SONHOS

SONHOS

Sentado à frente de seu computador, pensava nos rumos que sua vida havia tomado. As palavras não apareciam na tela, sempre tivera dificuldades para se expressar verbalmente, mas não redigindo. Entretanto, neste momento, não conseguia escrever uma frase sequer.

Por outro lado, seu pensamento não tinha limites nem fronteiras. Sua vida, como por encanto, aparecia nítida na sua mente. Atingira uma idade avançada e vivenciara acontecimentos e experiências, que mereciam ser relembradas.

Não que suas recordações fossem importantes ou significativas, porém eram suas e estavam guardadas num canto qualquer do seu coração ou da sua imaginação. Sim, da imaginação, porque de tão queridos ou desejados, os fatos adquirem um colorido e uma verdade, nem sempre condizentes com a realidade.

E assim foi divagando. Lembrou-se de sua infância feliz, vivida livremente nas ruas pouco perigosas de uma cidade, que àquela época, não lhe parecia grande. Sua cidade era sua rua, seus amigos eram o povo, sua alegria era o folguedo, suas festas eram as juninas e o carnaval era o seu bloco. Seu mundo era pequenino mas lhe bastava. Que saudades dos balões, do futebol com bola de borracha, das pipas, das fogueiras de São João, dos doces de São Cosme e Damião (que ele não comia), e da primeira namorada, para quem nunca se declarou. Quanta energia e quanta correria.

De repente, viu-se prisioneiro das próprias lembranças. Ele, outrora lépido moleque, que gostava de correr pelas áreas verdes, subir em árvores em busca de uma fruta gostosa, tomar banho frio de cachoeira, hoje se queda como um velho, vivido e romântico é verdade, mas com imensa dificuldade para se locomover ou mesmo para se por de pé. Estava neste dilema, entre a infância e a velhice, quando diante dele surgiu um menino risonho, risonho como ele fora, a lhe estender a mão. -Venha!, dizia ele, vamos brincar!

Olhou para o lado, viu sua bengala, e pensou: não estou acreditando. O menino insistia, -venha, vamos correr! Relutou por alguns instantes e por impulso segurou sua mão. Neste momento, notou que uma vitalidade e uma força invadiam o seu corpo cansado. O que estava acontecendo?

O menino lhe transmitia segurança e ele, corajosamente, não titubeou em acompanhá-lo. De súbito, notou que corriam juntos e suas pernas leves lhe permitiam correr por um campo verdejante. Sentia um vento fresco a lhe tocar o rosto. Depois, pararam perto de uma fonte de água límpida e fresca e dela beberam.

Ao seu lado, sorrindo o menino lhe indagou, - está cansado?

Quase chorando, respondeu, - não!, nunca me senti tão bem. Estou feliz! dizia com um semblante claro e sem rugas.

Ao mesmo tempo, notou que a aparência do menino se transformara. Seu rosto infantil, se transmudara. A figura que lhe apareceu, serena e ainda sorridente, não deixou dúvidas. Esse rosto adulto, que transmitia paz e sabedoria, era sim o de Jesus. Mesmo incrédulo, apesar de notar como suas próprias rugas haviam desaparecido e seus cabelos agora estavam mais escuros, ouviu dele, que aquele lugar seria a sua nova morada e que ele voltaria a ser criança.

Tudo isso é seu!, falou Jesus.

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Enviado por ABC DAS LETRAS em 10/01/2021
Reeditado em 10/01/2021
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