Dafne e Os Guardiões Espaciais - Cap 6: Ataque dos Espectros
Alheios à percepção das pessoas embaixo, as três criaturas voavam por cima dos telhados, farejando as emanações mágicas que haviam captado a poucos instantes. Há dias percorriam sorrateiramente a cidade em busca de qualquer manifestação mística, assim como ordenara seu mestre. E agora, finalmente, encontraram o que tanto procuravam.
Exausta, Dafne deitou de costas no chão e esticou os braços, ficando ali, ofegante e com a irritante dor de cabeça, fitando as nuvens do céu. Ela e sua amiga Kaila tinham passado um bom tempo naquele pequeno beco testando seu controle sobre os braceletes.
O resultado a deixou alegre pois conseguiu realizar algumas coisas interessantes com as energias do artefato, como pegar pequenos objetos no ar e arremessá-los. Até uma grande caixa de lixo tinha conseguido empurrar. Mas o esforço mental que empregou para realizar as tarefas a deixou esgotada, e a dor de cabeça impedia a concentração.
Independente disso, sua fiel amiga ficou o tempo todo incentivando-a. Na verdade Kaila demonstrou bem mais empolgação do que ela mesma, pulando de alegria toda vez que conseguia manter o controle das energias dos braceletes.
- Nossa, foi tão divertido e incrível ver tudo isso. Olha, não vou achar ruim se quiser vir aqui e treinar todas as tardes, quem sabe você até poderia me emprestar um desses braceletes. Formaríamos uma bela dupla de super garotas poderosas – Kaila, mergulhada em sua imaginação, estava sentada ao lado da amiga, gesticulando empolgada.
- Fala isso tudo porque não foi você que precisou suar pra fazer aqueles movimentos com a mão de luz. Minha cabeça parece que vai explodir – falou Dafne, ainda recuperando o fôlego. Jamais imaginaria que precisaria de tanto esforço para usar os artefatos. Lembrou do estranho transe que tivera na tenda de Madame Kamala e da cena com Maiera. Mesmo tão jovem, já tinha um excelente controle sobre os braceletes. Como conseguiu chegar àquele nível?
- Realmente você está um caco – disse Kaila, prestando maior atenção no rosto suado e nos cabelos desgrenhados da amiga – Bom, acho que é melhor voltarmos para casa, você precisa de um belo descan….
- Kaila, cuidado – gritou Dafne quando viu pousar no alto do prédio ao lado uma estranha criatura que, ao avistá-las, mergulhou rapidamente em sua direção. A única coisa que conseguiu fazer, de forma instintiva, foi empurrar a amiga para o lado.
Kaila levou as mãos à boca e gritou de pavor quando viu algo cair velozmente em cima de Dafne, gerando uma explosão de poeira e pedaços de pedra. Quando o vento dispersou a poeira, ficou surpresa ao ver que Dafne estava viva. A amiga tinha criado uma redoma de proteção em volta de si e uma grotesca criatura, com asas, grandes garras e uma boca cheia de dentes afiados, batia em seu escudo de energia dourada, tentando quebrá-lo.
Para piorar a situação, uma segunda criatura, com chifres e tão grotesca quanto a primeira, pousou a poucos metros de Kaila. A garota gritou de pavor e tentou se afastar, mas a criatura foi mais rápida e levantou o braço para atacá-la com as imensas garras. Mas antes que pudesse tocá-la, um grande punho de energia dourada atingiu a fera. A força do impacto abriu um buraco na parede.
O esforço demasiado em manter a barreira em volta de si e ao mesmo tempo atacar a outra criatura foi demais para Dafne. Sentindo uma dor lancinante na cabeça, perdeu a concentração e, colocando as mãos sobre o rosto, lutou para não desmaiar. A redoma de energia se desfez e a horrenda criatura atacou com ferocidade. Encarando a fera com um dos olhos, Dafne aguardou a morte certa.
Mas não foi isso o que aconteceu.
Dafne se viu tragada pelo chão bem na hora que a criatura golpeou, atingindo o vazio. Um segundo depois, solta no ar, caiu nos braços de um senhor de barbas e cabelos brancos. O mesmo a afastou rapidamente para o lado e começou a gesticular com as mãos como se estivesse desenhando no ar.
Logo em seguida viu a mesma coisa acontecer com a amiga quando uma espécie de porta escura se abriu atrás de Kaila e a sugou para dentro, fazendo-a aparecer quase que instantaneamente ao seu lado, assustada, tentando entender o que havia acontecido.
As criaturas, ao perceberem a presença do homem de cabelos brancos, ficaram mais raivosas, mostrando os dentes e arrastando as garras no chão. Não suportando mais o mau estar, Dafne desmaiou e foi aparada por Kaila.
- Dafne – gritou Kaila, angustiada em ver a amiga inconsciente.
- Ela está bem, apenas desmaiou. Agora fique calma enquanto cuido daquelas coisas – o senhor gesticulou e um estranho símbolo, verde e brilhante, apareceu no chão sob as garotas. Uma barreira de energia se formou em volta delas.
Olhando para os monstros alados, o homem caminhou em sua direção enquanto criava outra das estranhas portas escuras, esticou o braço e puxou de dentro uma arma grande. Percebendo o perigo, as criaturas avançaram voando, zigue-zagueando em velocidade, rosnando com ferocidade.
O homem fez mira e disparou, acertando em cheio o peito de uma das feras com um feixe vermelho, derrubando-a. A criatura tentou se levantar mas não conseguia pois algo a prendia seus movimentos. A segunda se aproximou o suficiente para atacar e cuspiu uma gosma esverdeada. A substância não chegou a atingi-lo, pois na mesma hora conseguiu criar uma outra porta, transportando o ataque para uma parede próxima, fazendo derreter alguns tijolos.
Fracassada sua primeira investida, a fera avançou ainda mais e conseguiu golpear a lateral do corpo do oponente, arremessando-o contra uma parede. Mesmo caído sentado, o homem ajeitou a arma e atirou, mas a criatura conseguiu se esquivar do disparo e golpear com toda força logo em seguida. Segundos antes o homem tocou na parede logo atrás e um símbolo vermelho se desenhou.
Apostando em sua reação, o homem conseguiu se esquivar por pouco do golpe. As garras da criatura atingiram a parede e sua mão ficou colada, presa pelas energias do símbolo. Rosnando, tentando inutilmente se soltar, calou-se quando um feixe a atingiu no peito, fazendo-a desabar.
O homem se aproximou e tocou o corpo da criatura com um amuleto que acabara de retirar do sobretudo que vestia.
- Volte para sua dimensão, espectro – falou, observando o monstro desaparecer. Logo em seguida caminhou para a outra criatura e fez o mesmo.
Voltando a atenção para Kaila e Dafne, desfez a barreira de energia que as envolvia e fez surgir uma das portas escuras, jogando a arma lá dentro.
- Vamos, precisamos sair daqui. Pode haver outros farejadores a espreita – o homem pegou Dafne nos braços e saiu caminhando.
- Hei, para onde a está levando? Ela é minha amiga.
- Não se preocupe, não quero levar sua amiga embora. Conheço um lugar onde podemos ficar mais seguros. Me acompanhe.
- Mas quem é você? - perguntou Kaila.
- Me chamo Albion. Mas agora deixe as perguntas e respostas para outra hora.
Do alto do prédio, depois de observar todo o combate que havia se desenrolado no beco logo abaixo, uma terceira criatura alada alça voo de volta ao seu mestre.