Uzumaki: O Recomeço - 01
Densas nuvens cobriram o céu há dois dias, fazendo chover sem parar. Tsubara Gonju observava a paisagem de destruição a sua volta. Para ele, a natureza estava triste, chorando a morte do daimio do País do Redemoinho, que lutara por um longo tempo contra uma doença que insistiu em consumir suas forças.
Nem mesmo os cuidados dos mais experientes médicos do palácio, com todo seu conhecimento sobre ervas curativas, foram suficientes para conter o avanço da doença. Por fim, os anciões pediram ajuda ao País do Fogo e ninjas médicos da Vila da Folha vieram e ficaram por alguns dias.
No final, a enfermidade venceu e o país ficou órfão.
Um fato que complicava ainda mais situação do país foi que o daimio morreu sem deixar filhos, colocando o país sob a direção de um conselho de anciões que começava a mergulhar a nação num conflito político entre as famílias nobres.
A chuva continuava forte, encharcando seu manto e capuz, mas Tsubara mantinha-se imóvel em meio aos muros e paredes caídos daquele antigo lugar, ruínas do que um dia fora Uzushiogakure, a Vila Oculta do Redemoinho, símbolo de uma época perdida onde a pequena nação insular era forte e respeitada.
E esse respeitado poder tinha um nome: Clã Uzumaki.
Filho de um dos conselheiros do senhor feudal, Tsubara sempre circulou pelos corredores do palácio, admirando-se das histórias contadas pelos mais antigos sobre o passado de glórias, histórias carregadas de melancolia sobre uma época liderada pelos Uzumaki.
O clã de habilidosos e sábios shinobi possuía características físicas únicas, como os peculiares cabelos ruivos, oriundas da grande quantidade de chacra que portavam, o que lhes dava longevidade e resistência acima do normal. Além disso, conheciam um sofisticado conjunto de poderosas técnicas de selamento, os fuinjutsu, como também ninjutsu médicos e de invocação.
Ao longo do tempo essas habilidades foram solicitadas por outros países e vilas ocultas, especialmente o País do Fogo e a Vila da Folha, com quem os Uzumaki possuíam longa amizade, selada desde a época do Primeiro Hokage, Hashirama, que teve como esposa a honorável Uzumaki Mito, a mulher que se tornou o primeiro jinchuuriki da Kyuubi, a raposa de nove caudas.
Todo esse poder e conhecimento passou a ser temido por muitos clãs, a ponto de uma união entre algumas das grandes vilas atacar Uzushiogakure no período da Terceira Grande Guerra Ninja, destruindo-a por completo e mergulhando o País do Redemoinho no esquecimento. A nação se tornou uma mera sombra do que fora outrora e nunca mais se ergueu. O clã Uzumaki foi praticamente extinto, mas algumas histórias relatam que alguns poucos shinobi conseguiram sobreviver e refugiaram-se em pontos espalhados pelo continente.
Tsubara sempre foi ávido por conhecimento e desde a infância adorava saber sobre a história das coisas, dos lugares e, principalmente, do mundo shinobi, sempre lendo alguns dos poucos pergaminhos salvos da destruição. Sempre nutriu grande respeito pelos famosos guerreiros ninjas, chegando até a tentar se tornar um deles participando de um exame chunnin em Konoha, mas sua total falta de habilidade o impediu de continuar com esse objetivo.
- Senhor, precisamos ir, a assembleia está para começar.
Tsubara foi interrompido em seus pensamentos quando Onori, um dos empregados da família e amigo de confiança, o trouxe de volta para a realidade. Seu pai, o conselheiro Kimura, o nomeara membro da comissão comercial e precisava marcar ponto em todas as reuniões, ouvindo as queixas de pescadores e agricultores sobre a falta de recursos para o conserto das embarcações e para a compra de sementes.
O país, empobrecido ao longo do tempo, estava atravessando um momento difícil, sobrecarregando o povo com mais impostos, penalizando principalmente os mais pobres. Uma realidade que incomodava o jovem membro da nobreza. Algo precisava ser feito, pois sonhava em ver seu país forte de novo como no passado distante.
- Você sabia que boa parte dos recursos dos grandes países vem de suas aldeias shinobi? - perguntou Tsubara, ainda contemplando a montanha de escombros – Quando algo assim voltar a ser realidade para nós, Onori, a situação mudará para melhor.
- Admiro sua nobre intenção, senhor, mas acredita realmente que os boatos sejam verdadeiros, que membros do clã perdido possam estar escondidos em algum lugar?
- Sim, meu caro Onori. Apesar do pouco que consegui coletar até agora, meu coração me diz que não posso desistir, nossa nação depende disso.
- Por que diz isso, senhor?
- Não percebe que estamos entrando em mais um conflito desnecessário que pode arrastar nosso povo para a penúria total? Os anciões, incluindo meu próprio pai, não aprenderam com o que viveram no passado e, preocupados com suas disputas de poder, não se importam em mergulhar o país em mais uma tragédia. Eu era apenas uma criança nessa época – Tsubara apontou para as ruínas logo a frente – Mas você deve lembrar dos tempos antes da destruição, quando nossa força ainda estava presente.
- Sim, lembro de visitar muitas vezes esta vila ao lado do seu pai e de conhecer alguns de seus habilidosos ninjas. Era uma época em que o sentimento era de proteção e segurança. Uma pena isso tudo ter acontecido.
- Toda grande nação também carrega um símbolo de poder, que são suas aldeias shinobi. Enquanto esse símbolo brilha forte, a nação também floresce. Mas se ele desaparece, a nação cai junto. O País do Redemoinho há muito está sem seu maior símbolo, e seus representantes estão perdidos sem saber que seu país precisa deles. Eu tenho um desejo, Onori, e as últimas informações que recebi dos meus contratados renovaram minhas esperanças. Logo iniciarei minhas buscas.
- Então o senhor quer dizer que…
- Sim, Onori – interrompeu Tsubara – Farei uma jornada em busca das chamas que farão nosso símbolo brilhar de novo. E diante das ruínas do passado eu, Tsubara Gonju, prometo ser aquele que promoverá a ascensão do clã Uzumaki, salvando o presente e construindo as bases do futuro.