A garota que deixei à minha espera

EXCALIBUR

Olhando a janela vejo um semblante que escorre em luz. Do seu rosto liso e bonito nascem fios de pelos, uma barba rala que cresce e se fecha em floresta. Na floresta de inúmeras árvores corre uma mulher no tapete das folhas. A cada passo, as folhas se fecham, dobram sem som e voltam como estavam antes. Os pés saboreiam as ondas de folha e deixam-se levar. Nos tornozelos, haste de copos de champanhe, uma pulseira de ouro veste um dos pés descalços.

Subindo em brisa minha mão paira em seus joelhos articulados. Três dedos se prontificam e percorrem aquela dobra em espiral. Como em um buraco negro se desespiraliza e os três dedos em linha sobem pelos brancos pêlos nus de sua coxa.

Ela veste o algodão sem fibras. De forma branca e transparente o vestido só contorna o ser humano. Os dedos lutam contra os pêlos clareados pelo sol de outono. Cada pêlo transmite ao outro a delícia do toque em forma de pequenas antenas de formigas. Os pêlos engrossam, as antenas tremem.

Não. Aproveitemos e esperemos que o lago se aproxime. Montanhas em neve circundam o lago que recebe um facho de pequenos cristais de sol. O sol se parte em diamante e reflete os seios que agora estão nus. São seios firmes, arredondados, proporcionais. Como um bebe recém-nascido os dedos buscam em vão os seios que agora mais rígidos que nunca são saboreados pela água translúcida. Mas não em vão os dedos conseguem dedilhar as costas como um piano que sentem a mão jovem do aluno de primeira aula. As costas

retribuem com um leve eriçar de pêlos num misto de gelo das montanhas e calor das unhas.

Seus cabelos já se abrem como um girassol depois de uma longa noite fria; longos, se espalham tomando toda a volta. Ela nada como voa. O sol entranha-se em suas curvas. Os três dedos não a alcançam mais. O vento a acompanha.

Ficam minhas vestes. Ficam meus olhos que agora se entreolham no espelho da janela que se abre para me entregar … dama do lago ou ... Excalibur.