Verde Capuchinho
No grande parque verde a menina de short corria pela grama seguindo as borboletas e sem se dar conta viu-se longe da família e entre árvores sombrias. Foi quando o homem de blusa quadriculada, que antes ela já tinha avistado, surgiu de trás de uma figueira e quase à sua frente.
Suzana estacou assustada com a presença daquele rapaz de elevada estatura que a olhava fixamente.
- Oi - disse ela sem saber mais o que dizer.
Lembrou-se que, meia hora antes, vira aquela pessoa passar perto da mesa de pic-nic onde ela estava com os pais e a tia. Ele passara bem perto e olhara para ela. Numa mesa próxima, isolada, achava-se uma estranha garota com casaquinho verde-folha e capuz.
- Você é muito bonita - dizia agora o rapaz, aproximando-se dela.
- Obrigada, mas tenho que ir.
Ele tirou uma faca da jaqueta.
- Nada disso. Você vai me acompanhar lá para dentro - e indicou a mata fechada. - E não tente fugir: se fugir eu mato os seus pais.
Suzana tinha onze anos, era alta, magra e loura, e sabia que tal ordem não era para ser obedecida. Mas o homem, aproveitando-se da sua perplexidade, aproximara-se tanto que já era arriscado tentar fugir. Mesmo assim ela ia faze-lo, no desespero, quando alguém mais apareceu.
- Pare - disse uma voz feminina, melodiosa porém firme.
A garota do capuz verde surgira inesperadamente por trás do agressor. Este se voltou espantado:
- Quem é você? O que você quer?
- Esta árvore tem cipós - respondeu ela enigmaticamente.
- Olha, você até que serve se tirar esse casaco.
- Você deve estar bem insano - e ela sorriu, acrescentando, agora dirigindo-se à menina: - Você deve fugir.
Suzana não podia fugir, abandonar aquela moça ao perigo. Pensou em buscar uma pedra para jogar na cabeça do tarado; mas o que em seguida aconteceu foi inacreditável. As lianas da figueira desceram e enlaçaram o sujeito, enrolaram-se em seus braços e o ergueram do chão, e
ele deixou cair a faca.
De tão aterrado nem conseguiu falar.
A mulher tirou então das vestes uma varinha com a qual fez a faca subir um pouco no ar, voltar-se para baixo e descer com força, enterrando-se completamente.
- Você é um demônio? - exclamou o homem, debatendo-se aterrorizado.
- Na verdade, muito longe disso. O que eu deveria fazer com um estuprador como você? Matá-lo?
- Solte-me daqui, imediatamente!
- Pois não.
A um comando com a varinha o homem foi arremessado contra um pau que crescia em outra árvore.
Ouviu-se um grito lamentoso.
- Vamos embora, Suzana - disse a outra ao seu ouvido.
- Como sabe o meu nome?
- Não importa. Vamos.
- E ele?
- Deixe-o buscar socorro por seus próprios meios. Ele não poderá violentar ninguem a partir de agora.
Suzana entendeu e, enquanto se afastavam rapidamente, indagou:
- Mas quem é você de fato?
- Não imagina, Suzana?
- Você é uma fada?
- Acertou. Eu me chamo Ariel, mas também sou conhecida como a Verde Capuchinho.
- Quando eu era muito criança avistava fadas nas árvores... mas tinham asas e eram tão pequeninas!
- Como a Sininho, não é?
- Sim, é isso mesmo.
- Suzana, eu escolhi viver entre os seres humanos e por isso assumi o tamanho de vocês. Quer ser minha amiga? Eu procuro um contato entre os humanos.
- Seria uma honra - disse Suzana, os olhos arregalados.
- Vi como você é corajosa. Mas guarde o nosso segredo. Lembre-se que os adultos não crerão em você.
- Claro, Verde Capuchinho... eu sei como é isso. Mas mesmo assim venha falar com papai, mamãe e titia, não precisa dizer que é fada.
- Não, primeiro eu vou no telefone público ligar para o plantão de socorristas. Aquele homem não merece mas terá de ser socorrido antes que perca muito sangue. Creio que ele desmaiou.
Deu um lindo sorriso e acrescentou:
- Para combater o mal não precisamos ser cruéis, ou nos tornamos iguais ao mal que combatemos.
