MUSA INSPIRADORA
Então ela se deixou levar por aquelas letras, e foi indo cada vez mais longe, até perder o caminho de volta. Presa dentro de um labirinto, procurava saída e nada. Avistou uma luz e foi até seu encontro, mas era o reflexo do brilho da lua nas folhas dos arbustos, que se emaranhavam mais e mais. Passos infinitos. Frustrados retornos ao mesmo lugar. No entanto, viu um cravo encrustado nas pedras junto aos arbustos. Ele parecia se contorcer ali, querendo sair daquela prisão que lhe privava os galhos. Triste cravo, tão perdido quanto ela, mas ela queria estar ali. Ouviu um barulho, e não parava o tal ruído; pareciam riscos intermináveis, rápidos, apressados... Ela olhava tudo ao seu redor, e sinestesicamente seguiu o ruído que era demasiadamente estridente, e cada passo a levava mas próxima a ele. Foi então que ela ouviu páginas, muitas páginas sendo foleadas, arrancadas... E um silêncio ensurdecedor pairava no ar, até que passou a ouvir seus próprios batimentos que agora já estavam descompassados. Num corredor que se estreitava entre galhos e folhas, ela adentrou-se até chegar a uma porta, e lá estava ela de frente com sua própria imagem de perfil na parede, com a mão no queixo e pensativa, sendo contemplada por um escritor envolto por papéis amassados, com uma caneta tinteiro tocando os lábios, com seus pensamentos tão distantes e tão perdidos quanto os dela.