Capitão Sanduíche
O carro balançava de um lado para o outro. O pequeno Eric bocejava no banco de trás enrolado em uma coberta. Seus pais seguiam em direção a um lugar já conhecido e muito bem frequentado por Eric.
O carro para subitamente e seu pai com o pescoço torcido pra trás diz:
- chegamos!
Sua mãe falava ao celular, deu uma pausa e disse:
- pode ir filho.
Eric abre sua porta e desce com sua mochila nas costas e cobertor nas mãos. Caminhava em direção a uma porta aberta de uma velha casa. O carro arranca e desaparece.
À porta vovô Francisco o aguardava com seu tênue abraço.
Já dentro de casa, Eric sentado com a cara amuada fixava o olhar atônito em direção a nada.
- tá na hora do sanduíche?! – interpelou vovô Francisco.
A feição do pequeno mudou e logo foi estampado um sorriso de alegria. Em poucos instantes o senhor vai até a cozinha e volta agora, caracterizado. Vestindo seu avental e sua touca de cozinheiro. Se trasnformou no icônico capitão sanduíche. O super herói particular de Eric.
Eric corria em círculos pela sala. Com os braços esticados e punhos cerrados imaginava um voo pela estratosfera terrestre ou até mesmo, as vezes outros planetas do sistema solar.
Capitão sanduíche munido dos seus super poderes deflagrava o pão e o queijo com velocidade surpreendente. Tudo era feito muito rápido e em um piscar de olhos estava pronto.
Mas o capitão não foi rápido o suficiente. O preparo de seu super sanduíche havia custado tempo suficiente para que Eric subisse em sua cômoda de mogno e derrubasse um precioso porta retratos.
Olhos esbugalhados.
A grande e doce mão do capitão tocou seus cabelos.
- não se preocupe, sente-se e coma.
Com seus dedos miúdos Eric seca uma única e pequena lágrima para logo depois agarrar seu super sanduíche com uma voraz convicção. Mas seus olhos ainda voltados para a fotografia repousada no chão.
- quem é ela? – disse de boca cheia.
O capitão o toma no colo e leva até a poltrona. Sentado em sua perna estraçalhava seu desjejum enquanto o capitão sanduíche começava a falar com a voz embargada com uma emoção profunda e serena. Era um tom tão sutil que a percepção infantil de Eric não podia perceber.
- a muito e muito tempo atrás... Uma criatura triste e estranha vivia sozinha, sem se quer uma alma para conversar...
Era a primeira vez que ouvia falar de sua avó que nunca conheceu. Depois de contar uma breve história, capitão sanduíche tira a touca e avental.
-vamos ao jardim. – sorria
A temperatura era agradável e instantes depois de pisarem no gramado Eric revolvia a terra do canteiro.
- olha, está nascendo.
- sim, vai crescer muito.
Vovô Francisco apontou o dedo para o final da cerca.
- já está na hora de colher. – afirmou
O menino correu até perto do imenso fruto alaranjado. Era inacreditável. Seus olhos viam, mas não acreditava. Como é que uma minúscula semente se transformou nesses longos ramos espalhados por toda a cerca? Pensava ele. Depois vieram as flores que por sinal pareciam muito deliciosas dado a visita frequente de vários e vários insetos. Depois veio o fruto que era muito pequeno e agora imenso. Um mistério daqueles.
- como é que isso cresce? Interrogou seu avô
- é um milagre. – respondeu Francisco depois de pensar um pouco.
Eric franzia o cenho sem entender muito bem o significado da resposta mas assentiu com a cabeça.
- entendi.
Não adiantava explicar todo o processo do desenvolvimento da planta ao garoto. Seu vocabulário muito limitado não permitiria que ele compreendesse qualquer coisa. Mas sua resposta estava longe de ser falsa. Sabia que do germinar de uma semente até o amadurecimento do fruto elucidava muito bem o significado da palavra “ milagre”.
- o tomate também é um milagre? – perguntou curioso, limpando algumas gotinhas de suor em sua testa enquanto rolava a pesada abóbora para dentro de casa.
- todo esse jardim é um verdadeiro milagre. – afirmou Francisco
O menino assentiu com a cabeça novamente empurrando para cima da escada seu grande milagre.