A CAVERNA DOS MISTÉRIOS

Havia qualquer coisa de diferente no rosto de Alice,ela estava assustada, para não dizer transtornada. Madame Lili bem que avisou sobre a caverna e todas as histórias assustadoras que os antigos moradores da aldeia contavam. 

Diziam os antigos, que a caverna da rocha era a porta de entrada para o mundo intraterreno,  habitado por criaturas monstruosas.

Alice ignorou todas as advertências de madame Lili, mesmo sabendo do risco que corria, entrou na caverna assim mesmo, curiosa em descobrir se aquelas histórias eram verdadeiras ou se eram meros contos populares.

Aquela criatura pequena, de nariz pontiagudo, roupas estranhas, esfarrapadas e de orelhas pontudas diante de Alice era a prova definitiva de que a caverna e tudo quanto diziam eram reais, e que uma das tais criaturas de que tanto se falava estava ali, diante de seus assustados olhos. 

A estranha criatura permaneceu imóvel por alguns segundos, depois moveu a cabeça levemente para esquerda e depois para a direita, parecendo estar estudando a reação de Alice, que, diante do inusitado encontro, permaneceu petrificada. Todas as suas palavras sumiram, silêncio absoluto, tamanho era o seu espanto.

O que pareceu-lhe ser um duende, dessas das histórias de contos de fadas, começou a acenar para ela com as mãos, dedos magros, unhas grandes, acenava chamando-a para acompanhá-lo. Alice estava incerta quanto a oferta, deu um passo para trás, pensou em sair correndo o quanto antes da caverna, porém, a sua curiosidade foi ficando cada vez maior do que o seu medo, vencendo-o pouco a pouco. 

O duende acenava com as mãos, era um convite muito estranho, ali tudo era estranho. Por fim, a criatura vendo que Alice permanecia no mesmo lugar, a chamou pelo nome, proferindo sua rouca voz que ecoou no interior da caverna.

- Não tenho medo Alice. Venha comigo menina, não tenha medo, minha criança...

Alice admirou-se da criatura estar falando com ela, aquilo tudo era surreal, o espanto foi dando lugar para admiração e curiosidade. Receosa, no primeiro momento, nada respondeu, ameaçou em dar mais um passo para trás, quando novamente ouviu a voz da pequena criatura.

- Por favor! Não vou lhe machucar... Venha conhecer um mundo cheio de seres fantásticos e mágicos, não é esse o seu desejo?

Vencendo o seu medo, Alice arriscou dialogar com o duende.

- Você é real? Como sabe o meu nome? E meus desejos? É a primeira vez que venho a esta caverna...

- Nós sabemos de todas as coisas que se passam lá em cima, minha pequena, mas, vocês, seres da superfície, nada conhecem de nosso mundo e nem a nosso respeito. Não tenha medo, você foi escolhida, será a primeira a conhecer nossos segredos.

- Não... Não... Isso não é real... Não pode ser... Não mesmo...

- Estou aqui, não estou! Olhe, estou bem na sua frente, veja, sou real, não tenha medo, venha...

Alice deu o primeiro passo em direção ao duende, nos lábios dele despontou um discreto sorriso, sarcástico por sinal, Alice estava admirada demais para perceber os riscos que corria ao acompanhar o misterioso duende. Deu o segundo passo, o terceiro, ainda incerta, lentamente seguiu-o, que continuava acenando. Passo a passo ela foi se distanciando, a pequena criatura sempre a frente, o caminho foi ficando cada vez mais estreito e escuro. Havia medo no olhar de Alice.

- Não enxergo nada, eu vou voltar. Disse ela reclamando.

No mesmo instante, em um estalar de dedos, surgiu nas mãos do duende uma tocha, a sua chama iluminou o rosto da criatura, o mesmo sorriso sarcástico.

- Venha... Temos muito a caminhar, venha. Há luz mais a frente.

Alice seguiu-o embrenhando-se pela caverna.

Era a tarde de uma sexta-feira, começo de verão, dia quente, foi quando a jovem Alice sumiu do povoado do Lajedo. Todos a procuraram por meses, e em todos os locais possíveis, até mesmo em algumas partes da caverna e da floresta em seu entorno, mas, Alice nunca mais foi vista, o seu paradeiro era desconhecido da aldeia. Por fim, depois de meses e meses de procura sem sucesso, sem encontrar uma única pista, desistiram de procurá-la.

Os pais de Alice ficaram arrasados, era a filha caçula dos Andrades.

Passou-se vinte anos desse episódio, a história do desaparecimento de Alice era acrescida às já contadas da caverna e seus fantasmas. Até que certo dia, em uma sexta-feira, começo de verão, moradores relataram ter encontrado uma menina, vagando sozinha pela floresta à procura de seus pais.

( história escrita em parceria com minha filha de dez anos. Sarah Pena. )

Tiago Macedo Pena e SARAH MESSIAS PENA.
Enviado por Tiago Macedo Pena em 26/04/2021
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