Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 32: O Ritual da Espada

Finalmente o momento que todos aguardavam havia chegado.

O dia anterior fora o último da formação da nova geração de gakusho do clã Wanabi, um dia em que os alunos se dedicaram exclusivamente a repassarem todas as etapas do treinamento de quase três meses. Os movimentos de taijutsu e kenjutsu foram revisados e as técnicas do michijutsu foram realizadas até um nível maior de segurança com os elementos guia.

Na noite do dia seguinte os gakusho estavam todos reunidos, na presença dos sensei que ajudaram no processo, principalmente Azura, e também com a ilustre participação da própria shidosha. O dojo estava enfeitado para a ocasião, com o tatame coberto por um belo tapete com o desenho de uma cerejeira e lanternas penduradas em toda parte. Nesta noite os alunos participariam da solenidade chamada Ritual da Espada, onde receberiam das mãos da própria líder suas katana.

As espadas, envolvidas em belíssimas bainhas adornadas, estavam postas penduradas numa espécie de cabide na posição horizontal. Orinsuke não parava de olhar para elas até voltar rapidamente os olhos para baixo quando percebeu o sensei Azura encarando-o, condenando sua impostura.

Os gakusho estavam todos de joelhos, colocados numa formação equidistante em que ocupavam todo o tatame. Vestidos com belos quimonos de ceda, feitos para ocasiões especiais, não conseguiam disfarçar o nervosismo diante da cerimônia. Afinal, receberiam a arma símbolo de todo guerreiro e sairiam dali como os mais novos samurais do clã.

A shidosha, com seu costumeiro cachimbo exalando fios de fumaça, estava posicionada à frente da turma, olhando os alunos atentamente, fixando sua atenção principalmente em Orinsuke. Logo depois começou a falar com todos.

- Muito bem, meus jovens gakusho, finalmente o tão aguardado momento em suas vidas acabou de chegar. Aqui, no dojo onde muitas gerações de samurais Wanabi passaram, vocês iniciam suas trajetórias como guerreiros de elite. Mas não pensem que essa nova etapa será menos desafiadora como foi o período de treinamentos. A partir de agora suas preocupações, seus deveres e suas responsabilidades serão maiores do que nunca, pois aonde quer que vão, representarão o nosso nobre e antigo clã, cuja honra e poder estão consolidados desde o início de nossa chegada às terras de Endo. Portanto, menos do que dedicação plena e lealdade irrestrita estão fora de cogitação. Agora que são samurais formados, deverão saber que, assim como somos abertos a entrada de jovens de todas as partes de nosso território, também somos implacáveis contra aqueles que se rebelam. Traição, desonra e ingratidão são imperdoáveis. Entenderam, samurais?

- Sim, shidosha-sama – gritaram em uníssono os alunos.

Depois de mais algumas baforadas em seu cachimbo, a shidosha continuou a falar.

- Agora chegou a hora de consolidarem o final da primeira etapa em suas vidas como defensores do clã Wanabi. Diante de vocês estão suas katana, a arma símbolo do guerreiro samurai, representando o foco de sua força, de seu respeito, de seu status perante todos. Chamarei um por um para que recebam suas espadas. A partir de agora os declaro samurais. Que vivam e morram honrando caminho da espada.

Um a um os gakusho se levantaram quando foram chamados pela líder do clã e seguraram pela primeira vez a poderosa espada samurai em suas mãos.

Para Orinsuke aquele momento parecia um sonho. O garoto da pequena aldeia de Kimoto, que brincava com os amigos nos bosques fingindo ser um samurai a proteger as pessoas do mal, agora estava se tornando um verdadeiro samurai, e de agora em diante poderia utilizar suas novas habilidades para de fato ajudar e proteger todos os necessitados, da forma que sempre imaginou que deveria ser o trabalho de um samurai.

Sentindo o peso da katana em suas mãos e admirando sua beleza, Orinsuke inaugurava uma nova etapa em sua vida, que esperava ser de muitos serviços prestados a todos aqueles que necessitassem de suas capacidades. Diante disso foi inevitável conter as lágrimas que desceram por seu rosto.

“Eu consegui, Sr. Onoke” disse para si mesmo pensando no velho pai, que agora estavam separados por quilômetros de distância “Obrigado por acreditar em mim e me apoiar em meu sonho. Espero logo poder visitá-lo e consertarmos os buracos na cerca mais uma vez juntos”

Essa mesma sensação de conquista perpassou o coração de todos e todas ao segurarem suas espadas pela primeira vez. Mesmo para aqueles que conseguiram conter as lágrimas, a vontade de gritar ao mundo a alegria de terem vencido o período de formação foi grande. O Ritual da Espada exigia discrição e serenidade por parte deles, mas muitos demonstraram empolgação segurando firme o cabo da katana ou erguendo a espada para todos verem.

Eram agora samurais Wanabi. E que agora viessem as primeiras missões, pois estavam ansiosos para mostrar o quanto eram guerreiros valorosos, dispostos a darem tudo de si pela honra do clã, em defesa de seu território.

Mal sabiam que suas habilidades seriam testadas muito antes do que imaginavam.