ASSEMBLÉIA NA FLORESTA

Conta-se que numa determinada floresta houvera um grupo de animais descontentes com o seu rei, porém ninguém sentira coragem de expor suas ideias, seus reclames, sua revolta. O sol ficara embaciado, a lua preguiçosa, o vento não mais soprara como dantes, o mar se aquietara, o rio se divorciara, a cachoeira não mais derramara suas lágrimas. Esta situação continuara sem que alguém tomasse uma atitude a fim de modificar o marasmo que se instalara.

Certo dia, um macaco esperto, solitário resolvera sair de sua zona de conforto dirigindo-se ao rei a reclamar da situação, este ao vê-lo só, despachara-o solenemente. Seus assessores percebendo o coitado sair do palácio com o rabo entre as pernas zombam ferozmente dele, porém ele não se deixara abater pela situação, pois cria ser necessário uma mudança radical ou todos pereceriam. Chegando em sua aldeia o falatório já estava em alta, cada qual expressava sua opinião. Alguns mais eufóricos soltavam impropérios contra o solitário macaco, pois sua atitude com certeza iria dificultar ainda mais a situação daquela floresta. “Desde quando este xerido vai resolver o nosso problema”? Outros falavam que sua atitude fizera o rei chateado e diante disto se vingaria de todos. O cavalo não aguentando tanto disparate saíra a cavalgar pelos campos a fim de esquecer tudo aquilo, queria mais é paz e liberdade para si, não se envolvia nas questões alheias. Apesar de ver alguns parentes sendo usados como burros de carga, mesmo não concordando, também não os defendia. Cada um que lute pela sua sobrevivência, dizia para si. A hiena assistia a tudo com seu largo sorriso provocando gargalhadas nos demais, verdadeiro bobo da corte. O papagaio repetia tudo que ouvia, tipo maria vai com as outras, sem opiniões próprias, sem discernimento, um zero à esquerda. O tucano na sua insegurança resolvera ficar empoleirado no seu galho preferindo assistir a tudo de camarote, sem manifestar-se. O leão, o mais raivoso e feroz, vez ou outra rosnava marcando território, sendo ouvido por toda a floresta, mas quando cansava procurava uma linda sombra para um descanso “merecido”. A cobra com seu trejeito maroto ficava a espreita ouvindo o falatório pronta para dar o bote quando fosse necessário, de todos os animais é o mais astuto, por isso muitos não confiam neste rastejante em especial o rei da floresta, sabedor de sua astúcia.

É verdade que em cada sociedade forma-se grupos afins. Com a onça pintada não fora diferente, ela formara seu grupo com o intuito de manter o “equilíbrio” da floresta, quer dizer controlar um grupo pensante que defendesse certos interesses...A girafa assistia a tudo do alto de seu pedestal fauces sem emitir opinião, preferia degustar folhas verdinhas das plantas virgens. Os ruminantes cada qual no seu grupo estavam mais preocupados em defender seus territórios do que discutir o sexo dos anjos. O veado e a gazela saíram a saltitar pela floresta, pois o que interessavam a eles era saber o final de toda aquela discussão. Para transmitir a eles o resultado de toda falação, nada melhor que um amigo interesseiro e interessante, o chupim.

Um grupo de simões assistindo a tudo condoeu-se do solitário macaco pelas críticas desvairadas vinda de todos os lados. Aproximaram-se dele oferecendo o apoio do grupo as causas defendidas pelo único animal que tivera a coragem de enfrentar o rei encastelado. Diante de tal atitude os demais animais se espantaram pela coragem e “ousadia” daquele grupo “insurgente” causando certo desconforto em alguns que se consideravam autoridades naquela sociedade animalesca. Certa apreensão surgira, porém o grupo de simões, inteligentes e espertos que são, criaram uma situação tal, que aos poucos foram surgindo adesões para a causa satisfazendo aquele que houvera iniciado a luta de uma forma solitária. Formara-se uma comissão mista para debaterem com o rei suas reinvindicações, porém ao delegar funções naquela comissão chegara-se à conclusão de que todos almejavam um cargo especial, voltando a estaca zero seus objetivos iniciais. Sem chegarem a um acordo, o solitário primata decepcionado com o desfecho da assembleia animalesca abdica de sua luta social iniciando uma inesperada luta interna a despeito de toda a caminhada até então. Seus sonhos frustrados, sua decepção para com alguns animais, porém sua fé numa sociedade mais justa e igualitária continuava a ecoar na sua mente e no seu coração. A floresta não fora mais a mesma. Grupos de diferentes pensamentos foram se formando. A desconfiança aumentara entre seus pares, a intolerância elevara-se. Setores daquela sociedade criaram corporações a fim de defender seus interesses. Animais de todas as categorias bajulando seu rei sem sentirem peso de consciência. O rei no seu castelo de areia ficara a se perguntar: afinal que rei sou eu? De quem? Para quem?...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 02/08/20

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 02/08/2020
Reeditado em 02/08/2020
Código do texto: T7024211
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