227 - Cartas
A mulher, a roçar sessenta, sentia-se só. Enviuvou cedo e ficou bem monetariamente. Ainda tentou agradar a mais um ou outro até perceber que o que os motivava era só o dinheiro que tinha. – Sinto-me posta de lado. Ninguém me escreve, não convivo com ninguém. Tomo o café, vejo as modas e quando não há gente para conversar, volto e já não saio. Ah se eu tivesse quem me escrevesse cartas. Se eu tivesse vontade de sonhar quando as lesse, se me apetecesse dar-lhes resposta, que boa seria a minha vida com as plantas, o gato e os sonhos. Acha-me estranha? Perguntou ao jovem a quem fazia as confidências. Não, senhora. Acho que o problema das cartas, talvez eu pudesse resolver, disse, cruzando os dedos sobre o tampo redondo da mesa. A Dona Estefânia gostaria de receber cartas e eu não me importo de lhas escrever. Se aceitar as condições, começo já a enviar para o correio com a periodicidade que achar conveniente - Sim? E quanto me custará esse agrado? – Deitando contas ao papel, aos envelopes, ao selo e ao trabalho de ir ao Correio para as enviar, escrevê-las-ei por oito euros se forem de assuntos comuns e dez euros para as românticas, das que possa mostrar para fazer raiva a invejosos. Seria muito mais em conta se fossem por e-mail… acrescentou. - Escolha. E a Fany, como preferia ser chamada, decidiu que teriam outra força escritas à mão. Queria-as todas das mais caras. Há gostos que se pagam, disse com o mais rasgado sorriso.