Surrealismo
Deitado em meu tapete voador, contemplo o solene cavalo alado que pacientemente trota pela planície. "Que belo espécime", penso eu, folgado com a belíssima vista. O caminho que se estende pelas montanhas de papel foi aberto pelo grande dragão adormecido - e rabugento - que acordou um dia mau humorado com as estrelas cadentes que cismavam em pular em cima de sua barriga.
O vento suave recita Tom Jobim, me fazendo tamborilar com os dedos a canção, acompanhando-o em um soneto. Minha atenção é desviada para um grupo de crianças azuis, que animadas montam em um elefante anão; suas risadas espantam um ipê amarelo, que comenta com outro:
- lá vem os pestinhas.
Com imenso prazer, volto-me a observar o céu, que com seus sete brilhantes arco-íris, me dá um show particular. Rio alto, complemente feliz; o cavalo alado me observa e pergunta se está tudo bem. Claro que está, respondo de volta, convidando-o para um passeio nas nuvens.
Vamos subindo cada vez mais, e acabo esbarrando a cabeça em uma estrela, que me olha com reprovação. Manifesto meu pesar, e sigo para as nuvens, macias e fofas, que mudam de cor.
Quando vou tocá-las, meu despertador toca alto, me despertando e tirando-me de meu mundo mágico e colorido, me trazendo de volta para meu triste mundo cinza. Me levanto desapontado, me preparando para mais um cansativo dia de trabalho, sem cavalos alados, dragões, arco-íris ou nuvens macias;
sem risos, sem alegria.
Dedicado a todos que sonham.