A BOTIJA ENCANTADA

Passava eu por aquela estreita vereda coberta de pequenas pedras pontiagudas nascidas no chão. Ficando somente uma ponta para fora achatada quase rente ao terreno arenoso.

Ao lado passava um riacho de águas barrentas e correntes fazendo barulho por entre as rochas grandes que ele escondia dentro d’água somete para ele, lavando-as com as águas correntes todas as vezes que a enchente vinha com violência a cada época de inverno, uma vez ao ano depois de um longo período de estiagens, quando as chuvas do Nordeste se ausentava deixando ele, o riacho de boca aberta para cima querendo beber agua.

Sempre que passava ao lado pela vereda que me levava ao meu rancho lá no fundo, lá atrás no pé da serra, tinha a impressão que ao passar olhando para baixo sem força para levantar a cabeça eu via algo brilhando no chão, tinha vontade de parar para ver se era algo valioso, mas como Maria me esperava para comermos juntos nosso feijão, fui adiando esse desejo deixando para depois.

Um dia aquele brilho aumentou e eu não pude mais deixar para depois para ver do que se tratava.

“Seria uma botija” pensei e me arrepiei, ouvia as estórias dos antigos que onde havia uma delas, havia espíritos grudados, até alguém os tirar de lá. Contavam-se que os ricos escondiam seus tesouros enterrando-os para não serem roubados pelos bandos que viviam pelo sertão levando tudo que encontravam pela frente. Como era o caso do famoso sertanejo lampião.

Mas levado pela curiosidade agachei-me e com um cotoco de pau, comecei cavoucando ao redor daquele brilho que em poucos cavadas percebi que era uma correte de ouro, ainda inteira.

“Vixe é uma botija mesmo”! Pensei comigo. Mas para minha surpresa era somente um relicário antigo que saiu de dentro da arreia com muita facilidade. Em seguida o abri com as mãos sujas de areia e trêmulas, tentando conter a ansiedade em saber o que era aquela peça de ouro branco com bordas de ouro amarelo, brilhando com a claridade do sol alto no meio no céu.

Havia ali duas fotos uma de cada lado, um rosto masculino e um feminino. Eram fotos em preto e branco amarelado pelo tempo dentro daquele relicário havia muito tempo escondidos debaixo da terra.

“Quem seria aqueles rostos? ” E” porque estavam guardados a tanto tempo”. Mas ainda intactos, e tinha sorrisos finos e olhos tristes, cabelos penteados feito topetes como nos séculos antigos.

Fiquei pensado, deixando minha imaginação fluir, passando aquela joia por entre os dedos. “Como e onde foi usado aquela peça rica”. Guardando lembranças raras dentro daqueles rostos serenos, com certeza deve ter sido usado em um baile de corte, por cima de um vestido de pano fino com decotes exuberantes e saias rodadas. Me vi em poucos segundos dentro daquele baile, rodopiando ao som de uma melodia fascinante, envolvido pelo som, mexendo-me em passos largos nos braços esguio de minha Maria.

Lembrei-me dela e voei para o rancho antes que ela quebrasse a cabeça pensando onde estaria eu até àquela hora.

Guardei o relicário no bolso da calça e fui, sem saber quem eram as pessoas que ali estavam, e a certeza que não saberia já mais.

Mas o relicário ficará guardado comigo. E nas noites de lua cheia sentado no meu quintal, o esfrego entre os dedos, trazendo ás lembranças os bailes de outrora que eu não tive a chance de estar lá, mas à minha memória eu estava, e era muito bom, tinha muita riqueza e fartura e eu e Maria éramos afortunados e usávamos adornos brilhando em nossos pescoços como aqueles.

O dia amanheceu e mais uma vez levantei-me do meu leito paupérrimo, e outra vez desci a ladeira do rancho até as roças lembrando do dia em que eu o achei em meio as pedras, olhando para o chão para ver se aparecia outro igual. ” Queria só presentear Maria”.

Socorro freire

Em 27/06/2021

socorro freire
Enviado por socorro freire em 27/06/2021
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