O Lugar do Pássaro
Desenho. Havia um pássaro na minha mente. Que bom seria se ele me saísse das linhas e voasse não importaria para onde. Uma ave desenhada por certo não iria longe por muito real que parecesse. E, esmerado, voltei a riscar e da trama, leve primeiro, densa depois, não lobriguei voo algum. Mas o pássaro estava por lá, oculto, ainda confundido, ainda, diria, a afinar as asas. Era negro como um melro, ágil e nervoso, tímido e ousado a um tempo como convém ser num desenho diferente. A certa altura dos traços, dos passeios da borracha, do insistir na ideia, vi-o e não me pareceu tão escuro. Perguntava-me se poderia ser castanho e garanti-lhe que, no meu desejo, poderia ter a cor que lhe conviesse desde que voasse. A seguir, quando farto de riscar, de apagar, de imaginar as cores que não tinha desisti, ele, o pássaro, voou. Claro que não o vi mas percebi pelo arranjo dos riscos que saíra dali.