AS GUERREIRA YKAMIABAS

AS GUERREIRA YKAMIABAS

Autor: Moyses Laredo

Quem foram as guerreiras Ykamiabas? (Icamiabas ou iacamiabas) Nome esse originado do tupi, i + kama + îaba, significando "peito partido" é a designação genérica dada a uma lenda da Amazônia, de índias que dizem ter amputado um dos seios para melhor manusearem o arco, suas especialidades, isso foi o que lhes pareciam, quem com elas se deparasse e saísse vivo. Em verdade, elas apenas enfaixavam, um dos seios, aquele em que ficava do lado do braço que empunhava a o arco, a fim de facilitar a mira.

“Existia na região Amazônica, próximo às cabeceiras do rio Nhamundá, um reino formado somente por mulheres guerreiras, conhecidas como Ykamiabas ou, Icamiabas, era uma tribo de mulheres sem homens, que viviam escondidas, com quem mantinham contatos esporádicos com eles, com fins bem definidos: a procriação de meninas.

Em certas épocas do ano estas mulheres altas, corpo pintado, de músculos bem definidos, belas guerreiras, celebravam suas vitórias sobre o sexo oposto. Os parceiros eram escolhidos por elas, sem muitas delongas e num ritual dentro do Lago Sagrado acontecia a procriação, depois iniciava a grande festa, a festa da fertilidade, que durava vários dias, durante os quais as mulheres recebiam homens capturados ou de aldeias próximas, com os quais mantinham relações sexuais e procriavam.

Terminado esse período, elas abandonavam seus eleitos e se retiravam para sua moradia em um lugar sagrado, onde prestavam culto feminino à deusa Mãe-Terra e à Lua. As Ykamiabas presenteavam, os guacaris ou huacaris uma tribo lendária também da região amazônica com os quais se acasalavam, com um amuleto, o que os faria serem bem recebidos onde o exibissem.

Essas mulheres possuíam imensa força física e política em suas mãos. Conquistavam terras e mantinham-se em isolamento. Estabeleciam relações amistosas com algumas tribos vizinhas e escolhiam seus parceiros, para que fossem fecundadas.

Ao darem à luz, se nascesse uma menina, esta permaneceria para sempre com a mãe e se tornaria também uma Ykamiaba. Se o rebento fosse um menino, este esperaria o tempo do aleitamento e no ano seguinte, na festa do ritual, era devolvido à tribo do pai. Numa outra versão, não tão arraigada às convenções maternais vigentes, dizem que, se dessa união nascessem filhos masculinos, estes seriam sacrificados.”

(fonte: Iêda Vilas Boas - Amazônia, Cultura 11445).

“A denominação Amazonas surgiu então, quando em 1542, o Frei Gaspar de Carvajal, escrivão da frota espanhola de Francisco Orellana, ao penetrar num enorme rio brasileiro, que ele chamou de “Mar Dulce”, encontrou mulheres guerreiras, tendo sido por elas atacado. O ataque foi tão violento que o frade escriba, confundiu-as com o mito grego das Amazonas. Na mitologia grega, existe “As Amazonas”, elas eram guerreiras de fato, consta em abundância nos livros de história suas participações em muitas batalhas, lutaram e perderam, contra Hércules, Teseu e Belerofonte. Segundo o relato do mesmo, elas eram jovens, belicosas, e andavam completamente nuas, portando arcos e flechas. E foi assim então que o grande rio foi batizado de o “rio das Amazonas”. (fonte: Paty Rossetti Atriz, escritora, palestrante, dramaturga, compositora, terapeuta ThetaHealer).

Um belo jovem, de nome tukumã huacaris, da aldeia dos huacaris, próximo da colocação das Ykamiabas, solitariamente, seguia um grupo de macacos-barrigudo (Lagothrix lagotricha) com uma simples zarabatana munido de setas com veneno, preparado da perereca de faixa amarela (dendrobatas leucomelas), e assim, se distanciou acompanhando a movimentação do grupo no topo das árvores, a procura da posição certeira para soprar o dardo mortal. O guerreiro se destacava dos demais da sua tribo, por ser muito alto e de uma compleição física avantajada, inclusive era a esperança de assumir o lugar do cacique, estava sendo preparado para isso. Quando subitamente, se viu diante das famosas índias de “peito partido”, que todos temiam pela ferocidade com que guerreavam, não tinham dó do inimigo e nunca faziam prisioneiros. Diante da visão de um grupo delas, que sorrateiramente o cercara, todas armadas com seus arcos e munidas também da famosa Ibira-pema, ou, ivirapema que é uma espécie de borduna, usada para defender, atacar ou caçar. A Ibira-pema, muito eficaz, porque de seu golpe ninguém sobrevivia. Diante da visão das temidas guerreiras, ainda tentou fugir, mas foi derrubado e imobilizado, não teve escolha, se viu sem saída, reconheceu a superioridade das guerreiras, encostou a cabeça na raiz do tronco onde caíra, em gesto de evocação, pediu aos espíritos de seus ancestrais, que o levassem direto ao campo santo, tão falado pelos anciãs de sua aldeia, para onde seguiam os guerreiros da sua tribo. Fez a reza mais demorada da sua vida, esticou o que pode, depois, se virou para as guerreiras que sem tocar nele, o aguardavam silenciosamente, o fizeram segui-las pela floresta a dentro, sem antes, peiarem-no com muçurana (uma fibra escura parecendo com a envira), inclusive, vedando-lhes os olhos com folha de uma árvore, que lhe bloqueava totalmente a visão. Como um guerreiro, treinado para matar ou morrer, pacificamente aceitou seu destino, já tinha feito sua oração e dali pra frente, estava nas mãos de suas captoras. Caminharam por longo tempo na mata, as guerreiras não falavam nada, nem mesmo entre elas, ele imaginou que toda comunicação fosse por gestos que ele não conseguia enxergar. Nas passagens de igarapés, era amparado pelos braços, por duas guerreiras, o mesmo, para obstáculos à frente, como paus caídos etc.

