Princesa de gelo

Lá estava ela, andando pelo jardim, sendo iluminada pelo sol da manhã, cuja luz parecia beijar-lhe a pele. Pele tão brilhante quando porcelana recém polida, tão delicada quanto uma estátua de gelo, tão macia quanto os mais finos lençóis de seda!

Como poderia alguém aparentar tamanha delicadeza e ingenuidade, mas ter um coração tão frio? Oh sim! Tão frio quanto o tom do vestido que usava, tão frio quanto o inverno. Nada, nem ninguém parecia ser digno de aquecer aquele pedaço de gelo que ela carregava no peito.

Quando o sol estava em seu ápice, tocando tudo que lhe era permitido, iluminando fortemente todos os seres vivos, ela fugia, como se temesse que sua máscara de frieza derretesse, e se escondia debaixo de um velho salgueiro, onde uma mesa estava a sua espera, e ali, ela finalmente tirava sua máscara.

Ali ela ficava durante o dia quase todo. Lendo. Sua vida resumia-se a isso: ler; porém não poderia ser julgada, pois apenas escondida naquela parte do jardim podia ser quem realmente era: uma leitora voraz. Tardes quentes como aquela, eram sem dúvida alguma suas preferidas, pois podia fugir dos criados sem temer a neve. Não existia outra pessoa naquele castelo que conhecesse o jardim melhor do que ela.

Quando era pequena – e ainda sorria para todos – aventurou-se por entre as enormes árvores do jardim, e por acaso encontrou aquele lugar, desde então, ali tornou-se seu refúgio, seu lugar no mundo, pois apenas ali, sua coroa não era nada além de um acessório qualquer, seus vestidos não era diferentes dos demais, seu sorriso existia apenas ali.

Ali era livre! Livre de regras, livre de obrigações, livre de fingimentos, livre de tudo! Era apenas mais uma garota entre as demais, não era tratada diferente apenas por ter um coroa pesando em sua cabeça.

Mas essa felicidade não durava muito, pois ao cair da noite, sempre era incomodada com realidade, com suas obrigações. Todas as noites, sempre ouvia uma voz lhe chamar da entrada do jardim, destruindo sua paz e trazendo de volta a máscara de frieza ao seu rosto.

“– Vossa alteza?”

Maria Izabel - Pequeno Sol

20 de setembro de 2020; 15:05.