O velho

Havia um homem velho, que se sentia desconfortável no mundo, mesmo possuindo quase uma centena de anos, via que sua existência passou como um conto ligeiro, como nada, de fato os filósofos sempre falaram quase como um prosélito sobre a ligeirice da existência, de como a vida humana possui uma noção capciosa de eternidade, mas na verdade nada mais é do que um esquecimento atrasado.

Este homem passou a vida em uma casa de madeira de um verde envelhecido, que se assemelhava as cores das grutas, um musgo depp, sua morada com poucas luzes nos cômodos, iluminava apenas o suficiente para se encontrar dentro dela, o terreiro era limpo, pois estranhamente o vento cooperava com o velho, chão puro de terra batida até metade da frente, a outra metade até o fundo do casebre coberta por uma grama verde, que se tornava em um jardim simples. A casa era distante da cidade, longe para quem vinha e perto para quem ia, em meio ao campo. O fundo da casa apontava para o leste, para um mistério que o velho homem passou a vida inteira desejando conhecer, mas nunca o foi, de fato, bois ferozes no campo o impedia, toda vez que tentava.

Havia um córrego de aguas escuras cheio de seixos e arbustos, era o máximo que o velho podia ir, ali fazia companhia para patos selvagens, que já tão acostumados não o temiam, a frente estava um pasto, no fim do campo uma mata densa e atrás desta, algo, extraordinário, aquilo que ele temia morrer sem conhecer, isto que desde pequeno ouvia, como um som de música suave que o seduzia, uma brisa fresca que o acariciava, até formar rugas em seu rosto.

Pensava este consigo: _ora porque estas ferozes criaturas não me permitem seguir em frente? Existem apenas para me impedir de ir longe o suficiente ou querem me proteger dessa maravilhosa intuição que a tanto tempo roubou meu coração? Nada havia para se lembrar, as lembranças eram mais sensações e sentimentos do que qualquer figura ou imagens reprisadas, eram como uma música triste e linda, que se desfazia como as lágrimas do velho, de barba longa e roupa de tecido antigo.

Invisível era seu nome, passava o dia cuidando do jardim e contemplando desejoso o mistério por traz da cortina, o véu do tempo.

DOAN