Finalmente, após mais de cinco horas caminhando, ora em linha reta, ora em círculos, que ele marcava pelo passo da perna de tração. Nessa caminhada longa e interminável não fizeram nenhuma parada para descanso. O índio tem uma forma peculiar de andar na mata, parece que cai pra frente, após um passo pro outro, usa a gravidade em seu favor. Por fim, sentiu que chegaram na aldeia delas, ouviu vários gritos ao seu redor, ainda desconhecia seu destino, esperava a qualquer momento receber um golpe de Ibira-pema na nuca, o mesmo com que abatia seus inimigos em rituais de vitórias. Tinha em mente que não mais voltaria a ver seus parentes, assim como chamava a todos de sua aldeia, mas nada disso aconteceu, foi conduzido por elas, passou pelo centro da taba, sentiu a areia nos pés, até que entraram na maloca, (um tipo de cabana comunitária) puseram-no sentado numa rede de tucum (uma palmeira que cresce formando touceiras densas de onde se extrai as fibras para as cordas dos arcos e para tecerem redes). Depois de um silêncio aterrador, sempre com a mente voltado para o seu fim a qualquer momento, o pior de tudo, era que ninguém falava com ele, apenas entre si, em seguida apareceu alguém que o desamarrou e tirou-lhe a venda dos olhos. A pouca luz da maloca até que favoreceu sua visão já acostumada com a escuridão da venda, de repente, se viu diante de mulheres guerreiras nuas, em torno de dez Ykamiabas, de uma formosura nunca visto antes, elas não possuíam nenhum adereço na cintura como as de sua tribo, todas o fitavam paradas diante dele, fizeram gestos para que se levantasse, e se puseram a examiná-lo ao seu redor, em silêncio, de onde estava, pode observar as mulheres, todas morenas altas e de uma musculatura bem definida, como os guerreiros de sua etnia, braços fortes, coxas grossas. Tinha conhecimento de que, seus prisioneiros, após passarem um período cativo, eram bem alimentados e cuidados por uma das Ykamiabas, posteriormente, mortos, num dia de comemoração escolhido para o sacrifício.

Após o longo exame das mulheres guerreiras, se recolheram e foram confabular com um grupo de matriarca, que representava o mesmo conselho dos anciãos de sua tribo, ficou aguardando, sempre vigiado por duas delas. As anciãs ykamiabas, fumavam cachimbos karapotó anginco sagrado, por onde subia um fumaceiro amuado, que iluminado por uma réstia de luz do sol, que passava por entre as palhas, formavam imagens confusas no ar, mas, que para elas, lhes diziam tudo sobre o prisioneiro. Após longos minutos voltaram, e uma delas, o tomou gentilmente pelos braços e o levou a um recanto, dentro da própria maloca, como se fosse uma espécie de reservado, isso não lhe trouxe temor, porque estava sem amarras, como também, a forma gentilmente do toque da bela índia Ykamiaba, que o conduzia. Sem muitas delongas, por iniciativa dela, deram imediato início à cópula, ele viril, nos seus vinte anos de idade, correspondeu na mesma intensidade, o que a deixou radiante diante de sua virilidade, assim ficaram por uma semana, se alimentavam lá mesmo, com a comida sendo-lhes entregue pela pequena entrada, só saiam unicamente para suas necessidades físicas. Ao final desse período, foi chamado por uma das anciãs que lhe falou no seu próprio idioma huacaris, dizendo-lhe que era um filho que ela tivera e que fora devolvido com vida à sua tribo, por ordem dos espíritos, que tinham pra ele, grande futuro, e que por isso, seria poupado. Portanto, deveria ser levado ao lugar que fora capturado e que nunca deveria falar, sobre o acontecido a ninguém, e se dele fosse gerado outro filho homem, que lhe seria entregue do mesmo modo. Como prometido, foi vedado e deixado no mesmo ponto onde fora capturado, as Ykamiabas, ainda lhe presentearam com um lindo amuleto de uma pedra esverdeado que orgulhosamente ornamentava seu pescoço e era de fato muito admirado por isso, mas tarde, veio a se tornar cacique, onde manteve um cordial relação com as ykamiabas, sem guerras. Todas às vezes na época certa, ele fazia a escolha dos jovens mais fortes e os cedia para o ritual de reprodução das guerreiras, obrigação aceita com o maior prazer pela rapaziada.

Molar
Enviado por Molar em 08/03/2021
Código do texto: T7201805
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