O Velho Osodi e a Senhora Etrom
Desta vez, a história que eu vou contar se passa num lugar com o nome de Aldeia Zilef. Alguns dirão que a palavra Zilef lida de traz pra frente quer dizer "feliz". E era exatamente como era essa Aldeia. Uma Aldeia feliz.
Os moradores dessa Aldeia eram realmente muito felizes. As crianças brincavam muito. Os adultos estavam sempre com um sorriso no rosto, até quando iam trabalhar. Todos se divertiam, passeavam. Era uma realmente Zilef. Quero dizer, era uma Aldeia realmente feliz.
Até mesmo os mais velhos nunca paravam de trabalhar. Cada um tinha ainda sua profissão desde quando eram mais novos e continuavam a fazer suas tarefas mesmo já velhinhos.
Tinha um velhinho de nome Osodi que morava numa casinha simples no alto da montanha que fica em torno da Aldeia Zilef. O velho Osodi era um oleiro muito famoso e sua especialidade era fazer pratos.
Pratos grandes, pequenos, brancos, coloridos, fundos, rasos, uma variedade sem fim de pratos.
Osodi era um velho de sorte, porque na Aldeia Zilef nunca faltou comida. Assim, os moradores usavam e compravam muitos pratos. Se algum prato quebrava, era só ir até a olaria do Velho Osodi e comprar outro prato igualzinho pra colocar no lugar daquele que quebrou.
Na Aldeia Zilef tudo se resolvia da melhor maneira que se podia.
Um dia, apareceu na Aldeia uma velha senhora muito estranha. Ela se vestia toda de preto, dos pés à cabeça. Há quem diga que essa senhora era uma pobre bruxa que apareceu na Aldeia Zilef apenas para pedir um prato de comida ou um copo de água pra beber. Ela era a Senhora Etrom.
Todos tiveram medo dela. Quando alguém perguntou quem era ela, a velha senhora rapidamente gritou seu nome: "Etrom!" que pareceu um trovão assustando todo mundo e colocando todos para correr pra dentro de suas casas.
Ninguém queria ouvi-la.
Ninguém queria vê-la.
Ninguém queria atendê-la.
A Senhora Etrom não ganhou comida nem água de ninguém.
Ela então respirou fundo, fechou a cara e foi-se embora decepcionada. Quando a Senhora Etrom chegou no alto da montanha, pertinho da olaria do velho Osodi, e gritou pra todo mundo ouvir:
"- Pra que tanta ganância? Não me deram de comer e nem me deram o que beber. Pois, quando lhes faltar comida e bebida, quero ver o que irão fazer! "
E partiu soltando uma forte gargalhada que espantou até o sol. O céu escureceu e ficou pra sempre nublado.
Céu escuro, tempo frio. A Aldeia Zilef começou a ficar fria e triste. Ficou um lugar sombrio.
Os moradores se trancaram dentro de casa. Todos! As crianças não brincavam mais. Os adultos não saíam pra trabalhar. Sem trabalho, não se ganha dinheiro, não se compra comida. Se não comem, não usam pratos. Sem pratos, o oleiro Osodi como fica?
Ele fica muito preocupado. Anda dentro da sua casinha de um lado pro outro.
De repente, Osodi pára na frente de um armário cheio de lindos pratos.
Os olhos dele se enchem de lágrimas.
Num gesto rápido, Osodi abre a porta do armário de pratos e pega o prato mais bonito que lá havia e gritou:
"- Pra quem eu vou ser útil se ninguém precisa mais dos meus pratos? Maldita Senhora Etrom.
E joga o prato no chão que partiu em dezenas de pedaços.
Osodi solta um grito e cai de joelhos no chão, pertinho do prato quebrado e começou a chorar.
Na mesma hora, começou a chover na Aldeia Zilef.
O barulho da chuva fez os moradores abrirem suas janelas para assistirem a beleza da chuva caindo.
O velho Osodi enxugou suas lágrimas, olhou o prato quebrado e se arrependeu do que havia feito.
"- Ai ... Era um prato tão bonito. Que culpa que ele tinha?"
O velho Osodi, então, respirou fundo. Se levantou. Pegou um tubo de cola e se pôs a colar os pedaços do prato.
A cada pedaço colado, Osodi suspirava.
E na mesma hora, um vento gostoso soprou na Aldeia Zilef que levou as nuvens negras pra bem longe.
Os moradores não estavam entendendo nada do que estava acontecendo.
Muito menos o velho Osodi que estava tão entretido com o remendar do bonito prato que não percebia a mágica que estava fazendo.
Assim que o velho Osodi terminou de colar o prato, um sol amarelinho iluminou a Aldeia Zilef e um lindo arco-íris brilhou no céu.
Todos saíram pra fora de suas casas.
As crianças brincavam e pulavam as poças d'água que ficaram no chão.
Os adultos se preparavam para ir trabalhar.
O velho Osodi ouviu os moradores sorrindo e conversando. Foi até a janela da sua casinha, olhou a Aldeia e sorriu. Olhou também para o prato em suas mãos, o beijou e o apertou no peito bem pertinho do coração.
Dizem que depois disso, a Senhora Etrom nunca mais foi vista por lá.
O velho Osodi nunca soube da maldição que ele havia ajudado a quebrar, quebrando e remendando aquele prato que ele jogou no chão. Aliás, esse prato virou uma mandala e fica agora no canto mais iluminado da olaria do velho Osodi.
Toda vez que ele quer fazer um pedido, ou fazer uma oração, ou agradecer por algo, o velho Osodi se ajoelha na frente do prato-mandala, respira fundo, fecha seus olhos, e fica ali fazendo "OM".
Hoje, quando algum morador da Aldeia Zilef o procura para comprar seus pratos, o velho Osodi sempre fala:
"- Que nunca falte comida na sua casa e que você quebre muitos pratos. Assim, eu vou ter muita vida e muito trabalho pela frente."
Essa é a história que se passou na Aldeia Zilef que será pra sempre um lugar onde todo mundo vive feliz.
OM!