Perfect Blue - Campeão

CAMPEÃO

Depois dos acontecimentos daquela tarde, Gustavo estava mais do que decidido a partir para briga. Sem se guiar pelas emoções pensou em todos os tipos de ataque possíveis para fazer contra o Felipe. Um ataque cibernético parecia algo bem bolado, porém levaria tempo embora pudesse ser bem efetivo.

Tudo o que ele pensou só apontava pra uma coisa: Enfrentamento direto.

Gustavo sentia calafrios só de pensar em brigar com aqueles caras (Felipe e seus amigos), a simples ideia de confronta-los fazia com que seu corpo hesitasse incessantemente. Não tinha como ele vencer nenhum daqueles alunos mesmo com toda a raiva do mundo.

Gustavo percebeu os bloqueios mentais que estava sofrendo, e entendeu o que deveria ser feito e a complexidade de uma ação simples.

“Tenho que perder o medo de apanhar e de sentir dor pois isso só vai me atrapalhar... Mesmo que eu fique todo arrebentado, pelo menos um eu vou levar comigo”

Decidido o plano, a intenção tinha que ser extrema também. O simples ato de hesitar significava a derrota. Então ele numerou de pior possível para menos pior, as consequências do seu ato para ver se valia a pena brigar:

1 – Morrer ou ficar com sequelas graves.

2 – Ser expulso da escola.

3 – Ser encurralado e não conseguir bater.

4 – Ganhar e sofrer represarias.

Dado esse cenário a intenção deveria ser “lutar para matar”. Mas se Gustavo realmente fosse lutar para matar então a melhor abordagem seria levar uma faca e golpear repentinamente seu inimigo. Porém ele não se imaginava matando alguém a sangue frio assim, talvez lhe faltasse ódio ou motivação para lutar. Se fosse para “vingar” a Alessandra ou para “protege-la” então certamente ele ficaria motivado para isso. Porém naquele momento ele estava lutando por si próprio e de alguma forma isso diminuía a motivação dele “Não tem por que arrumar briga, seria melhor eu esquecer e seguir em frente”

Porém algo em seu coração também não o permitia voltar atrás daquela ideia, era algo tão intenso que ele sentia que a briga já estava comprada...

Naquela noite ele dormiu pessimamente com toda a ansiedade lhe correndo o sangue. Aquilo não fez bem para ele mesmo.

No recreio ele se aproxima de Felipe e seus amigos que estavam conversando e é recebido por olhares desconfiados. Os meninos se surpreenderam de ver ele chegando com toda aquela feição de predador e atitude.

Ficou um pouco de tempo parado na frente deles até criar coragem para dizer bem calmo olhando para Felipe:

- Eu vou te mandar um papo mas você bota fé no que eu vou te falar? Ontem você vacilou com a menina e tá todo mundo com raiva de você. Já reclamaram na diretoria e você vai acabar sendo expulso junto com seus amigos...

Gustavo está dentro do campo de ataque do Felipe com a guarda totalmente baixa. Não demonstra nenhum sinal de ataque nem pretensão de fuga. Esses aspectos são inconscientemente notados por Felipe que também não se põe em posição de combate por não se sentir ameaçado. Mas após a última frase, ele levemente se impõe mais sobre o Gustavo para intimida-lo (e se ele o conseguisse, Gustavo já teria perdido a luta naquele momento.)

- E é da sua conta por acaso? Dá nada para mim não. E mesmo se der tô nem aí. – Diz ele se aproximando ainda mais de Gustavo. – O que que você vai fazer? Se for arrumar briga nóis monta tudo em cima de você e te vira do avesso ta ligado?

Felipe empurra Gustavo o chamando para a briga mas não dá o primeiro golpe. Mesmo sendo um irresponsável ele não era idiota. Se Gustavo desse o primeiro golpe então Felipe estaria na vantagem pois seria legítima defesa e ainda Gustavo correria o risco de ser expulso.

Porém o que ele não imaginava era que seu oponente não tinha nada a perder, tanto fazia pra Gustavo ficar ou não na escola, vencer ou perder. Ele só queria confrontar Felipe.

E em um momento que pareceu durar uma pequena eternidade, Gustavo se recuperando do empurro fala:

- Eu não tenho medo de você. Se quiser a gente briga aqui e agora, ou então a gente briga lá fora pra ninguém interromper. O que você acha? Vai dar nada pra você não, eu só quero esmurrar sua cara até você desmaiar pode ser?

O jogo vira e Felipe fica hesitante, Gustavo não estava de guarda levantada e não parecia pronto pra nenhuma briga. Então de onde vinha toda aquela marra? Ou Gustavo era doido ou tinha algum plano que Felipe não percebeu.

Um dos colegas do Felipe fala atrás:

- Esse menino tá te tirando Felipe, deixa ele brigar então já que ele quer tanto.

Felipe não escuta muito bem a frase pois estava raciocinando a situação e em uma fração de segundos conseguiu concluir:

“Ele está muito confiante e não tem medo de brigar, isso significa que ele provavelmente sabe algum tipo de luta ou está escondendo alguma arma. Não vale a pena arriscar agora.”

Gustavo ainda espera a resposta e tudo o que ele vê é a figura de um oponente submisso e confuso:

- O que você quer? Você só quer brigar?

Felipe diz isso enquanto abaixa sua guarda, e isso bate pior que um soco em Gustavo. “O que você quer? ”... Gustavo não sabia o que realmente queria, mas involuntariamente como que por reflexo responde:

- Peça desculpas para a Alessandra.