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2019.
No grande parque verde a menina de short corria pela grama seguindo as borboletas e sem se dar conta viu-se longe da família e entre árvores sombrias. Foi quando o homem de blusa quadriculada, que antes ela já tinha avistado, surgiu de trás de uma figueira e quase à sua frente.
Suzana estacou assustada com a presença daquele rapaz de elevada estatura que a olhava fixamente.
- Oi - disse ela sem saber mais o que dizer.
Lembrou-se que, meia hora antes, vira aquela pessoa passar perto da mesa de pic-nic onde ela estava com os pais e a tia. Ele passara bem perto e olhara para ela. Numa mesa próxima, isolada, achava-se uma estranha garota com casaquinho verde-folha e capuz.
- Você é muito bonita - dizia agora o rapaz, aproximando-se dela.
- Obrigada, mas tenho que ir.
Ele tirou uma faca da jaqueta.
- Nada disso. Você vai me acompanhar lá para dentro - e indicou a mata fechada. - E não tente fugir: se fugir eu mato os seus pais.
Suzana tinha onze anos, era alta, magra e loura, e sabia que tal ordem não era para ser obedecida. Mas o homem, aproveitando-se da sua perplexidade, aproximara-se tanto que já era arriscado tentar fugir. Mesmo assim ela ia faze-lo, no desespero, quando alguém mais apareceu.
- Pare - disse uma voz feminina, melodiosa porém firme.
A garota do capuz verde surgira inesperadamente por trás do agressor. Este se voltou espantado:
- Quem é você? O que você quer?
- Esta árvore tem cipós - respondeu ela enigmaticamente.
- Olha, você até que serve se tirar esse casaco.
- Você deve estar bem insano - e ela sorriu, acrescentando, agora dirigindo-se à menina: - Você deve fugir.
Suzana não podia fugir, abandonar aquela moça ao perigo. Pensou em buscar uma pedra para jogar na cabeça do tarado; mas o que em seguida aconteceu foi inacreditável. As lianas da figueira desceram e enlaçaram o sujeito, enrolaram-se em seus braços e o ergueram do chão, e
ele deixou cair a faca.
De tão aterrado nem conseguiu falar.
A mulher tirou então das vestes uma varinha com a qual fez a faca subir um pouco no ar, voltar-se para baixo e descer com força, enterrando-se completamente.
- Você é um demônio? - exclamou o homem, debatendo-se aterrorizado.
- Na verdade, muito longe disso. O que eu deveria fazer com um estuprador como você? Matá-lo?
- Solte-me daqui, imediatamente!
- Pois não.
A um comando com a varinha o homem foi arremessado contra um pau que crescia em outra árvore.
Ouviu-se um grito lamentoso.
- Vamos embora, Suzana - disse a outra ao seu ouvido.
- Como sabe o meu nome?
- Não importa. Vamos.
- E ele?
- Deixe-o buscar socorro por seus próprios meios. Ele não poderá violentar ninguem a partir de agora.
Suzana entendeu e, enquanto se afastavam rapidamente, indagou:
- Mas quem é você de fato?
- Não imagina, Suzana?
- Você é uma fada?
- Acertou. Eu me chamo Ariel, mas também sou conhecida como a Verde Capuchinho.
- Quando eu era muito criança avistava fadas nas árvores... mas tinham asas e eram tão pequeninas!
- Como a Sininho, não é?
- Sim, é isso mesmo.
- Suzana, eu escolhi viver entre os seres humanos e por isso assumi o tamanho de vocês. Quer ser minha amiga? Eu procuro um contato entre os humanos.
- Seria uma honra - disse Suzana, os olhos arregalados.
- Vi como você é corajosa. Mas guarde o nosso segredo. Lembre-se que os adultos não crerão em você.
- Claro, Verde Capuchinho... eu sei como é isso. Mas mesmo assim venha falar com papai, mamãe e titia, não precisa dizer que é fada.
- Não, primeiro eu vou no telefone público ligar para o plantão de socorristas. Aquele homem não merece mas terá de ser socorrido antes que perca muito sangue. Creio que ele desmaiou.
Deu um lindo sorriso e acrescentou:
- Para combater o mal não precisamos ser cruéis, ou nos tornamos iguais ao mal que combatemos.
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2019.