É pintar, cantar, versar
É fazer arte